8. Juro ◇ Ele

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◇ CAPÍTULO OITO ◇

Juro — Ele

— ESTÁ ACORDADA?

A Sra. Adbal perguntou para a filha assim que a mesma deixou que uma pequena fresta dos seus olhos emoldurados pelas intensas olheiras denunciasse que estava acordada.

Estávamos no quarto de Alana, que agora, estava limpo e incrivelmente organizado. Todas as revistas e livros estavam em seus devidos lugares (pequenos nichos na parede), e as roupas, antes molhadas e sujas, haviam sido levadas para a lavanderia pela sua mãe logo mais cedo. A Sra. Adbal ainda havia feito uma grande limpeza no chão, usando uma cominação de vários produtos de limpeza pois segundo ela, em alguns lugares havia cheiro de vômito e comida estragada.

Mas dentre todos esses detalhes do pequeno e pesado quarto de Alana, o que mais chamara a atenção e fúria da Sra. Adbal havia sido o cheiro incessante de álcool.

Enquanto a dona do quarto dormia, a Sra. Adbal procurou pela fonte do cheiro forte, pois, assim comentava a cada vez que revirava uma gaveta ou até o local onde teoricamente Alana deveria jogar o lixo do quarto.

Devo admitir que ver aquela mulher chorar, depois de tanto tempo a observando trabalhar, foi como um soco que eu julguei ser impossível de levar. Neste momento em específico, ela parou tudo, e sem emitir algum som, as lágrimas descerem como fios prateados de tristeza. E em poucos segundos, o quarto se tornou em uma aquarela de azul melancólico e um vermelho de ira, que emanava daquela triste e enraivecida mulher.

Não demorou muito tempo, assim achei, e ela se recompôs. Ajeitou seus cabelos já com alguns fios grisalhos num coque, enxugou as lágrimas que ainda enxambravam seu rosto, e terminou a grande arrumação que havia iniciado no quarto da filha.

— Não se faça de cínica. Sei que está me ouvindo. Sei o que fez na cafeteria, e sei o que aconteceu em Londres.

Instintivamente Alana se sentou na cama, desta vez, com uma expressão assustada. Ela olhou para a mãe que estava sentada em uma pequena cadeira do outro lado do quarto com culpa, e fez sinal de que iria falar algo, mas tão rápido quanto se levantou ela se calou. Estava muda.

— Alana... você não é nenhuma garotinha ingênua. Sinceramente eu... — Ela cobriu o rosto com as duas mãos; olhou para o teto como se tentasse segurar as lágrimas que eu sabia que iriam rolar a qualquer momento.

Depois levantou da cadeira, estava derrotada e era por ela mesma. Alguma coisa havia impedido a mulher de continuar.

Quando teve antes de sair do quarto, Alana finalmente falou. Perguntou como ela sabia de Londres.

— Um homem chamado Carl, ligou para saber como você estava. Falou que a Alicia está bem e, contou tudo o que aconteceu em Londres. — Ela parou um pouco e olhou para a própria mão que agora estava na maçaneta da porta. — Você sabe, Alana, o que a bebida fez com a nossa família e comigo... com você também. Você sabe o quão difícil foi para mim, inclusive eu percebi que você não deveria falar muito sobre mim, afinal ele se referia a mim como "Sra. Adbal"... depois de tudo o que aconteceu. Você... não pode... — mas ela parou de falar. Percebi o porquê quando a mulher deixou um soluço quase silencioso cortar o ambiente, um certo medo havia em sua voz, medo do futuro, imaginei. Sem demorar muito, fechou a porta do quarto de Alana com um baque, deixando a garota sozinha.

Alana demorou muito até falar alguma coisa, o que só aconteceu quando ela percebeu a minha presença ao lado da cabeceira da sua cama. Desta vez, a garota não exibiu a expressão assustada de sempre, apenas uma estranha indiferença.

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