4. Ajuda ◇ Ela

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◇ CAPÍTULO QUATRO ◇

Ajuda — Ela

ACORDEI SUADA.

Por um momento, não sabia onde estava até me dar conta que eu havia dormido no chão do meu quarto. Colada à porta. Pronta para fugir, pelo menos foi isso que me passou pela mente. Eu deveria ter passado do ponto com a bebida de novo, pois tinha vagas lembranças de conversar com mortos, o que só poderia ser coisa de alguém cujo teor de álcool estava muito alto no sangue (Olá, eu mesma!).

Levantei cambaleante e sem sair do lugar onde estava, olhei através da janela que mostrava uma sombria silhueta de cidade de filme de terror. Ou seja, Coldwint.

Comandada pelo cansaço, me joguei de forma brusca sobre a cama, e enquanto o mundo ao meu redor girava, eu me concentrei em voltar a dormir, pois minha cabeça doía sem cessar.

Logo, o sr. Sandman me trouxe novos sonhos.

Ou quem sabe... pesadelos.

◇◇◇

— Por que você estava gritando ontem? — foi a primeira coisa que a minha mãe perguntou quando eu saí do quarto. Ela estava de camisola e seus cabelos estavam desgrenhados em uma espécie de coque mal feito, mas ainda sim bem "vivo", o exato contrário dos seus cabelos, era a própria Barbara, que ainda parecia estar com sono.

— Não sei do que você está falando — disse em um falso tom de verdade.

— Sabe sim! Alana, você me aparece depois de tanto tempo fora chorando, se tranca dentro do quarto, passa três dias trancada. Depois aparece no cemitério, desmaia; quando chega em casa começa a gritar de forma desesperada, tranca a porta do quarto, e eu não a vejo mais. Eu sei que tem alguma coisa acontecendo, então é melhor me falar o quanto antes... — Ela estava esperando uma resposta minha, mas eu não iria poder satisfazer sua vontade. Minha mãe sempre era assim, pelo menos depois do incidente com meu pai. Ela relevava muitas das minhas mancadas, mesmo que no início se mostrasse "preocupada"; isso acabou tirando boa parte de sua participação em minha vida enquanto eu era mais nova.

Contar para minha mãe que eu havia bebido tanto a ponto de começar a ver pessoas mortas provavelmente iria deixar ela a um passo de me estrangular com o fio que utilizava para carregar o celular. Minha mãe tinha pavor, e com razão, de bebidas. Pavor que eu deveria ter aprendido, mas que na contramão do bom senso, e seguindo a trilha do papai Adbal, eu simplesmente não tinha.

Não queria falar nada, então para economizar paciência, resolvi falar a mais absoluta verdade daquele momento:

— Estou com fome! — pensar no meu pai realmente me trazia mal-estar, que só era curado com álcool ou bastante comida.

E passei por ela indo em direção a escada que descia até a sala de estar, pouco depois da entrada da casa.

Olhei para a janela que exibia a típica coloração da manhã de Coldwint, meio cinzenta com leves tons de amarelo.

Estava no antepenúltimo degrau quando um vulto de um jovem fantasma-entidade apareceu na porta de entrada da casa.

Eu não vi onde estava pisando, e meu pé passou direto para o piso de madeira e carpete velho; quando percebi estava com a cara no chão.

— MERDA! — gritei um pouco alto demais.

— O que aconteceu? — minha mãe apareceu no topo.

— Nada mãe, eu só... escorreguei — falei olhando para ela, mas sem querer olhar para a porta da frente pois a coragem não permitia. Quando finalmente ela veio, não havia ninguém na porta. — Eu estou ficando maluca. Só poder ser isso — disse a mim mesma.

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