Capítulo XV

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Harry suspirou, lembrando-se do que havia acontecido naquele dia. Dois dias haviam se passado e Draco não fora para Hogwarts. Será que ele estava bem?

Harry balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos de sua mente. Não deveria estar pensando sobre Malfoy.

O problema é que ele estava, mais uma vez, na aula de poções, tentando completar a polissuco.

Ele estava no estágio final da poção, enquanto as outras pessoas ainda tinham que adicionar a pele de ararambóia picada. Depois de alguns passos, eles ainda teriam que esperar por vinte e quatro horas. Harry sorriu para si mesmo. Ele conseguiria o prêmio. Deveria dividi-lo com Malfoy?

Era Veritaserum, e Draco com certeza tinha planos para usá-la em alguém (Harry só esperava que não fosse ele).

Mexeu a poção com a sua varinha, seus pensamentos presos num certo loiro de olhos cinzentos. Ele não queria guardar para si o que havia visto na casa do garoto naquela semana. Tinha que contar para alguém.

Retirou um pedaço de pergaminho de sua bolsa. Enquanto a opção fervia, ele pegou uma pena e tratou-se de escrever.

Querida Narcisa.

Querida? Não, Harry não tinha aquele nível de intimidade com a mulher. Abanou sua varinha, apagando as letras que havia escrito.

Narcisa.

Não, agora ficara ainda pior.

Sra. Malfoy.

Sim, agora sim.

Sra. Malfoy,

Espero não estar desperdiçando o seu tempo com essa carta, mas eu vi uma coisa essa semana que me preocupou bastante.

Eu e seu filho discutimos há alguns dias, e ontem eu fui na casa dele para me desculpar. Quando eu entrei na casa, eu encontrei-o em um estado catatônico. Quando pedi para que ele falasse meu nome, ele disse, e eu repito: "Pai, eu não podia".

Não quero colocar meu nariz onde não devo, senhora, mas creio que Malfoy precise de ajuda profissional.

Harry Potter.

Aquela era uma carta muito ruim, mas Harry esperava que a mulher entendesse que ele estava preocupado, embora não tivesse nenhuma associação com Malfoy. Ele não poderia deixar alguém que precisava de ajuda para trás, daquela maneira.

Mandaria aquela carta para a mulher depois daquela aula, quando ganhasse as seis gotas de Veritaserum.

Algo queimava ao seu lado. Ele soltou um grito e tirou o caldeirão do fogo antes que algo explodisse.

Agitou sua varinha, terminando a poção.

O professor Slughorn logo veio para sua mesa, com os olhos brilhando. — Acabou, Sr. Potter? — Perguntou, ganhando uma assentida do garoto. — Vamos ver.

O professor Slughorn tirou um pouco de poção do caldeirão e olhou a sua coloração. — Tudo parece nos eixos. — Disse o professor. — Parabéns, Sr. Potter. — Ele disse, tirando um pequeno frasco do bolso. Harry abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele conseguira! E sem ajuda, dessa vez!

Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Professor Slughorn o dispensou antes dos outros, e ele saiu da sala quase que saltitando. Se não fossem as dicas de Malfoy e o que ele se lembrava do livro do Príncipe Mestiço, ele com certeza não haveria conseguido preparar aquela poção.

Ele foi direto ao Corujal. O universo estava, finalmente, sorrindo para ele.

Narcisa pegou a carta que aquela coruja desconhecida carregava. Não demorou para que lesse o conteúdo escrito no pergaminho, e seu coração deu uma contorcida em seu peito.

Seu bebê estava sofrendo. E ela não poderia fazer nada. Abençoe Potter, que a avisara sobre o que acontecia. Ela providenciaria tudo o mais rápido o possível.

Não podia deixar que seu filho aguentasse tudo em silêncio nem mais um segundo. Ela tinha que fazer alguma coisa.

Foi ao seu jardim, e coçando o queixo, ela imaginou dois buquês diferentes.

Se dirigiu até às ervilhas-de-cheiro. Nao conseguiria fazer um buquê tão bonito quanto os que Draco fazia, mas esperava que fosse o suficiente para Harry.

Ela sentiu um certo carinho brotar em seu peito pelo garoto. Ele se importava com Draco, se importava com o seu filho, seu tesouro. O suficiente para saber o que era melhor para ele.

Ela viu-se esquecendo de seus problemas enquanto pegava as flores em seu jardim. A tarefa era muito mais fácil e divertida com o filho, mas ela não podia segurá-lo para sempre, e sabia disso.

Para Harry, enviaria as ervilhas-de-cheiro. Elas cresciam sortidas, multicoloridas em uma parte do extenso quintal da mansão Malfoy. Elas eram belas e queriam expressar agradecimento.

Para Draco, porém, tinha que fazer um buquê mais sério, mais desagradável, embora que ainda belo.

Precisava pedir desculpas. Jacintos roxos seriam o suficiente para isso, já que significavam "dor por um erro cometido". Então, dálias vermelhas, como desejo de força para quem a recebia. Por fim, begônias rosas. Um dos significados das begônias era de aviso sobre infortúnios.

Por que aquele buquê? Bom, Narcisa precisava se desculpar com o seu filho por não ter feito algo sobre a saúde mental dele mais cedo, queria desejá-lo força e já avisá-lo que ele teria de fazer uma coisa com a qual não iria se alegrar muito.

Ela já havia trago a ideia de acompanhamento psicológico para Draco, que negara a ajuda com todas as suas forças. Estava num ponto onde ele não poderia mais recusar o auxílio que ele tanto precisava.

Tudo bem, ele já era maior de dezessete anos, mas Narcisa sabia que ele não recusaria algo que ela propusesse, não se houvesse um pouco de chantagem emocional envolvida. Você pode até julgar, mas ei, era para o próprio bem dele.

Ela colheu as flores, colocando-as num cesto. Faria os buquês ainda naquele dia, e os mandaria até o Sol se pôr.

Só esperava que Draco não recusasse a ajuda, coisa que ele sempre insistia em fazer. Ficaria irado se descobrisse que Narcisa sabia o que acontecera por causa de Harry Potter. O menino-que-sobreviveu pode tê-los defendido na corte, mas para Draco isso só significava que ele devia algo ao Eleito, coisa que ele detestava.

Narcisa queria um filho menos teimoso. Imaginava, para seu desgosto, se ele também não queria uma mãe melhor. 

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