A senha do e-mail de Hely é Helena04. Eu sei porque eu criei o e-mail pra ela, e ela confia demais em mim pra pensar em mudar a senha. Eu abro o e-mail dela no meu computador, e olho a caixa de entrada e a caixa de enviados. Assim fica fácil entender porque a La Femme tinha todo aquele interesse em mim. Hely fez um pedido especial, enviou tudo o que eu escrevi pra eles, se desculpou mil vezes e implorou pra me aceitarem de volta. Eles me deram o que eles tinham.
De toda forma, eu não consigo odiar o que ela fez. Eu ficaria mais feliz se ela tivesse se desculpado comigo – ainda que isso não me levasse a conseguir outro estágio – mas a atitude dela não foi má intencionada. Foi na verdade bem legal, vindo da Hely.
Eu resolvo que não vou falar com ela sobre isso. Em resposta, eu mando u e-mail pra Hely apenas agradecendo por ter me ajudado com o estágio. De toda forma, ela também me ajudou com a roupa da entrevista, e ficou ouvindo no café da manhã mais cedo sobre como foi meu "encontro" com Eric.
Converso com Tio Peter por mensagens até a janta. Eu não sei que horas são na França quando são 10h da noite aqui. Mas sei que algumas vezes ele tem insônia, e talvez fosse isso, ou fosse bem cedo lá, mas ele parecia feliz em poder conversar comigo. E eu fiquei feliz em poder dar noticias nossas, da Hely, do Bowie e do "Sr. Emburrado" (Também conhecido como Joshua Wilson – meu pai).
Meu pai tem estado de mau humor quase a semana toda, e não quis contar o porquê. Então depois de falar com tio Pete, eu pego minha manta e chamo Bowie, nós vamos pra cozinha e fazemos chá de maçã, que eu levo pro meu pai na sala quando me sento com ele na frente da TV pra ver a novela.
- Tudo bem? – pergunto.
- Estou com probleminhas no trabalho – ela dá de ombros.
- Só isso? – pergunto. Meu pai toma um pouco de chá, e faz que sim com a cabeça. Mas ele fica olhando o celular toda hora – Está esperando mensagem da sua empresa?
Ele me olha e então sorri.
- É, parece que você me pegou.
- O que está acontecendo? – pergunto.
- Eu tenho saído com uma mulher – ele cochicha como se fosse um adolescente, que não quer que os pais ouçam sobre a namorada – Ela é incrível.
- Mesmo? – pergunto. Hely e eu na infância tentamos seriamente apresentar meu pai a mulheres que achávamos incríveis e que tinham muito a ver com ele. E que podiam ser uma espécie de "nova mãe" pra nós. Mas ele ainda não tinha passado pela fase de luto, ou pela saudade, ou a falta. Ele não tinha superado minha mãe. Chegamos ao ponto de desistir por acharmos que ele não ia querer mais ninguém, nunca mais. Mas aqui está Joshua Wilsom segredando a sua filha oito minutos mais nova, que ele tem alguém.
- O nome dela é Maria. Conheci ela na festa de Natal da empresa. Mas enfim – ele respira – Ela está chateada comigo.
- Porque?
- Por quê – ele abaixa ainda mais a voz – Eu tenho medo da reação de Hely, e mesmo já tendo dito que tenho filhas, eu disse que não queria misturar as coisas.
- Você é um idiota – comento. Meu pai me encara como se fosse brigar comigo, mas ele só ri.
- Eu sei que você ia adorar que eu tivesse com alguém, mas Hely é mais apegada. A nós. Eu sei lá. Você entende. Ela gosta de nós três juntos. Eu não sei como vai funcionar, com outra pessoa inserida na história.
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Hely & Enna
Teen FictionQuanta diferença oito minutos podem fazer na sua vida? Para Enna Wilson, 8 minutos é a diferença no tempo e espaço entre uma vida perfeita e uma vida cheia de azar. Depois de perder seu tão desejado estágio de verão, Enna decide arquitetar um plano...