5. Café ◇ Ele

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◇ CAPÍTULO CINCO ◇

Café — Ele

ALANA CAMINHAVA FRENETICAMENTE PELA rua não tão movimentada do centro de Coldwint. Ela gritou com três crianças que ousaram permanecer em seu caminho (— SAIAM DAQUI, DEMÔNIOS!), e com um mendigo que provavelmente ela já o conhecia, pois mostrou o dedo do meio antes que ele fizesse qualquer coisa.

Eu a acompanhava na maratona até o lugar onde ela encontraria cigarros, e provavelmente compraria seu estoque pessoal para emergências.

— Se você quer ficar na minha cola feito carrapato. Poderia dizer o que quer? — disse Alana, de repente.

Sua fala foi uma surpresa. Olhei para ela, estava com o gorro vermelho que eu a havia visto durante o enterro, e uma jaqueta de couro preta combinando com um jeans surrado. Seus cabelos marrons e encaracolados saiam do gorro como se fugissem da intensidade anormal que ela emanava. Isso era algo que agora podia estranhamente "ver", desde quando tudo acabou (ou começou...); eu comecei a ver coisas antes invisíveis. Podia saber o peso que alguém carregava, na verdade, eu podia sentir isso, de uma forma muito estranha e às vezes angustiante. Alana emanava algo intenso, uma força fria e quente, desespero azul, pois não conseguia definir de outra forma. Alana era alguém que precisava ser decifrada, como um enigma. Um poço de extremidades.

Enquanto a observava, pensei no meu padrasto e na minha mãe. Durante a cerimônia, antes de perceber Alana, ela parecia confusa e arruinada, como uma alma cinza e quebrada. Essa foi a única expressão que consegui achar para descrever a mulher mais importante para mim. Uma alma quebrada, mas que eu queria consertar. Quanto ao meu padrasto, pensei em que tipo de áurea ele poderia mostrar, já que ele era o pior tipo de pessoa que poderia existir.

— Eu preciso de ajuda! Preciso descobrir o que aconteceu no dia em que eu... você sabe!

— Então minha vida realmente se transformou num roteiro clichê de filme de terror. Em que momento você vai se transformar em um demônio e me matar?

— Eu não... entendi.

— O que você quer saber? Pode ser mais específico? — ela disse e continuou andando, estávamos agora na praça principal da cidade. Algumas pessoas curiosas olhavam em sua direção, mas ela não parecia se importar, e ainda me encarava.

— Eu quero descobrir o porquê que minha mãe acha que é culpa dela. E a razão pra eu ter ficado. Acho que não era isso que deveria acontecer.

Ela parou por um momento.

Olhou para mim. Seus olhos mostrando uma mistura de fúria e medo.

— Com toda certeza deste mundo lindo e idiota... não! Não era pra você estar aqui. — E atravessou a rua, indo ao café do Sr. Harul. Este era o mesmo café que eu mesmo frequentava há alguns anos.

Quando ela entrou, a pequena sineta tocou. E eu pude divisar melhor o lugar.

Quando adolescente, este era um dos poucos lugares que vinha na cidade, pois ele conseguia ser o exato oposto dela. Era quente e aconchegante. E tinha paredes revestidas com papéis de parede de cores quentes e fortes. Essa mesma decoração era mantida até a atualidade, onde a mistura intensa de amarelo, marrom, e os leves tons de vermelho deixavam o lugar extremamente convidativo. Mesmo que não pudesse sentir o calor do local, eu podia sentir sua atmosfera. Ao canto da parede, havia uma extensa parede com vários retratos de várias épocas diferentes de Coldwint, desde a sua formação em vilarejo, até a atualidade. Ao fundo, as cores azul, branco e vermelho da bandeira do Reino Unido, completavam a decoração com registros do pai do Sr. Harul, que lutara na Segunda Grande Guerra contra a Alemanha.

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