Epílogo

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*Recomendo dar play na mídia durante a leitura da parte final de O APAGAR DAS LUZES

◇ EPÍLOGO ◇

Cinco anos depois

O CENTRO DA CIDADE estava recheado de cores quentes. O outono havia chegado trazendo uma nova cara para Coldwint que abandonava por um curtíssimo período de tempo o seu tradicional cinza mórbido, e adotava um clima mais aconchegante e terno.

Uma brisa de calor soprava enquanto Alana Adbal atravessava a rua em direção ao cemitério municipal. Sua expressão era de normalidade, embora exibisse um pequeno sorriso nervos ao entrar pelos portões de ferro oxidado, e lembrar de que um dia, uma rosa branca fora roubada por uma senhora de meia idade.

Ela observou toda a extensão do ambiente. Os grandes carvalhos exibiam sua imponência enquanto o vento passava por eles fazendo as poucas folhas que ainda se mantinham resistentes caírem lentamente em direção ao gramado recém aparado. Em uma das mãos, a garota carregava uma bela flor branca que gostava muito, enquanto que a outra tirava uma mexa do seu cabelo, que agora formava uma franja em seu rosto. A garota sabia que havia se passado cerca de cinco anos desde que uma entidade a seguiu durante tempo o suficiente para mudar sua vida. Nem que fosse por pequenos instantes, com consequências para a eternidade.

Com certa dificuldade, ela então começou a serpentear por entre os centenários túmulos e os gigantescos carvalhos. Uma pedra de cor branca marcava o local exato que ela procurava. A lápide de Vance Lotus era diferente das demais, e de certa forma, se destacava. Pelo menos era assim que Alana achava.

— Olá! — cumprimentou o ar. Ela sabia disso, mas achava que deveria saudá-lo de alguma maneira, e fazia questão de fazer todas as vezes que visitava seu túmulo.

A garota então se ajoelhou, e com cuidado, depositou a rosa branca à frente da lápide branca marcada com o nome dele:

VANCE H. LOTUS

1993 — 2015

"Porque a vida é como uma luz, que deve brilhar intensamente, antes que se apague."

— Entidade... — falou olhando para a flor. — Tão típico!

◇◇◇

Após sair do cemitério, Alana caminhou até o lugar que mais gostava na cidade. Embora não morasse lá há cinco anos, fazia questão de visitar a cidade anualmente durante o outono e depositava uma rosa branca no túmulo dele. Após toda cerimônia, fazia questão de ir até a cafeteria do Sr. Harul, e enquanto observava parte do lago Sea Shadows, aproveitava para saber das novidades de Coldwint.

Ela soube quando Nanda Norant morreu há cerca de três anos atrás, dois anos após o encontro das duas. Sentiu de certa forma um alívio que não poderia exprimir quando soube do ocorrido, afinal, ela sabia que aquele momento era mais que esperado. Cerca de um ano atrás, ficara sabendo que consumido por dívidas e processos judiciais, além do que muitos chamavam de remorso, Bruce Norant acabara saindo da cidade após vender a empresa da família para investidores brasileiros que queriam expandir seus negócios. Ele ainda respondia pelos maus tratos causados à esposa, e que foram denunciados pela irmã da mulher, com as fotos que ela mesma havia tirado há tempo atrás. Inclusive, ela soubera tempos mais tarde, que o acordo que sua própria mãe tinha com o homem envolvia a família do pai dela, e algumas histórias sobre "acidentes". Chantagem, era a palavra.

E citando acidentes, infelizmente não poderia incluir na conta do desgraçado o "acidente" de Vance, mas a própria vida havia arranjado suas formas de pôr um fim, mesmo que simbólico, no homem que destruiu tantos sonhos.

Naquele ano não havia nada que importasse a ela. Apenas Cody, que havia casado com alguém que ela não fazia muita questão de tentar lembrar. A cidade que tanto amaldiçoou estava seguindo seu curso cinza e friamente melancólico. Às vezes, com respingos de uma esperança quente e aconchegante e de cor laranja.

— Obrigado! — falou para o atendente quando o mesmo trouxe seu café. Um cara com rosto vermelho apareceu carregando uma planta nos braços na calçada lá fora, em sua mente, memórias surgiram e ela sorriu.

Alana observou-o sair de vista, e com um pequeno movimento de uma das mãos retirou uma mecha do seu cabelo do rosto. Sorriu para o Sr. Harul que acenava para ela, e se acomodou um pouco mais na cadeira felpuda e vermelha, enquanto sentia o cheiro aconchegante do café.

Alana Adbal, na verdade, estava feliz. Era isso. E saber que estava feliz era a melhor coisa do mundo. Claro, momentos tristes perpassavam sua mente periodicamente, mas nessas vezes, ela sabia contornar a tempestade.

Um garoto em morte havia trazido luz para sua vida. E nesse encontro de extremos, com ações tão improváveis quanto a própria vida.

Ela estava em paz.

Fim.

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