1. Ease

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A primeira coisa que Fernando Navarro ouviu assim que destrancou a enorme porta de madeira com a chave que tinha recebido um dia antes foi o som da sua própria voz.

Nem precisou chegar até a sala para reconhecer que era a sua coletiva de apresentação, ou o final dela, que estampava a tela da enorme televisão, onde o jovem jogador aparecia segurando com vontade a blusa roxa com seu sobrenome e o número '10' gravado na parte das costas, ao lado do presidente do time que apertava seu ombro.

— Você foi tão bem!

Ana correu para abraçá-lo assim que percebeu que o filho mais velho estava na sala, fazendo-o passar as mãos pela cintura da mãe enquanto ela deixava um beijo carinhoso no seu rosto.

— Eu disse a ele — Joaquim, que entrara atrás de Nando na sala, falou, colocando a maleta de negócios em cima da mesa de vidro antes de parar de frente à televisão. — A coletiva foi maravilhosa. O time está empolgadíssimo com ele e podemos dizer que a torcida também. A camisa dez já é a mais vendida da loja.

A fala fez Fernando sorrir timidamente antes de apoiar as duas mãos na cintura e observar sua própria imaginem formada em pixels.

Não sabia se era grande sorte ou puro azar, mas era a primeira vez em vinte e quatro anos de idade que ele participava de uma coletiva de apresentação.

Sua carreira como jogador de futebol começara na equipe de base do Barcelona, e com sete anos ele nem sabia direito o que era uma coletiva que não fosse as que ele dava antes de um jogo importante, quando era escolhido. Só assistia pela televisão seus jogadores favoritos serem entrevistados em idiomas que ele não entendia, respondendo perguntas de jornalistas curiosos.

Até que tinha chegado a vez dele estar do outro lado da mesa. Em um clube novo, com um presidente que só tinha visto duas ou três vezes desde que assinara o contrato, sendo o centro das atenções que ele tanto fugia.

Sabia que, com sua idade, havia jogadores que já tinham passado por mais clubes do que se recordava. Tinha o exemplo dentro de casa com Diego Navarro, seu irmão mais novo, que recebia um pouco menos de atenção que ele mas que já tinha defendido mais times do que poderia contar usando apenas uma mão.

Não ele.

Nando, seu apelido de infância, não gostava de mudanças.

Não que ele usasse o mesmo creme de barbear desde que tinha começado a crescer barba no rosto ou comprasse o mesmo perfume desde que sua mãe parara de fazer isso por ele.

Ele só não gostava de grandes mudanças e tinha plena certeza que sua transferência do famoso Barcelona para o crescente Eintracht München poderia ser enquadrado nessa categoria.

— E o que você achou do clube? — Diego se pronunciou pela primeira vez desde que Fernando e Joaquim tinham entrado na casa, sentado no sofá e virando o rosto para que pudesse encarar o irmão mais velho. — Bom?

— Acho que sim — Nando respondeu, caminhando para se sentar ao lado do irmão. — É um time em crescimento. Essa é a primeira temporada que eles vão participar da Champions League então é uma grande coisa. E a casa, mamãe, o que achou?

Apressou-se para mudar de assunto, já que não achava que estava preparado psicologicamente para discutir as expectativas que estavam em cima do time naquela temporada e, sobretudo, em cima dele.

Ele tinha sido escolhido para ser o novo camisa dez do time alemão.

Era nele que todos os olhares estariam na estreia no campeonato alemão, em menos de uma semana.

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