Quanta diferença oito minutos podem fazer na sua vida? Para Enna Wilson, 8 minutos é a diferença no tempo e espaço entre uma vida perfeita e uma vida cheia de azar. Depois de perder seu tão desejado estágio de verão, Enna decide arquitetar um plano...
A última carta, tem desenhos de estrelas. Eric acabou de conversar um pouco comigo sobre sua gata Luna, que parece estar doente. Me ofereci pra levá-la ao veterinário com ele, mas ele não quis. E eu estou realmente na dúvida se deveria ou não abrir a última carta.
Eu não sei se estou certa sobre o que penso disso tudo. Se ainda sinto aquele calor apaixonante por Eric, que eu costumava sentir quando as cartas me deixavam curiosa sobre sua verdadeira identidade.
Henry está me esperando. Vamos sair daqui a pouco.
Alice também. Eu acho que ainda vou com ela naquele bar de música ao vivo.
Me olho no espelho, enquanto procuro algo pra vestir. Bowie está de barriga pra cima dormindo no chão do quarto. Acho que ele não vai opinar sobre o vestido que eu estou pensando em usar, mas que parece me deixar tão gorda quanto adorável. Eu odeio essa mania de julgar a mim mesma no espelho. Pareço estar sempre me auto atacando com voracidade.
A única coisa em que eu consigo pensar é que eu quero mudar meu cabelo. Pintar ele de azul ou descolorir e pintar de rosa. Eu não tenho tempo pra fazer isso tudo agora. Então, pra me contentar e deixa-lo quieto antes que eu me atraque com uma tesoura, faço dois coquezinhos no topo da cabeça, um de cada lado. Alguns fios rebeldes ficam soltos, mas pelo menos assim eu me sinto um pouco mais diferente, e de certa maneira, um pouco mais eu mesma.
"Posso passar aí em 30 minutos?" Henry envia.
Eu envio uma figurinha que concorda.
Crio coragem e finalmente pego a última carta. Abro ela sem rasgar o envelope como fiz com as outras.
"Enna,
Aqui é o Eric. Talvez você já tenha percebido, talvez não. Eu não sei como sua cabeça ficou depois daquele beijo.
Eu rasguei a última carta, e espero que tenha entendido que foi porque, apesar de um dia eu ter sentido dor o suficiente pra escrever tantas coisas horríveis, hoje elas já não valem a pena.
Aconteceu de hoje eu ter as encontrado, o fundo de uma gaveta, junto com algumas coisas que um dia a Carol me deu e das quais já era hora de eu me livrar. Resolvi, escrever uma última vez pra você. Pensei em jogar tudo fora depois, mas resolvi que o melhor era te deixar saber as coisas boas que eu senti durante o tempo em que eu estive apaixonado por você.
Minha vida mudou um pouco nesses últimos meses. Eu consegui me sentir realmente apaixonado pela Carol, e por alguns meses foi realmente fantástico ter essa troca com ela. Mas então as coisas caíram numa interminável rotina, e nosso relacionamento ficou pra segundo plano, perdendo a graça até sentarmos pra comer um dia no Mcdonalds, e terminarmos de uma maneira amigável comendo hambúrguer.
Adotei uma gata, que minha mãe diz que eu amo mais do que ela. Isso é mentira, mas agora estou pensando em me especializar em farmácia veterinária, pra entender melhor como as medicações funcionam nessas coisinhas de pelo.
Te vi outro dia no metrô, você estava conversando com uma menina loira. Fiquei pensando que se eu mudei tanto nesse pouco tempo, você também tenha mudado. A lembrança daquele beijo ainda é algo que me causa arrepios, confesso. Eu nunca tinha beijado alguém assim. Mas queria entender o motivo de você ter me evitado depois. A razão de ter sumido. Queria sentar, conversar, comer batata frita e descobrir quem é a Enna que eu tanto desejei esses anos todos. Mas quem você é de verdade.
Enfim, quem sabe se você não ignorar essas cartas, a gente possa sair num desses fim de semanas ociosos.
Eric."
É uma carta muito mais leve do que eu pensei.
Achei que seria um pedido de "SUMA DA MINHA VIDA, EU TE ODEIO!!!" ou "EU TE AMO, POR FAVOR ME DÁ UMA CHANCE!!". Mas não é nada demais. É só uma pedido de tentar ficarmos bem.
"Tentar parece bom" penso.
A gente consegue bastante coisa apenas "tentando".
Pego meu celular e minha bolsa, e vou pro pátio do prédio esperar Henry.
"Eu li a última carta. Luna está melhor?" pergunto. Seco o suor que me escorre o rosto. Tem um senhor gordinho japonês sentado num dos bancos do pátio. Ele me olha e sorri.
- Você tem uma irmã gêmea, né?
- Tenho – sorrio.
- Você é muito mais legal que ela. Dá pra perceber pelo seu cabelo – ele conclui com certo ar sábio.
- Eu queria pintar de rosa – confesso.
- Muito sábia – ele concorda, sorrindo.
Henry buzina a moto. Antes que eu saia correndo, recebo uma mensagem de Eric.
"Ela está melhor. Você pensou na minha proposta?"
- ANDA ENNAAA! – Henry grita com a voz abafada pelo capacete.
"Vamos tentar" digito.
Agora eu também vou sair com Eric.
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