Capítulo III

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O destino já havia provado que não gostava de Harry, mas ele parecia querer lembrar o garoto desse fato em momentos aleatórios. Sua nova tortura era que Draco Malfoy e sua gangue eram seus novos vizinhos. Como ele descobrira? Bem, ele pegou Draco parado em frente ao Três Vassouras quando voltava para casa.

Primeiro, ele achou que Draco o seguia. Logo descartou essa ideia, porque não fazia mais sentido. Lembrou-se de seu sexto ano e como havia ficado completamente obcecado com o garoto, a ponto de pensar nele em quase todas as suas horas vagas. Se ele soubesse antes o que ele sabia agora, ele não teria feito tudo isso.

Quando chegou em sua casa, viu Malfoy parar na frente a um casarão ao lado, retirando suas chaves do bolso e abrindo a porta sem olhar para trás.

Harry queria poder não ter olhado para trás.

A casa ao lado era bem quieta, mas Harry conseguia ouvir sons de choro nas noites em que ele não conseguia dormir. Sabia que os choros pertenciam a Pansy Parkinson. Sabia que quem entrava no quarto dela para acalmá-la era Malfoy. Conseguia ver de sua janela, e embora se sentisse culpado por espionar, era estranho ver a Sonserina daquela maneira.

Eles tinham sofrido tanto quanto qualquer outro. Talvez mais. Imaginava como seria horrível ver seus colegas de escola lutando contra sua família.

Pior ainda; eles estavam dentro da organização. Que tipo de coisas devem ter visto? Malfoy principalmente, que teve que morar com Voldemort. Que tipo de coisas ele presenciou? O quão aterrorizante deve ser ter Voldemort embaixo do mesmo teto?

Desde a conversa de Draco e Harry naquele corredor de espera, ele havia observado sua hipocrisia e preconceito contra a Sonserina. Ele não conseguia parar de pensar em como ele fora injusto por julgar uma casa inteira por causa de algumas maçãs podres.

Todos achavam que Sirius havia matado seu melhor amigo e a esposa, os pais de seu afilhado. Ainda assim, ninguém nunca olhou torto para a Grifinória. Rabicho era um Comensal da Morte, Gilderoy e Quirrell eram da Corvinal e, e também não trouxeram muita honra para suas casas. Será mesmo que o número de bruxos ruins da Sonserina superava os de qualquer outra casa? Superava os bruxos bons que haviam saído dali, como Draco mesmo havia dito? Superavam pessoas como Andrômeda e Regulus?

Harry estaria mentindo se dissesse que não passava suas noites em claro reavaliando a sua vida, fazendo perguntas a si mesmo. As famílias em que todos são da Grifinória criam os seus filhos para odiarem a Sonserina e não aceitarem entrar em uma casa que não seja a Grifinória. As famílias da Sonserina criam seus filhos da mesma maneira? Para odiar a Grifinória? Isso explicaria muita coisa.

O choro começou na casa ao lado, no mesmo horário da noite anterior. Seriam pesadelos recorrentes? Harry suspirou, revirando-se na cama, finalmente resolvendo ir dormir. Teria poções no dia seguinte, dessa vez sem a ajuda do livro do Príncipe Mestiço.

Imaginava se as aulas de poções continuariam as mesmas…

Não, elas estavam muito, muito piores.

Não era só pela dificuldade das poções, mas sim por causa de sua dupla. Aparentemente, professor Slughorn acreditava que a Grifinória e a Sonserina deveriam deixar suas diferenças de lado e trabalharem juntos. Por esse motivo, as duplas eram formadas por duas pessoas de casas diferentes.

Foi uma distribuição injusta, na opinião de Harry, pois Hermione e Draco, os melhores da sala, ficaram juntos. Aquilo parecia favoritismo.

Harry, por sua vez, ficou com Pansy, que também não era lá das melhores na matéria. Como ele poderia olhar para a cara dela sendo que a ouvia chorar todas as noites? Aquilo era vergonhoso.

― E aí, escandaloso? ― Ela disse, sentando-se ao lado dele. Harry sentiu suas bochechas esquentando. Ela se referia, com certeza, às noites em que ele acordava no meio da noite devido aos pesadelos do passado que lhe assombravam. Ver alguém morrer diante de seus olhos não é algo que se supera fácil, se é que um dia ele seria capaz de superar.

Sem pensar duas vezes, ele disse: ― E aí, bebê chorão?

Pansy se virou para ele com os olhos arregalados, e Harry já havia chegado à conclusão de que ele estragara tudo quando ela lhe deu um sorriso e uma risada. ― Uau, ele consegue ser seco. Que surpresa, achei que você seria um pirralho mimado.

― Olha só quem fala. ― Ele bufou. Ela deu uma outra risada, mais curta.

― Tudo bem, querido, já pode parar. Estou contando com você para nos salvar hoje, porque desde o ano passado eu sou um desastre em poções. ― Disse ela, arregaçando as mangas.

― Vamos ler o modo de preparo, sim? ― Ele disse, abrindo o livro. Foi então que Hermione gritou.

― Você é impossível, Malfoy! Temos que seguir a receita! ― Ela disse, irritada.

― Não adianta seguir a receita se ela não trabalha com você! Eu estou dizendo, moer isso vai fazer com que ele dissolva mais rápido! ― Ele exclamou, batendo na mesa.

― E eu estou dizendo que agora não é hora de inventar atalhos!

― Vai por mim, Hermione. ― Disse Pansy. ― Siga o Draco.

Draco olhou para Hermione com um sorriso vitorioso e uma cara presunçosa. Bom saber que ele ainda era capaz de irritar qualquer um. ― Não. ― Ron disse, chamando a atenção de Harry. ― Siga a Hermione, Draco.

Blaise deu uma risada. ― Draco sabe mais de poções. ― Ele disse. Hermione logo se voltou para Harry, urgindo para que ele falasse alguma coisa.

― Uh… ― Ele gaguejou. ― Que tal vocês trocarem de dupla? ― Ele sugeriu, fazendo Hermione bater na mesa, em frustração. Slughorn se aproximou dos dois, tentando resolver o problema, mas nenhum deles queria escutar o professor, já que estavam imersos em sua própria discussão sobre o que era melhor fazer para aquela poção.

O professor simplesmente suspirou, esfregando sua testa, sem saber o que fazer. ― Eu acho que é melhor vocês trocarem de dupla. Sr. Potter, você troca com a Srta. Granger.

A atmosfera da sala mudou instantaneamente, todos segurando a respiração ao mesmo tempo, tensos. Como se Harry ou Draco fossem fazer uma balbúrdia por causa daquela decisão do Professor. Ao seu lado, Pansy comemorou por estar trocando de parceiro.

― Algum problema com a decisão, Sr. Potter? ― O professor perguntou, e Harry negou, pegando suas coisas.

Quando ele se sentou em seu novo lugar, Draco pareceu descontente, mas não disse nada. Todos da sala relaxaram ao ver que eles não se matariam, pelo menos não naquele dia.

― Então, você tem algo a dizer sobre meu jeito de fazer poções?

― Você é quem sabe o que está acontecendo, eu só vou te seguir, acredite.

Draco sorriu, satisfeito, e Harry se sentiu um pouco sem graça, por algum motivo. Bem, agora que ele teria de aturar o garoto pelo resto do ano, seria melhor se ele simplesmente se rendesse e tentasse ficar no lado bom de Malfoy. Suas notas dependiam disso, afinal.

Harry se virou para Malfoy, observando como as linhas do seu rosto mudavam quando ele se concentrava. Por algum motivo desconhecido, ele se lembrou que aquele rosto também conseguia se contorcer em dor, aqueles olhos também sabiam chorar. Lembrou-se, então, de um certo encontro no banheiro de Hogwarts, lembrou-se do sofrimento que ouvira aquele dia. Se sentiu culpado.

Draco virou-se para ele, o cenho franzido. ― Tá me encarando porquê?

― Você tem uma cicatriz? Daquele dia, no banheiro. ― Ele perguntou, e o rosto de Malfoy pareceu ainda mais desgostoso.

Ele não respondeu, e isso se tornou mais uma coisa para atormentar Harry à noite.

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora