19. Biblioteca ◇ Ele

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◇ CAPÍTULO DEZENOVE ◇

Biblioteca — Ele

— EU NÃO AGUENTO MAIS! — Foi a primeira frase de Alana frente ao horror que estava sendo ver o amigo chorar e agonizar daquela forma.

Sua face, ao observá-lo, era a mesma de alguém que não está satisfeito com a aparência, ao olhar para o espelho. Enquanto isso, o que havia ao redor dela era indecifrável, sua áurea era quase como uma grande interrogação, e o constante turbilhão de sensações que geralmente a envolvia, estava em seu ápice.

Após alguns minutos onde a minha presença era dispensável e Alana apenas xingava mentalmente o amigo (geralmente murmurando algo mais pesado a cada dois minutos), eu a alertei sobre a possibilidade dele vomitar pela terceira vez, e ela logo se preveniu com um balde que geralmente ela usava (ou deveria) para o mesmo propósito.

— Minha mãe não gosta de mim... ela nunca gostou... — Carl murmurou, sem nexo.

Alana parecia entender, pois o abraçou e deitou sua cabeça em seu colo. Carl estava deitado em sua cama.

— Tá tudo bem... tá tudo bem... Ela só é difícil de lidar — disse ela, olhando para o balde que refletia parte de seu rosto. Caminhei lentamente ao redor dela, e perguntei sobre a mãe dele. Falei a última palavra e ele se jogou para a frente para acertar o que fosse sair da sua boca dentro do balde; ele não conseguiu e o líquido transparente esbranquiçado caiu sobre os pés de Alana.

— Eu vou matar alguém esta noite! — Alana murmurou.

— Não tá tudo bem! — disse Carl. — Você sabe que ela me odeia, meu pai ainda tenta, mas ela me odeia, a Nanda falou isso ontem. — Lágrimas desciam do seu rosto e se depositavam na barra da saia de Alana.

— A mãe dele não fala mais com ele, desde que ele assumiu que já havia ficado com garotos. — Alana falou enquanto acariciava seus cabelos. Era estranho e até um pouco incomodante ver aquele cara tão grande estar caído e aos prantos, enquanto deitava na cama de Alana. — O pai dele é o único que ainda mantém o contato.

— Quem é a Nanda? — Novamente perguntei.

— O mesmo nome da sua mãe... Na verdade, ela é uma garota da cidade dele. Uma menina que ele namorou durante um tempo. Ela conhece a família dele e deve ter falado alguma coisa.

— Entendi — disse, e ela voltou sua atenção integral ao amigo.

Eu não poderia imaginar que Carl tinha algo tão conflituoso dentro dele. Desde o início, ele demonstrou ser alguém muito divertido e enfático, porém, guardava tristeza e gatilhos que eram suficientemente fortes para deixa-lo naquelas condições.

Caminhei para a janela, e observei o pouquinho de neve que ainda caía.

Por um momento pensei em como estaria a minha mãe, e desejei estar ao seu lado para que pudesse cuidar dela da mesma forma que Alana cuidava de Carl. A silhueta de ambos se tornava visível pelo reflexo na janela, e eu podia ver o quão carinhosa e paciente Alana estava sendo. Percebi que eu queria estar ali, vivo, e sentir algo como o carinho de Alana. Sentir o carinho de Alana.

Talvez o seu amigo não estivesse tão errado, afinal.

Quando Carl finalmente dormiu, Alana aproveitou para limpar a bagunça que o amigo havia causado.

Com uma escova, um tecido úmido com algo verde que eu não identifiquei o que era, e um balde com água, ela começava a limpar o carpete. Eu a observava durante o trabalho quando ela parou de repente, olhou para mim, e saiu desesperada do quarto.

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