Capítulo X

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— Eu não sei como você consegue aturar o Malfoy tanto assim, Harry. — Disse Ron. — Se fosse eu, já teria dado um soco naqueles dentes perfeitos dele. Onde já se viu, ter que aturar aquela peste na aula de poções, na aula de defesa contra as artes das trevas, na fila do médico e na sua família, agora!

— A família é mais dele do que minha, Ron. — Disse Harry, deitado no sofá, massageando suas têmporas. Estava com uma dor de cabeça insuportável.

— Isso não é verdade. Você é padrinho do Ted. Isso é mais do que ser um primo de segundo grau. — Disse o ruivo.

— Pare de amolar o Harry, Ron. — Disse Hermione. — Isso deve estar o desgastando o suficiente, ele não precisa de você no pé dele, também.

Abençoe Hermione. Era verdade que Ron já estava começando a irritá-lo, mas não era tão verdade assim que Draco o estava desgastando. Harry sentia mais como se ele desgastasse o loiro, a julgar pelas caretas que ele fazia sempre que Harry fazia alguma coisa, qualquer coisa, perto dele. Parecia que a respiração do menino que sobreviveu era irritante para Malfoy, e infelizmente, Harry não podia fazer nada sobre o assunto.

Não que ele particularmente quisesse fazer algo sobre o assunto. Ele e Malfoy não tinham nenhum vínculo. Ou assim ele pensava.

— Mas a visita não foi insuportável, foi, Harry? — Hermione perguntou. — Você voltou meio estranho, estamos preocupados. Você também não disse nada no dia, então…

Harry amava seus amigos. De verdade. Eles se importavam com ele como família, a família que Harry não tinha. Mas ele detestava como eles sempre pareciam saber quando havia algo de errado com ele. Aquilo era injusto, Harry queria poder esconder as coisas, também. Ser um livro aberto todo o tempo, o tempo todo, era cansativo. Desgastava sua beleza.

Eca, ele estava começando a soar como Malfoy. Seria a convivência?

— Estranho, como? — Perguntou.

— Não estranho, só… pensativo. — Hermione disse.

Harry pensou por um momento. Contaria para eles o que havia ouvido em segredo? Não, aquilo era simplesmente pessoal demais para ele sair contando por aí, sem contar que Ron provavelmente não iria pestanejar para jogar na cara de Malfoy que sua saúde mental estava decaindo cada vez mais, como se o loiro já não soubesse. Não havia muita tolerância dos Weasley para com os Malfoy, e vice-versa.

— Eu vi o Malfoy rindo. Rindo de verdade. — Disse Harry. — Isso me fez pensar em coisas que ele me disse, esse ano. Cada vez mais, ele parece mais como… sei lá, uma pessoa, sabe?

Ele esperava que os dois rissem, mas eles pareciam pensativos, também. — Você não está pensando em perdoá-lo por tudo que ele fez, está, Harry? — Ron perguntou.

— Não, acho que não. Na verdade, não sei.

— É bom mesmo. Se ele quiser perdão, ele pode se acostumar à ideia de se ajoelhar e dizer "Os Weasley são superiores aos Malfoy". Ou melhor ainda, "Eu sou um retardado e Hermione Granger é a melhor bruxa de Hogwarts". — Ron disse.

Harry sorriu. — Não acho que ele vá dizer isso. Nem sei se ele quer perdão.

— Ele provavelmente acha que é bom demais para receber perdão de nós três. — Disse Hermione.

Harry suspirou, deixando sua mente viajar para os momentos mais recentes que teve com Malfoy. Vê-lo naqueles momentos íntimos, vulneráveis…. Mudava a perspectiva de Harry sobre algumas coisas. O fazia pensar no que levara o garoto a ser um pé no saco quando os dois eram menores.

Talvez ele pudesse perguntar. Claro que ele não responderia, mas valia a pena tentar. Malfoy andava o surpreendendo tanto ultimamente, que talvez fosse possível.

— Eu vou me deitar, estou cansado. — Disse ele, se levantando da poltrona.

Harry segurava a varinha que havia ganhado na batalha de Hogwarts. Aquele pedaço de madeira de espinheiro-alvar, com núcleo de pêlo de unicórnio o trazia lembranças que ele preferiria esquecer.

Ele fechou os olhos, e se lembrou do que aconteceu naquele fatídico dia da batalha de Hogwarts.

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora