Capítulo XII

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Aquelas lembranças lhe invocavam pensamentos que nunca deveriam cruzar a mente dele. O que será que Malfoy estava pensando, sentindo, durante aquela batalha? O que será que se passou pela cabeça dele quando o viu ali, vivo? Mais importante, Harry deveria devolver a varinha de Draco?

Parte dele pensava que sim. Parte dele queria ficar com o objeto. Afinal, não teria ele o vencido de maneira justa? Harry acreditava que sim.

Decidiu parar de pensar em coisas inúteis.

Colocou a varinha em sua mesinha de cabeceira e fechou os olhos. Mesmo que soubesse que não seria tão fácil dormir.

Gritos despertaram Harry de seu precioso sono. Ele a levantou da cama e olhou pela janela, já sabendo o que veria.

O universo o surpreendeu, porém, pois Draco não entrava pelo quarto de Pansy para reconfortá-la. Ao invés disso, ela se levantava de sua cama, saindo do cômodo apressada.

Agora que Harry prestava atenção, os gritos não eram de Pansy, não era uma voz feminina.

Harry saiu de seu quarto, entrando nos outros cômodos da casa, abrindo as cortinas e olhando pelas janelas, procurando o dono daqueles gritos,

— Harry? — Dino perguntava, ainda meio grogue, tendo acabado de acordar.

Harry saiu do quarto antes que pudesse respondê-lo. Entrando no quarto de Hermione e Ron, a encontrou na janela, encarando a casa vizinha. Ela lançou um olhar assustado para Harry, que finalmente entendeu o que estava acontecendo.

Pansy e Zabini tentavam acalmar Draco, que apontava a varinha para eles, gritando coisas que não faziam sentido.

— Vocês não podem me matar! — Ele gritava, e durante alguns segundos, houve silêncio, antes de que ele completasse: — Cala a boca!

A voz dele era chorosa, desesperada. Harry nunca pensou que veria Draco em uma situação daquelas, com os sentimentos tão crus, ele tão vulnerável. Ele pensava que já havia tido um relance da realidade de Draco Malfoy, mas talvez aquela fosse apenas a ponta do iceberg.

Zabini arrancou a varinha de Draco antes que alguém se machucasse, e Pansy viu, pela janela, que Hermione e Harry os espionavam. A garota fechou as cortinas com um olhar raivoso.

Hermione tampou a boca, seus olhos indecifráveis. Parecia confusa, assustada. Harry não imaginava qual seria a sensação de ver aquele que te ridicularizou, por anos, em um momento tão baixo de sua vida.

Não era a mesma coisa que ele sentiu quando Duda foi atacado por Dementadores. Não era a mesma, para ele, ver Draco apavorado.

Hermione se sentou na cama.

— Eu acho que... — Ela começou, mas não pôde terminar.

— Parte de mim achou graça, Harry. — Hermione disse, quando os dois estavam sentados no Grande Salão, tomando café da manhã. — Eu não acredito que achei graça em uma coisa tão horrível daquelas.

— Não acho que alguém possa te culpar, Mione. — Harry disse, suspirando.

— Eu queria ter visto Draco borrando as calças. — Disse Ron, recebendo um olhar fulminante de Hermione.

— Não tem graça, Ron! — Ela disse. — Ele parecia completamente alucinado, estava apavorado. Parecia que estava ouvindo coisas, vendo coisas. Muito pior do que os nossos pesadelos.

— Não me impressiona. — Ron disse. — Afinal, a casa dele não se tornou o QG dos comensais durante a guerra? Ele deve ter visto muitas coisas.

— Parecia que algo estava acontecendo com ele, Ron. Como se fosse uma lembrança, como se ele já tivesse vivido aquilo. Parecia tão específico, não acho que tenha sido algo da cabeça dele. Ele disse "você não pode me machucar", "ele não vai gostar nada disso", e outras coisas. — Disse Hermione.

Harry, enquanto os dois discutiam, olhava para o espaço vazio em que Draco normalmente costumava se sentar no Grande Salão. Nem ele, nem dia gangue estavam ali. Será que algo havia acontecido?

Ele sentiu alguém puxando-o para trás.

— Goyle! — Hermione gritou. Os oitavanistas da mesa da Grifinória se levantaram, indignados por verem Potter, Santo Potter, sendo arrastado para fora do Grande Salão pelo Sonserino, Goyle.

Harry foi jogado contra a parede, e uma varinha foi colocada em seu pescoço.

— Você acha que é engraçado? — Pansy sibilou, forçando a varinha na jugular de Harry. — Você acha que somos um circo, ou um grupo de teatro que você pode ficar assistindo pelas janelas da sua casa?

Blaise Zabini estava atrás dela, de braços cruzados e olhar frio. Apenas Malfoy não estava lá, com o resto de seus amigos. Ele provavelmente nem sabia o que estava acontecendo naquele momento.

— Eu ia deixar passar se fosse só eu, Potter. — Ela cuspiu seu nome como se fosse algo nojento, asqueroso, se dirigia a ele como se ele fosse um verme. — Mas a partir do momento que você e sua amiguinha espionam Draco, o problema vira outro.

Harry não tinha desculpas ou justificativas. Não tinha porquê ter assistido aquela cena, não tinha porquê ter procurado o autor daqueles gritos. E ainda assim, o fez, e não conseguia se explicar.

— Se eu te pegar bisbilhotando de novo, Potter, você não vai ser mais capaz de bisbilhotar ninguém, nunca mais. — Disse ela, o soltando.

Os três lhe fuzilaram com o olhar, antes de virarem as costas e sumirem pelo corredor.

Ron e Hermione chegaram logo depois, querendo saber o que havia acontecido. Ele disse que não precisavam se preocupar, que a culpa havia sido dele, por mais que ele não gostasse de admitir.

Suspirou, se preparando para a pior aula de poções que teria até ali.

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora