Capítulo XXIV

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— Harry! — Disse Hermione, estalando os dedos na frente do rosto do moreno. — O que aconteceu com você para ficar avoado desse jeito?

— Avoado ele sempre é, Mione. — Disse Ron com um sorriso no rosto, fazendo com que Simas e Dean rissem.

Eles estavam sentados no Grande Salão almoçando, e Harry não poderia ligar menos para as batatas em seu prato. Ele ficava pensando no que havia acontecido na aula de poções mais cedo, ficava tentando entender o que Draco Malfoy tinha feito com ele para que reagisse daquela maneira.

— Nada. — Ele mentiu. Detestava mentir para Hermione, em parte porque sabia que ela descobriria a verdade mais cedo ou mais tarde.

— Isso tem a ver com o que conversamos ontem? — Ela perguntou, observadora como sempre.

— Sim, tem sim. — Ele suspirou. — Ele aceitou o pedido de desculpas.

— Isso é ótimo, Harry! — Hermione sorriu para ele. — Quem sabe assim você entenda que ninguém espera que você derrote outro Lorde das Trevas para te desculpar.

— Eu acho que ele está tramando alguma coisa, Hermione. Ele aceitou tudo muito fácil. Disse que era porque estava de bom humor. — Disse Harry, franzindo o cenho.

Fora realmente muito estranho o fato de que Draco Malfoy aceitara o seu pedido de desculpas como se Harry estivesse se desculpando por pisar no pé dele. Harry esperava um escândalo, uma chantagem emocional aqui e ali e talvez condições para que ele aceitasse as desculpas de Harry. Ele era um Sonserino, afinal! Um manipulador desde o berço! Tinha que estar tramando alguma coisa.

— Harry. — Hermione suspirou. — Você tem certeza que quer cair nesse buraco de novo?

— Pois é. — Ron disse, com a boca cheia. — Como se já não bastasse o que aconteceu no sexto ano. Você era obcecado, cara.

Harry sentiu seu rosto esquentar. Não era obcecado por Malfoy! Aquilo foi só uma vez. Uma vez durante um ano letivo, sim, mas não era nada demais!

— Olha só, parece que alguém tem sentimentos mal-resolvidos por uma certa pessoa. — Simas provocou, fazendo com que Dean risse e Ron engasgasse.

O ruivo se virou para Harry, pálido. — Você não tem sentimentos pelo Malfoy, tem? — Ele perguntou, fazendo com que o rosto de Harry corasse ainda mais; dessa vez, por raiva.

— Eu não tenho sentimentos pelo Malfoy! — Harry disse, meio alto demais, fazendo com que algumas pessoas se virassem para encará-lo. Ele revirou os olhos, repentinamente concentrado em suas batatas. Estufou sua boca com um bocado delas e decidiu ignorar Simas e Ron dali para frente.

Hermione o encarava com um olhar curioso, mas não disse nada. Enquanto isso, Harry tentava acalmar as suas bochechas que queimavam sem parar.

Ele cometeu o erro de olhar para cima, para frente, e ver um certo loiro de olhos cinzentos encarando-o com um meio sorriso zombeteiro e uma sobrancelha levantada. Engasgou-se, sentindo mais calor em seu rosto, e agora tinha certeza que até suas orelhas estavam avermelhadas.

Maldito Malfoy.

Harry se preparava para dormir quando ouviu uma batida em sua porta. — Pode entrar. — Ele disse, e Hermione colocou uma cabeça para dentro do cômodo. — Ah, oi Mione. — Disse ele, sentando-se em sua cama.

— Oi, Harry! — Disse ela. — Podemos conversar?

— Claro. — Ele disse. Assim que a garota entrou e se sentou ao lado dele, porém, ele percebeu qual era o assunto.

— Olha, se isso for sobre o Malfoy...

— Harry, só me escute um pouquinho, ok? — Hermione o interrompeu. — Eu não estou dizendo que você tem sentimentos pelo Malfoy. Mas, se você tivesse, isso explicaria muita coisa. — Disse ela, e Harry abriu a boca para interromper, mas Hermione lhe lançou um olhar sério. — Olha... Vocês dois vivem implicando um com o outro desde o primeiro ano. Vivem se provocando, desde os onze anos.

— Ele começou!

— E você aceitou todas as provocações e zombou dele de volta! — Hermione disse. — Olha, não estamos tendo essa conversa para decidir quem começou, ou quem foi o culpado, ok? Mas a sua obsessão por ele, principalmente no sexto ano... Harry, você não acha que há algo mais do que ódio aí? Por exemplo, nós odiávamos a Umbridge, mas não saíamos por aí olhando no Mapa do Maroto para ver o que ela estava aprontando, não a seguíamos, não implicávamos com ela em qualquer oportunidade. — Hermione suspirou. — Mas o Malfoy... Você sempre foi meio... fissurado nele.

— Fissurado? Hermione, você está escutando a si mesma?

— Harry, não ouse dizer que isso é mentira, porque nós dois, não, todos nós sabemos que não é. — Hermione levantou. — Olha, eu só quero que você pense sobre o assunto, ok? Reconhecer um problema é o primeiro passo a resolvê-lo.

— Eu não tenho um problema. — Harry disse, franzindo o cenho.

— Não estou dizendo que gostar de garotos é um problema, Harry, eu só quero dizer que...

— Eu não gosto de garotos! — Harry disse, meio desesperado. — Mione, ouça a si mesma! Olha só o que você está dizendo, você está bem? Você está delirando!

— Eu não estou louca, Harry! — Hermione disse, irritada. — Eu não estou louca, eu sei muito bem do que eu estou falando!

— Tem certeza? — Harry perguntou, cruzando os braços. — Porque não parece que você está sã.

— Harry, porque você está na defensiva? Eu já disse, não tem nada de errado com...

— EU NÃO GOSTO DE GAROTOS! — Harry gritou, seus punhos cerrados, seus olhos ardendo.

Hermione se assustou com a altura da voz do amigo, e deu um passo para trás, com medo do que ele poderia fazer. — Sai daqui, Hermione. Eu não quero mais conversar sobre isso.

— Harry...

— SAI!

Hermione lançou um último olhar para Harry, e foi embora, fechando a porta um tanto violentamente atrás de si. Harry não entendia porque ela estava batendo portas, ele deveria estar batendo portas.

Jogou-se em sua cama, mordendo seu lábio inferior com força. — Eu não gosto de garotos. — Ele disse, num mero sussurro, como se aquilo fosse capaz de mudar tudo que havia acontecido, tudo que ele havia sentido.

Ele não dormiu aquela noite. Sentia muito nojo de si mesmo, raiva de si mesmo e de Malfoy, por estar confundindo a cabeça dele, raiva de Hermione por ter sequer insinuado uma coisa absurda daquelas. Ele não gostava de garotos, de maneira nenhuma.

Tinha certeza daquilo. E nada mudaria. 

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora