Cantiga perfeito d' amor

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  I–As quadras

Se soubesse
Não eu dizia
Ou não queria,
Que soubesses.

Porque se nesse
Amor à burguesia,
Nada muda num dia;
Nada muda num messe,

O ano torna- te oração,
A hora torna- te preçes,
Nada muda, quem merece,
Nada muda o coração.

Fui de quanto muda,
Esta minha compreensão,
Mudo fui de quanto então,
Nesse canto sem ajuda.

Minha preta foi na mão,
E  de tronco, a moreia,
De  branca foi sereia,
Com messe na solidão.

Ondo ando, quanta teia,
Fui tecendo, oitra não,
Invivado¹ fui, noitra² penteia,
Branda noite em 'scuridão.

Oxala que darei quanta trela,
Nesse tanto que refiro,
E como nas altas noite atiro,
Nada mudo pelas estrelas,

Quando olho para elas,
Brelhante assim para eu;
Oxala que darei quanta trela,
Para essas estrelinhas no ceú.

Quem diria eu temido,
Andante deslixado³,
Hoje ando no cuidado,
Para não ficar perdido...

Qu' é que fiz ! qu' oje  morro;
Ai mi' amor  que assi  trincando,
Junto as sombras do brando;
Os meus  lindos olhos de forro⁴.

Auréd Ross

Primeiro CantoOnde histórias criam vida. Descubra agora