RECOMEÇAR

CAPÍTULO 35

💜💜💜 RECOMEÇAR 💜💜💜

Autora: Gláucia Galvão

CAPÍTULO 35

UMA SEMANA DEPOIS

Estou sentada no sofá da sala, estou no automático, eu sento e fico horas parada, não tenho vontade de fazer nada, nem de comer. Sinto muita canseira e dor pelo corpo, durmo a maior parte do dia, e a noite toda passo chorando na nossa cama, abraçada a uma camiseta dele. Ainda não consegui voltar a trabalhar ou estudar, não tenho cabeça. Só penso no Sérgio o tempo todo. Às vezes sinto raiva dele ter sido tão fraco e ter me deixado sozinha, as vezes me sinto culpada, eu deveria ter obrigado ele a fazer um tratamento, como eu pude ser tão burra e não perceber que ele estava mal. Na maior parte do tempo sinto uma dor terrível na alma, até meu peito dói, aí tomo um tranquilizante, que o Dr Miguel trouxe pra mim.
Desliguei meu celular e tirei o interfone do gancho, não quero ver ninguém, ter que ouvir conselhos e fingir que estou bem cansa. Até a Dona Selma dispensei, falei pra ela que quando precisar eu chamo. Só quem eu vejo de vez em quando é a Samy, ela trouxe um pouco de sopa ontem pra mim, porque comida não entra de jeito nenhum.
- Tudo isso que você está sentindo é normal Camila, o luto tem cinco estágios e pode levar até um ano pra pessoa que perdeu alguém passar por todos esses estágios. Sei que agora parece impossível, mas posso te garantir que um dia esse sentimento de angústia vai passar.
Ela é uma boa companhia, não me sufoca e me respeita quando quero ficar sozinha.

***

Faz três meses que ele morreu, eu voltei a trabalhar e estudar, mas estou despedaçada, ao longo do dia entro várias vezes no banheiro pra chorar. Já não choro mais na frente dos outros, aprendi que as pessoas não gostam de ter ninguém sofrendo por perto. Algumas pessoas exigem que eu pare de sofrer e viva feliz, como se isso fosse fácil pra mim.
Quando chego em casa a dor é insuportável, o carro dele ainda está na garagem desde o dia da morte, quando mandei o guincho trazer e ainda não tive coragem de entrar nele. Tudo aqui me lembra ele, e saber que nunca mais vai entrar pela porta dói muito. As pessoas dizem que eu devo me apegar ás lembranças, mas são justamente essas lembranças que acabam comigo, pois quero revive-las e não posso.

SETE MESES DEPOIS

Hoje amanheci bem, faz quase um mês que não preciso tomar tranquilizantes pra dormir. Tenho pensado muito no que fazer, pois parece que viver nessa casa que compramos pra viver uma vida juntos não me deixa ter paz, mas ao mesmo tempo não consigo me decidir em sair daqui, parece que estarei deixando ele pra trás e me sinto péssima. Todas as noites oro pra Deus me mostrar o que devo fazer pra seguir em frente.
Hoje não tem aula, chego mais cedo, organizo umas coisas e resolvo dar partida no carro dele, é bom fazer isso de vez em quando pro motor não ficar tanto tempo parado. Entro no carro e o cheiro dele me invade, ainda está aqui. Eu choro, mas dessa vez não estou com pressa de sair logo do carro como sempre faço. Abro o porta-luvas e tem muitos papéis, contas que ele pagou há quase um ano atrás, nossa como faz tempo...
No meio dos papéis encontro uma carta que ele escreveu pra mim mas nunca me entregou.