Capítulo 16 - Pistache e pedaços de papel

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Antes que eu saia com Henry para o Brooklyn Bar eu tomo um banho e me sento no meu quarto com as duas cartas restantes de Eric para ler. Um dos envelopes é rosa e o outro tem tons de amarelo pastel. Um está cheio de estrelas e o outro tem uma espécie de balão que lembra nuvens. Esse é o que eu vou abrir primeiro.

Por alguma razão, talvez por lembrar do que aconteceu e imaginar que a próxima carta me trará um Eric decepcionado e raivoso, meu coração começa a bater forte antes que eu consiga pensar em abrir.

Bowie faz um grunhido estranho quando eu começo a tremer de nervoso. Ele sobe na cama comigo. Eu me deito e ele apoia a cabeça em minha barriga. Tudo isso podia ser um pouco mais fácil, é claro. Se não tivessem velhas histórias no meio de tudo. Mas se tem algo que realmente contribui pra deixar um pouco melhor é Bowie.

Se a gente parar pra pensar, é muito louco como os animais sentem as coisas na gente e demonstram mais presença e apoio do que qualquer outro ser humano seria capaz no século XXI.

Bo me dá uma lambida no queixo como incentivo pra que eu levante. Começa a tocar Joss Stone no meu computador, e eu me sinto mais tranquila. Abro o penúltimo envelope, e fico surpresa com o que encontro dentro.

São pelo menos duas páginas de carta, mas estão completamente rasgadas. Então além de tudo - da dificuldade de ler os sentimentos que ele deve ter posto ali - eu ainda preciso reconstruir as coisas. A carta. Ele devia estar com muita raiva ou muita mágoa pra tê-la rasgado.

Espalho os pedaços pela cama e pego fita adesiva. Hely aparece na porta pra perguntar se eu quero sorvete. Ela está com duas taças na mão. É pistache com calda de chocolate, e eu prefiro baunilha, mas pistache é um sabor em que eu confio. Ela entra e senta na beiradinha da cama. Eu tenho metade de uma carta colada.

- Isso foi um ataque de raiva de que você se arrependeu? - ela pergunta rindo.

Dou uma colherada no sorvete que ela me oferece e começo a rir.

- Não. Essa aqui chegou assim.

- Sei que você não quer ajuda com esse assunto, mas quer ajuda pelo menos pra colar isso?

- Quero - sorrio.

Ela começa a separar pedaços de papel de um jeito estranho, mas eles começam a fazer sentido juntos de algum jeito. É como tudo que Hely toca. Fica tudo mais fácil, de uma maneira que acaba sendo surpreendente.

Ela junta as partes certas e eu colo elas com fita. Terminamos tudo antes que o sorvete acabe ou derreta o que é um pouco impressionante.

- Você já descobriu quem te mandou? - Ela pergunta.

- Eric - falo.

- Uhl - ela sorri - eu acho ele fofinho. Ele parece legal.

- Uhum - faço. Não quero contar pra Hely sobre como eu e ele nós enrolamos bastante no passado. E sobre como ele basicamente me idealiza como uma pessoa perfeita que eu não sou. É aí que decido mudar de assunto - Bom, e como você está?

- Sobre Henry? - ela pergunta com um biquinho de deboche e dá de ombros - Meio chateada na verdade. Mas eu baixei o Tinder - ela responde.

- Eu vou ver ele hoje - falo.

- Isso é bom - Hely diz. E ela parece ser sincera - fiquei com medo de o fato da gente ter terminado afastar vocês dois.

Eu dou um sorriso a ela, e ai ela sai do quarto com as duas taças de sorvete vazias. Nessas horas eu acho que Hely de algum jeito misterioso é muito parecida com a nossa mãe. Embora eu não tenha a conhecido.

Eu estou por fim com as palavras de Eric coladas na cama. Sei que depois de ler isso vou estar a só um passo de por fim nessa história. De certa forma isso me alivia.

"Cara Enna,

Eu sempre achei que você fosse uma boa pessoa. Eu acho que sempre criei uma ideia sua na minha cabeça, como se você fosse um personagem ao qual eu fantasiosamente dei voz e dei cores. Eu escutei as pessoas que disseram pra eu te procurar. Que o mais correto era que eu falasse com você sobre tudo o que eu sentia.

Eu não deveria ter feito isso. Eu percebi que você era diferente do que eu achava que você fosse. Você me usou pra fazer a melhor matéria do seu jornal. Você me deu aquele beijo no laboratório. E depois disso, acho que porque eu simplesmente já não tinha utilidade alguma, você passou a me ignorar o tempo todo.

O que me dói é ver que você nem ao menos foi capaz de falar comigo. De ser o tipo de pessoa que não ficou feliz com uma situação e foi capaz de ser sincera sobre isso. Você nem mesmo foi capaz de ver o quanto me doeu tentar ir atrás de você, ter estado aqui esse tempo todo, pra depois assistir você sumindo.

Eu não sei. Acho que é idiotice ainda estar escrevendo pra você. Você nunca vai ler nada disso. Eu só queria por pra fora as coisas que doem, assim eu podia esquecer essa história toda, e seguir com minha vidinha tediosa. Talvez seja até doentio da minha parte ter insistido nessa paixãozinha medíocre por tanto tempo. Ainda acho, apesar de tudo, que existe algo em você que seja interessante.

Mas não o suficiente pra eu continuar insistindo nessa bosta toda. Não o suficiente pra eu continuar aqui por você, continuar morrendo por dentro quando você passa por mim e nem me olha.

Tem coisas mais importantes acontecendo no mundo Enna. Essa carta é pra por fim nessa minha paixãozinha de 8ª série.

Cordialmente,

Eric."

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Obs 1: Peço enormes desculpas pela demora nas atualizações. Eu tive alguns probleminhas. 

Obs 2: O capitulo está sem capa, provisoriamente, pois achei que seria melhor postar logo a atualização.

Obs3: A Carta do Eric continua no próximo capitulo com um Post Scriptum ;)

Hely & EnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora