A Esposa Perfeita |LIVRO 2

Prólogo

Leio e releio as palavras no papel a minha frente mas não consigo fixar nada. Me sinto ansioso, agitado, nervoso, é algo importante demais, responsável demais e não consigo, por mais que tente, me sentir pronto.

Levanto o olhar respirando fundo e encontrando toda uma equipe de pessoas que confiam e apostam em mim, que estão depositando suas esperanças num homem inexperiente e sonhador, é assim que me sinto quando nossos líderes atuais falam de mim de maneira fula, como se não se importassem ou pior, como se eu não fosse e não significasse nada, no fundo eu sei que não é apenas um sonho que me move, é vontade, vontade de ter um país diferente, de viver num mundo diferente onde as pessoas possam ter no mínimo uma igualdade de educação e saúde dignas, que possam viver sem medo e que o preconceito não continue sendo uma das mais altas taxas de homicídios, que possamos viver num país de paz e prosperidade. Quero dar isso a eles, quero dar isso a ela.
Sorrio quando encontro Valerie no meio dos demais instruindo e montando o plano de divulgação. Ela mais que ninguém merece meu esforço, decidiu entregar para mim sua vida e dedicação e não me perguntou como faria, como agiria, quais minhas motivações, ela simplesmente confiou em mim e se juntou nessa loucura que foi casar para ter respaldo, uma visão antiga e preconceituosa que infelizmente tive que nos submeter para poder provar meu valor.

Ela também levanta o olhar e abre um sorriso discreto ao ver que estou lhe sondando, mas logo volta a se concentrar nas atividades, o que faz com que meu sorriso permaneça mais tempo em meu rosto. Ela é, dentre muitas qualidades, uma mulher surpreendente, me fascina observá-la, é algo que não consigo explicar eu só...fico preso em seus movimentos, em suas expressões, em sua boca, e que boca... É uma luta interna para mim ter que acatar seu único desejo, não é fácil, na realidade é bem frustrante, poderia ser tão divertido, prazeroso para nós dois, mas ela tem um lance com a religião, com o próprio Deus que ao mesmo tempo que é irritante também é instigante, ela ora, todas as manhãs bem cedo, e nas poucas vezes que fez isso em voz alta pedia por nós, pela campanha, pelo futuro, por ela mesma e a família, esta sempre estava em suas orações, na realidade eram os primeiros por quem ela pedia, é de uma lealdade sem igual, impressionante como ela toda. Me faz querer agradecer por tê-la em minha vida também.

Sorrio outra vez, tenho feito com muita mais frequência e seu olhar não demora a voltar para o meu, mas dessa vez ela franze as sobrancelhas e depois ergue uma delas sem entender o fato de eu estar a olhando tanto, mas como eu disse, é uma coisa que me prende e eu nem percebo. Ela fala algo com sua sócia e então passa a vir na minha direção, sorrio ainda mais.

- Tendo dificuldade com o discurso? – pergunta parando em minha frente e pondo as mãos na cintura.

- Um pouco – estico a mão pedindo a dela, assim que aceita eu a puxo e a viro fazendo-a sentar de lado em meu colo e imediatamente ela cora.

Talvez na mente dela, quando me fez a proposta descabida de que não levaríamos uma vida de casal ao pé da letra, isso evitaria beijos e carinhos pelos quais me pediu que parasse algumas vezes, e talvez até estivesse nas entre linhas, mas como um bom negociador, as entrelinhas só existem quando eu sou o beneficiado e eu sei que no fundo ela gosta, ou no máximo é meu ego e uma fina esperança de conseguir fazer com que ela mude de ideia.

- Você precisa relaxar um pouco – diz meio desconcertada, sem saber ao certo onde apoiar as mãos, adoro causar isso nela – Não duvido que saiba esse discurso de trás para frente, só precisar limpar a mente.

- Humm – pego uma de suas mãos e coloco em volta do meu pescoço fazendo ela se inclinar mais sobre mim num semi abraço.

- Andrew...- murmura e eu acabo rindo.

- Acho que é você quem precisa relaxar – ela fecha a expressão e me olha séria.

Pego sua outra mão e levo aos meus lábios dando pequenos beijos em seus dedos, um por um, sem pressa alguma.

- O que tem de errado dessa vez?

Fecho os olhos diante da pergunta, gosto disso nela, sempre observadora mesmo fazendo mil coisas ao mesmo tempo.

- Não importa como escreva ou o que escreva, parece sonhador demais – desabafo.

- Você é um sonhador, não pode mudar isso, o que pode fazer é lutar por esses sonhos para que se tornem realidade, como você acha que a humanidade chegou onde está agora? Porque os sonhos perpetuaram nas mentes de grandes pessoas.

- Você parece tão sábia – murmuro e ela revira os olhos – É sério.

Olho dentro de seus olhos, as vezes expressivos, as vezes neutros, lindos olhos.

- Você me ajuda a relaxar sabia? – não é uma mentira.

- E você precisa escolher quem quer como patrocinador, precisa de apoio, não posso fazer meu trabalho se não me der uma posição.

Dessa vez sou eu quem reviro os olhos, ela parece estar sempre trazendo a tona os motivos desse casamento, não me dá uma abertura que seja.

Ela tenta se levantar mas seguro firme sua cintura a envolvendo com meus braços e deixando-a ainda mais inclinada sobre mim.

- Eu não fico apenas sentada decorando um discurso sabia? Estou atolada!

- Sim, eu abuso muito de você. Vou avisar a Juliene para pegar leve e deixar você atuando só como minha esposa.

Ela rir com ironia.

- Agir como sua esposa é a parte mais fácil do meu trabalho – provoca.

É claro que é.

- Neste caso, seja uma boa esposa e dê um beijo no seu lindo marido – finjo um suspiro dramático – Você tem tanta sorte, não sei como aguenta dormir a noite sem tocar nesse corpinho.

Ela gargalha e isso chama a atenção de alguns.

- Da mesma forma que você.

Não mesmo, ter uma mulher, a minha mulher na cama, do meu lado e não poder tocar é uma grande tortura.

Ainda rindo ela me dá seu famoso beijinho de esquimó e se afasta enquanto eu suspiro.

- Não seja um menino mal – zomba de mim.

- Se você fosse boazinha eu não precisaria.

Ela fica séria, pensativa e me animo, ela sempre pesa os prós e contras. É apenas um beijo, ela precisa relaxar e aproveitar mais as oportunidades.

Encaixo minha em sua nuca e a puxo indo também ao seu encontro encaixando nossos lábios, meu corpo só falta dar glória pelo contato, ela também não se intimida, passa os braços em meu pescoço e isso permite que eu aprofunde o beijo enquanto minha mão pressiona firme seu quadril para evitar explorar em lugares indevidos, posso estar como for, mas sempre vou respeitar os limites de Valerie. A beijo com vontade, para que saiba o que faz comigo e o que está perdendo, toco sua língua com a minha e ela geme puxando meus cabelos, nós seriamos incríveis juntos, não tenho a menor dúvida.

Nos separo ainda ofegante, ciente do lugar que nos encontramos e agradecido por estarmos nele, o perigo é quando estamos sozinhos, por isso geralmente invisto em público.

- Acho que agora eu consigo recitar o discurso inteiro, quer ouvir?

- Você não presta – ela fecha os olhos mordendo os lábios e eu sorrio querendo eu mesmo mordê-los.

- Você presta o suficiente por nós dois.

Acaricio seu rosto fazendo-a abrir os olhos e me encarar.

Ela com certeza foi meu melhor investimento nessa campanha até agora, por motivos muito maiores que os óbvios.