CAPÍTULO 34

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Autora:Gláucia Galvão

CAPÍTULO 34

- O coração dele não está aguentando, a qualquer momento pode infartar novamente. Estamos aguardando vaga para subir ele pra UTI.
O cardiologista me explicou a situação, ele já teve dois infartos hoje, mas não perdeu a consciência em nenhum deles, a situação é grave.
Entro no quarto, ele está com máscara de óxigênio, eletrodos no peito e tomando soro. Seu rosto está sereno, me transmite paz, nunca vi ele assim antes nesses oito anos que estamos juntos.
Quando me aproximo ele tira a máscara e segura minha mão:
- Pequena, você veio - ele diz sorrindo com voz tranquila.
- Claro que eu vim amor, como iria te deixar aqui?
A enfermeira entra:
Já estão preparando sua vaga na UTI Dr Sérgio, daqui a pouco vamos subir.
- Você vai ficar aqui ainda?- ele me pergunta com o olhar brilhando.
- Claro que vou, vou ficar sempre com você já te falei várias vezes.
Ele tira a aliança e me entrega, pois não pode ir pra UTI com ela. Eu coloco no meu dedo, junto com a minha aliança mesmo sendo maior, pois pra mim é uma forma de sentir ele perto.
- Você vai ficar comigo até o fim?
Sinto um nó na garganta.
- Vou ficar com você até o fim.
Ele beija minha mão, depois coloca a mão no próprio peito:
- Estou com dor aqui...quero muito dormir mas não consigo.
A enfermeira fala olhando pra mim:
- Ele está com dor por causa dos infartos, eu vou pedir pro doutor passar outro diazepan pra ver se ele consegue relaxar e dormir um pouco, já volto.
Saiu e fechou a porta. O Sérgio vira de lado:
- Eu vou tentar dormir um pouco, me cobre estou com frio.
Estiquei o cobertor em cima dele, agora estou bem próxima olhando pra ele que tenta dormir.
- Pequena- ele abre os olhos- cobre meus pés, eles ficaram de fora.
Enquanto estou arrumando o cobertor nos seus pés ele faz um ruído feio, eu me apavoro e sacudo ele.
- Sérgio! Sérgio!
Os aparelhos estão disparados, entram várias enfermeiras e não sei como mas já estou do lado de fora da sala, batendo na porta que está trancada por dentro.
Perdi minha audição, enxergo tudo mas nada tem som. Eu devo ter gritado e chorado, porque tem muitas pessoas em cima de mim e suas bocas se movem, como se estivessem falando algo pra mim, mas não escuto nada. Encosto minha cabeça na porta da sala, e através da fresta posso ver enfermeiras andando, vejo somente os pés dele, que estão pulando na maca. Com certeza estão fazendo massagem cardíaca nele.
Eu me afasto e sento numa cadeira em frente, não sei quanto tempo passa até que chegam dois enfermeiros com um aparelho desfibrilador e entram rapidamente na sala. Naquele momento tive certeza que ele já tinha partido e minha audição voltou.
Depois que uma médica me chamou numa sala e me deu a notícia, eu pedi pra ver ele. Quando entro na sala ele está de costas na maca, com o cobertor até o pescoço, quando me aproximo vejo que seus olhos estão abertos e brilham como sempre, a enfermeira tenta fechar com a mão dela, mas eles querem ficar abertos.
Coloco a mão na sua testa, ele ainda está quente, e falo em meio as lágrimas:
- Meu amor, eu prometo que nunca vou te esquecer, nunca vou deixar de te amar.
- Porque a testa dele já está roxa?- pergunto pra enfermeira que me acompanha.
- Quando a pessoa tem infarto falta oxigênio imediatamente, e alguma parte do corpo fica roxa na mesma hora.
Me sinto mal, não quero mais tocar nele, ele não está mais aqui, esse é só um corpo sem vida.
Não quero mais ver ele assim, saio da sala direto p banheiro, onde tenho diarreia. Quando saio do banheiro a enfermeira me entrega um saco com os pertences dele.
Saio pra fora do hospital, o dia já está claro, me encosto na parede chorando e me pergunto o que vou fazer agora, pois metade de mim acabou de morrer.

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