Capítulo VIII

9.5K 1.3K 1.6K
                                    

Harry não sabia se a pior parte havia sido o jantar ou ele e Draco brincando com Teddy juntos.

O bebê parecia não se importar com o clima entre os dois; simplesmente continuou balançando seus brinquedos no ar sem nenhuma preocupação.

Draco o encarava com uma expressão familiar para Harry. Raiva, desgosto.

O moreno não conseguia entender porque o garoto não poderia simplesmente deixá-lo em paz. O que fazia com que Draco Malfoy o odiasse tanto?

Ele abriu a boca para perguntar, mas foi interrompido por Teddy enfiando a mão em sua boca aberta.

Ele gentilmente tirou a mão do menininho dali, que não gostou nada e começou a bater no rosto de Harry. Ele ouviu uma risada, e quando olhou para o lado, Draco Malfoy cobria sua boca com uma de suas mãos, seus ombros sacudindo-se com as risadas que ele soltava.

Harry nunca havia visto Draco rir daquela maneira.

Seus olhos se semicerravam e ele tentava desviar o olhar, suas bochechas se curvavam em um sorriso que era escondido por sua mão. A cena toda parecia retirada de um romance, com o sol do entardecer entrando pela janela atrás dele, iluminando seus cabelos loiros e sua tez branca de maneira quase etérea.

Sentiu seu coração acelerar-se por motivo nenhum.

O jantar não foi nada melhor.

Ele, Narcisa, Draco, Andrômeda e Teddy sentaram-se à mesa. Andrômeda alimentava o garotinho, deixando os três outros bruxos para conversarem sozinhos.

— Então, Harry. Você recebeu as flores? — Narcissa perguntou.

Ele quase engasgou na comida. — Sim. Elas são lindas. — Ele assentiu.

— As colhemos do nosso jardim. — Ela sorriu. — Não é, Draco?

— Aquelas flores eram para ele? Se eu soubesse não teria montado o buquê.

Então Draco montava buquês? Aquilo era novidade. Harry encarou o loiro, que simplesmente o ignorou. Narcissa dizia alguma coisa mas Harry não conseguia exatamente entender o que era. Havia algo em Malfoy, naquele dia, que estava mexendo com ele. Não sabia se era o jeito que seu cabelo estava arrumado, se era a roupa que vestia, se era a maneira como ele riu mais cedo. Harry não sabia o que era, mas sabia que alguma coisa estava acontecendo, e ele não estava gostando nada daquilo.

Teddy riu alto, e logo em seguida, Harry sentiu algo grudento atingindo seu rosto. Ele pôde ouvir Draco segurando a risada.

Havia papinha no seu rosto, mas aquele não era o pior de seus problemas. Seu problema era o fato de que ele não conseguia desgrudar os olhos de Malfoy.

Mas que porcaria, o que estava acontecendo com ele?

— Parece que ele gosta muito de você, Potter. — Draco provocou.

Harry olhou para Teddy e sorriu, limpando a papinha do rosto. O garotinho ergueu os braços na direção dele, pedindo que ele fosse até lá.

— Acho que ele quer você, Harry. — Disse Andrômeda.

Harry se levantou, ainda não tendo terminado seu jantar. Não estava com muita fome. Foi em direção ao bebê e levantou-o, segurando-o em seus braços, como um dia seus pais fizeram com ele.

Teddy, assim como Harry, não conheceria seus pais. Aquilo fazia um buraco no peito de Harry, mas ele não podia demonstrar fraqueza na frente daquela família, então levou o bebê para a sala de estar.

Ele balançava seu corpo levemente enquanto olhava para o garotinho, que tinha suas mãos no rosto de Harry.

— Eu não vou deixar que nada aconteça com você. — Disse ele. — Você vai ser o garoto mais feliz do mundo, porque eu vou te mimar até você não aguentar mais. Você vai ser pior do que o Malfoy.

O bebê sorriu, mesmo sem entender o que Harry lhe dizia.

— É. — Harry riu. — Pior que ele. Você não conheceu seus pais, mas eu não vou deixar você passar pelo mesmo que eu passei. Sem armários de vassoura, sem primos chatos para te perturbar e sem tios abusivos. — Ele disse, sentando-se no sofá. — Você vai ser feliz.

Harry não sabia, mas naquele momento, enquanto ele conversava com Teddy e Andrômeda e Narcissa arrumavam a mesa, Draco escutava o que acontecia na sala de estar, sem entender exatamente o que havia.

Ocorreu-lhe que sabia muito pouco do passado de Harry, e por algum motivo, isso lhe parecia errado.

Mas eles não conversariam ali. Na verdade, Draco preferia que não conversassem em momento algum, porque sempre que ele e Harry tentavam ter uma conversa civilizada, um dos dois dizia algo que irritava o outro. Aquela convivência era simplesmente impossível, e Draco não queria ter que andar na ponta dos pés à toda hora.

Não, Draco sabia que aquilo, aquele novo relacionamento dos dois, era inviável. Para ambos. E não seria ele quem forçaria a barra para tentar alcançar algo inalcançável.

Não estava com cabeça para tentar ter um relacionamento como aquele, um relacionamento que certamente não funcionaria.

Suspirou, deixando o garoto e seu afilhado sozinhos.

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora