◇ CAPÍTULO UM ◇
Enterro — Ela
Horas antes
O DIA AINDA NÃO HAVIA acordado por completo.
Da minha janela eu podia ver parte da deprimente cidade a qual eu me encontrava no momento. Coldwint Town se apresentava nada majestosa com as suas tradicionais nuvens cinzentas que tanto caracterizavam seu clima mórbido e hostil.
Não havia muitas pessoas na rua, nem carros. Logo imaginei ser cedo demais.
Há pouco, havia levantado da cama ainda meio tonta, não lembrava o que tinha acontecido na noite anterior, e pra ser sincera, não lembrava nem como havia parado naquela cama. Principalmente se pudesse considerar o estado deplorável que o meu quarto se encontrava naquele momento, com metade das roupas molhadas e no chão, algumas revistas que minha mãe estocara aqui enquanto estive fora, e alguns livros que ainda não guardara. Isso, sem contar o cheiro acre que envolvia o quarto em uma atmosfera quase infernal.
A minha cabeça começou a latejar, fiquei um pouco tonta.
Cambaleei por entre os livros e roupas sujas e molhadas até o banheiro e simplesmente me joguei sobre a pequena pia, jogando água na minha cara numa vã tentativa de me sentir melhor. A dor de cabeça aumentou quando me atrevi a olhar para o espelho e tentar enxergar o que havia do outro lado.
Meu rosto estava inchado e vermelho. Meus olhos, geralmente castanhos, estavam avermelhados e com olheiras profundas ao seu redor, e meus lábios estavam cortados. Um pouco de sangue podia se ver escorrendo do canto da minha boca. Ao contemplar a pior versão de mim mesma, lembrei o que havia acontecido na noite anterior.
Eu havia bebido.
Olhei novamente para o estado lamentável que eu estava, e senti nojo e pena de mim mesma. Para alguém cujo o passado fora tão maculado por questões relacionadas a esse exato tipo de ação, eu me encontrava num ciclo vicioso do qual não conseguia sair. Estava afundando, e eu tinha consciência disso.
Senti meu estômago embrulhar e o que quer que eu tenha comido ontem caiu no piso branco do banheiro. A cabeça latejou novamente e eu me vi obrigada a jogar mais água no rosto.
Olhei novamente para face do abismo e me perguntei o que me levara até este estado.
Eu estava num poço escuro. Sem luz alguma.
Eu estava perdida.
Enchi minhas mãos com água e lavei novamente o meu rosto, desta vez demorando um pouco mais. Repeti o processo mais três vezes, e quando percebi uma leve melhora, saí do banheiro ainda me apoiando nos móveis em direção a porta do meu quarto, que estava trancada. Fui direto para a cozinha, passando pelo corredor onde no final ficava o quarto da minha mãe. Estava com fome, mas só percebi quando cheguei no balcão. Abri a geladeira e peguei o leite, havia um bilhete na porta da mesma que só percebi quando a fechei.
Minha mãe havia ido a um enterro, por isso não estava em casa. Ela havia deixado o cereal sobre a mesa, então como uma criança de 9 anos, peguei uma tigela e fiz o meu café da manhã.
Ao terminar fui até a sala de estar onde simplesmente me joguei no sofá e observei o vazio da casa. Minha mãe e eu havíamos nos mudado pra lá meses depois do incidente com meu pai. Ficou inviável para nós, morarmos na antiga casa. Em parte por causa dos vizinhos que tinham uma certa curiosidade a respeito do que não cabia a eles. Então a vendemos (com certa dificuldade) e viemos para esta, que apesar de menor, se localizava no centro da cidade (o que, sinceramente, não era lá grande coisa).
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O Apagar das Luzes [DISPONÍVEL NA AMAZON]
RomanceAlana é uma garota que enfrenta problemas com álcool e com o passado que a persegue. Desde nova, deixou que sua vida se tornasse cinza e sem perspectiva alguma. Residindo em Londres, ela consegue ser demitida do seu décimo emprego, e se vê "obrigada...