◇ CAPÍTULO QUINZE ◇
Documentos - Ela
A COZINHA DOS NORANT deveria ter basicamente o tamanho do andar inferior da minha casa. Com uma ilha central em mármore, e móveis cinzas (quase tão cinza quanto o meu humor), a cozinha era apropriada para tudo o que poderíamos pensar, desde patinação artística a partidas de futebol.
Como Vance me recomendou, não iria ficar muito tempo no cômodo, mas ao observar que havia uma garrafa de vodca sobre a pia, corri silenciosamente até ela e a guardei por baixo do suéter.
- O que é isso, Alana? - Vance perguntou quase cochichando, como se alguém pudesse ouvi-lo.
- Não me questione, eu estou nervosa - disse, colocando o dedo polegar no pulso.
- O Bruce, vai perceber. Coloca isso lá! - ele disse, ainda mais baixinho.
- Você sabe que só eu posso te ouvir, certo? - cochichei de volta.
- Não muda de assunto!
- Mas é uma Magnum Grey...
- Coloca isso lá.
Devolvi a garrafa a contragosto e prossegui até chegar à sala. Novamente, a notável falta de cuidados que era possível ver na área externa da casa, se mostrava ainda mais intensa dentro daquele cômodo. Como Vance mesmo havia relatado, uma expeça camada de areia cobria boa parte dos móveis, e várias cortinas encardidas estavam dançando de acordo com as brisas que entravam pelas pequenas frestas das janelas.
- Onde sua mãe está? - perguntei, e logo ele mesmo apontou para uma escada em mármore que levava aos andares superiores.
A casa dos Norant, se mostrava cada vez maior e cada vez mais vazia. Mesmo que eu não fosse o melhor exemplo para falar sobre ambientes com ou sem vida, (afinal o meu quarto era a mais perfeita representação da periferia do Hades), tudo ali era deprimente e extremamente cansativo de olhar e estar. Aquele ambiente mais parecia uma mansão que havia sido abandonada há anos.
No final da escada, percebi uma foto enorme do que seria Nanda e o Bruce Norant. Ambos exibiam sorrisos gigantescos em um quadro com moldura emadeirada e vermelha. A mulher era morena e com olhos verdes penetrantes e um queixo fino não se parecia em quase nada com Vance, a não ser pelo sorriso, cujas covinhas eram idênticas. Lembrei instantaneamente do sorriso da entidade, que já caminhava pelo corredor principal da casa, era grande e bonito.
Ele me chamou atenção acenando, e eu o segui.
Caminhei depressa e tropecei em uma pilha de livros que estava no carpete vermelho.
- Não faz barulho! - Vance disse quando chegou a uma das portas. - Eu vou entrar e ver como ela está. Então eu te chamo, okay? - Confirmei com a cabeça e ele assim o fez, atravessando a porta. Aproximei o ouvido próximo a mesma porta que ele havia entrado para tentar ouvir qualquer barulho lá dentro, quando percebi uma outra porta entreaberta de onde saía uma luz alaranjada. Caminhei de fininho até a luz, e olhei pela fresta; parecia ser um escritório, pois, havia uma mesa central com um computador fechado sobre ela.
Empurrei a porta de leve. Era um ambiente espaçoso e confortável. De um lado, rente a uma chapeleira de ferro (isso me trazia péssimas lembranças), haviam dois luxuosos sofás de couro preto e sobre um deles, uma obra surrealista que poderia ser uma mistura de um homem com um ser mitológico grego com chifres.
O ambiente em si era bem diferente do resto casa. Havia uma lareira própria próximo a janela, e sobre o seu console, porta-retratos de Bruce em viagens internacionais à França e à América, ao menos foi isso que pude perceber. As paredes eram repletas de pequenos quadros com outras viagens, algumas delas com a própria Nanda, mas a maioria sozinho. Atrás da mesa do escritório, e de uma cadeira (que provavelmente seria do mesmo couro do sofá), havia uma prateleira de livros que poderia ir do piso ao teto e que dava um charme ao lugar.
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O Apagar das Luzes [DISPONÍVEL NA AMAZON]
Любовные романыAlana é uma garota que enfrenta problemas com álcool e com o passado que a persegue. Desde nova, deixou que sua vida se tornasse cinza e sem perspectiva alguma. Residindo em Londres, ela consegue ser demitida do seu décimo emprego, e se vê "obrigada...