Capítulo 21 - Alice

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Combinei que a encontraria na sorveteria perto da estação de metrô. A gene podia conversar um pouco e depois ir pro show no barzinho. Eu cheguei primeiro, me sentei na mesa e enviei mensagens.

Avisei Alice que eu tinha chegada.

Avisei meu pai que ia voltar tarde.

Avisei Hely que eu estava com Alice e depois ia com ela pra um bar.

Combinei de ver Eric depois da faculdade essa semana. Quando ficasse melhor pra ele.

Alice chegou oito minutos depois de mim. Ela estava de All star amarelo de novo, com uma jardineira jeans e uma blusa rosa. Pela primeira vez na vida reparei em quanto a pele dela era branca e como isso realmente combinava com o tom de loiro acinzentado em que seu cabelo se encontrava. Ela tinha algumas tatuagens expostas. Uma rosa no antebraço, uma palavra escrita na linha do ombro, e um desenho de borboleta no pescoço. Eu nunca tinha reparado nisso porque geralmente as roupas dela cobriam e o cabelo também. Mas dessa vez, parecia que ela queria mostrar. Como queria mostrar que estava aqui, e por isso tinha passado uma maquiagem tão forte.

– Enna? Tudo bem? – ela pergunta se sentando diante de mim.

– Tudo – digo. Eu confesso que estou ansiosa, porque tem algo nessa beleza dela que me deixa curiosa, de um jeito bom. Eu nunca pensei sobre ficar com uma garota. Mas também nunca neguei que eu provavelmente me interessasse mais pelas pessoas em si do que por seus gêneros. Nunca descartei essa possibilidade. Embora eu nem saiba se isso é uma possibilidade de algo.

– Quer por sorvete? – ela pergunta.

Eu me sirvo de passas ao rum e papaia. Ela pega morango e leite ninho. Eu coloco cobertura. Ela coloca ursinhos de gelatina e chocolate quente. Eu coloco granulado e cereja. Ela coloca dois palitinhos. A gente ri dos sabores estranhos como "blue ice" e "chiclete". A gente volta pra mesa e se senta.

Eu estou um pouco mais confortável, agora que temos duas bandejinhas de sorvete diante de nós.

– Gostei do cabelo – ela diz colocando sorvete na boca. O chocolate da calda meleca os lábios dela. E por algum motivo é sexy, e tão lindo que eu queria poder tocar.

– Valeu – sorrio. Eu dou uma colherada no sorvete. Eu estou um pouco envergonhada. É estranho admitir que estamos sentindo desejo ao olhar alguém.

– Posso provar seu sorvete? – ela pergunta. Mas antes que eu responda ela pega a própria colherzinha e enfia na minha bandejinha – Passas ao rum é gostoso – ela conclui.

– Posso perguntar uma coisa? – digo. Alice, tira minha colherzinha da minha mão e me devolve com uma porção do seu sorvete de leite ninho, que é uma delícia.

– Pode – ela ri.

– Porque você quis sair comigo? – pergunto – A gente nem nunca foi amiga.

– Na verdade – ela diz – eu tenho um plano maligno que é me aproximar de você, frequentar sua casa, fazer seu cachorro gostar de mim, e ai raptar ele porque ele é muito fofo – ela responde rindo. Eu dou risada também, mas quero saber o motivo real, então repito a pergunta.

– É sério, Alice.

– É sério – ela diz e sorri. Ficamos em silêncio. Ela dá duas colheradas no sorvete. Eu olho pro esmalte preto em suas unhas – A gente sempre pega o ônibus juntas, e eu sempre ficava só te olhando de longe, não sei. Crush, sabe? Ai a gente se esbarrou na rua, e eu achei que não tinha mal em te chamar pra sair.

– Entendi – eu digo dando risada. Eu finalmente estou com vergonha e nervosa.

– Eu sei que talvez você nem goste de garotas, sei lá. Mas podemos ser amigas. Você me parece legal.

Hely & EnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora