11. Anestesia ◇ Ela

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◇ CAPÍTULO ONZE ◇

Anestesia - Ela

Já haviam passados alguns minutos desde que ele havia saído da casa de sua mãe desesperado, e com uma expressão que exibia o extrato mais puro da agonia. Ele, Vance, estava desesperado para gritar e chorar, principalmente chorar. Mas nas condições daquele momento, a única coisa que poderia fazer era olhar para mim e com sua imensidão de tristeza, lamentar.

Nem seus gritos eram fortes suficiente para exprimir o que ele sentia, e vide o histórico do padrasto dele, eu já imaginava o que poderia ser.

E como eu sabia.

- Preciso ir para o lago, por favor! - ele pediu depois de um tempo caminhando pelas ruas desertas da Zona Norte. Estava com medo de que alguém dos Wincle me visse, mas não o deixei sozinho.

Eu entendia aquilo, ele precisava sumir. Embora ele mesmo estivesse invisível para a cidade, e aquela rua, naquele bairro de gente metida a besta estivesse basicamente vazia.

Eu caminhei com ele até a rua de entrada da Zona Norte, seu limite era demarcado por um pequeno bar ao qual eu gostava muito de frequentar (embora ele fosse muito caro). Fui até o fantasma, ele estava à minha frente, e perguntei novamente o que havia acontecido. Mas em troca, recebi a resposta em formas de acenos com a cabeça, acenos negativos.

Ele saiu da pista principal que dava acesso ao resto da cidade, e desceu a pequena ribanceira indo para à margem do lago Sea Shadows, e lá, sentou-se numa pedra e passou a olhar para o alto, as Montanhas Lootust, que estavam terrivelmente escondidas pelas maciças nuvens nevadas. Enquanto observava o espírito dele, imaginava o que estava acontecendo dentro dele, e se tudo aquilo era real, ou simples coisas da minha mente.

Eu ainda tinha minhas dúvidas, mesmo depois de tudo o que ele havia feito por mim. Como me salvar da morte durante a ano. O que era estranho e singular, era como a morte salvar a vida. Um morto livrar um vivo da morte. Um verdadeiro encontro de extremos.

Caminhei lentamente até o limite da estrada, e o observei.

Sem muita demora, ele gritou o mais alto que pode, e embora aquele grito ecoasse pelas montanhas que rodeavam a cidade, apenas eu podia ouvir ele. Observei o meio-fio da pista, afastei um pouco da neve sentei, observando às lamentações secretas de Lotus e enquanto mais neve começava a cair da imensidão branca no céu.

Meu celular vibrou em certo ponto da caminhada de volta para a parte pobre da cidade. Enquanto fui ver o que era, Vance caminhava à minha frente sem falar muito. Devido a neve que voltava a cair, nós havíamos ficado quase uma hora esperando o ônibus sem ele aparecer, sim, eu já estava estressada, e o silêncio ininterrupto de Vance Lotus não ajudava em nada a minha calma inexistente.

Tirei meu celular do bolso do meu casaco, e vi a mensagem da minha mãe brilhar na tela.

Mãe: Onde você está?

Comecei a digitar uma desculpa nada elaborada quando a segunda mensagem de texto chegou.

Mãe: Eu não vou suportar isso...

Mãe: Eu não quero saber de bebida aqui dentro.

Mãe: Seja lá qual for o inferno que você esteja, eu quero você aqui agora.

Pensei no que responder. Mas o que vinha à minha mente eram ideias idiotas o suficiente para apenas causar raiva a ela.

Eu: Resolvi andar um pouco. Já estou indo.

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