14. Invasão ◇ Ela

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◇ CAPÍTULO CATORZE ◇

Invasão - Ela

DOIS DIAS SE PASSARAM depois que Cody apareceu em minha casa me questionando sobre as minhas reais intensões nas recentes idas à Zona Norte. E como ele havia conseguido me colocar em "xeque", para seguir com os planos (ainda inexistentes) de ajuda à mãe de Vance, tive que usar uma antiga e ridícula tática usada por minha mãe há alguns anos.

No sábado pela manhã, peguei parte do dinheiro que havia sobrado de Londres (que não era muito), e fui até uma loja de fantasia da cidade que ficava na mesma rua da praça principal. A neve cobria parte do caminho, e tive que tomar cuidado para não escorregar nas calçadas escorregadias que insistiam em tentar me derrubar. A rua era larga, e mesmo com a nevasca da noite anterior, já estava sem neve. Era lá onde também ficavam a prefeitura e a pequena igreja do Santo Deus Misericordioso, onde por sinal, um provável pequeno coral de crianças ensaiava músicas natalinas, tendo em vista que podia-se ouvir as vozes ecoantes e penetrantes saindo pelos vitrais coloridos.

- Eu adorava os corais de Natal, eram a melhor coisa da época aqui da cidade. - Vance me relatou enquanto atravessávamos a rua. Olhei de relance para ele e concordei com a cabeça.

- Eu gosto... me deixa calma e menos propensa a me irritar com as pessoas.

- Isso é uma boa - disse ele rindo e eu ensaiei um sorriso de volta. - Realmente. Ultimamente, você está mais calma.

- Isso se encerra hoje, entidade. Meu vinho acabou.

- Você é terrível, milady!

- Eu agradeço, milorde!

Cheguei à pequena loja e observei o tradicional e grande papai-noel que eles colocavam na frente do estabelecimento, durante o mês de dezembro. Ele já dizia um "Ho-ho-ho!" tão rouco quando fumantes de carreira, e balançava um sino no alto de sua cabeça.

Empurrei a porta de vidro, e um pequeno sino tocou no alto anunciando minha entrada. Uma senhorinha corpulenta que eu só conhecia como Diana apareceu no balcão com grandes olhos aumentados por seus óculos de lentes grossas. Continuei até a sessão das perucas onde analisei algumas das mais ridículas versões que eu iria assumir em determinado tempo.

- O que você acha dessa? - perguntei a Vance, apontando para uma peruca que se parecia muito com o cabelo da representação da Ariel nos parques da Disney.

- Não. Espera... não é somente escolher uma aleatória para você não ser reconhecida?

- Óbvio que não. Preciso estar deslumbrante e irreconhecível.

- Você nem liga para isso...

- Claro que ligo. Essa? - Dessa vez era uma peruca loira em estilo Chanel, experimentei ela, mas logo retirei, pois havia achado uma maior e na mesma coloração que serviria para esconder minhas características físicas.

Só percebi que a senhorinha me olhava atravessado quando finalmente escolhi a peruca e me encaminhei para o balcão.

- Com quem você estava conversando? - ela perguntou.

- Com um espírito que há quase duas semanas está me perseguindo. - Ela arregalou os olhos e Vance me repreendeu com o olhar quando eu sorri de maneira cínica para ela.

◇◇◇

Como o próprio Vance havia me relatado, seu padrasto não estava mais indo para a empresa, e permanecia em casa durante todo o dia. Isso acabou adiando qualquer plano de resgate que estivesse a ser planejado. E eu ainda não estava contando com uma questão ainda mais preocupante, que era a minha inevitável aproximação com os Wincle, e uma possível retaliação devido minhas últimas ações contra alguns membros desta família (leia-se Cody).

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