◇ CAPÍTULO SEIS ◇
Sentido — Ele
EU SÓ CONSEGUI SAIR daquele cais quando Alana já estava longe. Não consegui seguir ela, e eu não sabia o porquê.
Permaneci lá enquanto observava a natureza ao meu redor. Era algo realmente interessante para se notar, tudo era tão cheio de vida. Mesmo com as cores cinzas, mesmo com a morbidez habitual... o vento ao passar pelas folhas perenes dos pinheiros dava um toque leve e especial. Os poucos pássaros que cantavam eram os instrumentos daquela sinfonia orquestrada tão perfeitamente. pela natureza.
Talvez morrer proporcionasse a oportunidade de enxergar o que mais nós tínhamos e não percebíamos o quão importante era.
A vida.
Me levantei em um salto e caminhei lentamente sobre a estrutura de madeira, que pouco caso fazia de mim. A minha presença não causaria interferência alguma em sua estrutura, ao menos não como antes.
◇◇◇
Segui pelo caminho que serpenteava de volta à cidade. E enquanto caminhava, pensei na minha insignificância naquele momento. Embora alguns falem que para existir basta pensar, agora eu tinha uma concepção diferente, pois só "pensar" não me assegurava estar ali. Para existir basta alguém notar sua existência, e a única que podia me ver não poderia me ajudar.
Ninguém me vê, logo, não existo.
Minha mãe entrou na minha consciência assim que saí do caminho de pedras. Ela precisava da minha ajuda, eu sabia disso, era a única coisa que eu queria além de descobrir o que havia acontecido na noite do acidente.
"Que menino louco!" Ouvi umas senhoras comentarem após a cerimônia. "O carro nem era dele... você viu como a mãe dele estava? Deve ser culpa."
Eu queria saber o que havia acontecido. Eu precisava.
"Não acredito que ela fez isso..." uma voz conhecida falou ao meu lado quando entrei pela rua do café do Sr. Harul. Quando olhei para a porta, uma preocupada Sra. Adbal estava coçando os braços enquanto ouvia o discurso do dono da cafeteria.
— Uma antiga vizinha sua, eu a ouvi falando nisso estava aqui. Ela falou que "ia crescer igual a mãe" — falou o Sr. Harul coçando a nuca.
— O que o senhor quer dizer com isso?
— Sua filha é problemática, desde...
Mas a Sra. Adbal o interrompeu antes que terminasse. Ela parecia irritada. Algo de repente se tornara cinza e tenso dentro e fora dela. Com o tom de voz sério, ela agradeceu pelo aviso e por ter conseguido convencer o Cody a não chamar a polícia.
Sem esperar mais nada, agarrou forte a bolsa que estava em seu ombro e seguiu até um ponto de táxi. Eu observei a papelada que ela exibia nos braços, ela devia estar indo para a empresa.
Eu a segui o mais rápido que pude para entrar dentro do carro dela, e a acompanhar para a empresa. Com sorte, poderia acompanhar Bruce e veria a minha mãe.
◇◇◇
O escritório da CW se localizava às margens do lago Sea Shadows, e estava dentro de um pequeno e feioso prédio cinzento, onde havia estresse demais e janelas de menos.
Logo quando a Sra. Adbal entrou, percebi que o ambiente estava de certa forma pesado. Bem diferente do que o café exibia. Era como se o torpor da cidade fosse intensificado pelo menos umas 3 vezes mais.
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O Apagar das Luzes [DISPONÍVEL NA AMAZON]
RomanceAlana é uma garota que enfrenta problemas com álcool e com o passado que a persegue. Desde nova, deixou que sua vida se tornasse cinza e sem perspectiva alguma. Residindo em Londres, ela consegue ser demitida do seu décimo emprego, e se vê "obrigada...