Capítulo XXII

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A primeira coisa que Draco ouviu quando acordou foi uma briga.

— Ele não quer você aqui, Potter. — Disse uma voz feminina, parecida com a de Pansy. Abençoe essa garota, Merlin. Draco definitivamente não queria ter que ver o rosto do maldito Potter assim que acordasse.

— Eu preciso falar com ele. — Disse o salvador do mundo bruxo, bem baixinho. Quase tão baixo que Draco não conseguiu ouvir. Sua voz parecia recheada de culpa, e ele não queria ser aquele que tinha que lidar com Harry Potter se sentindo culpado. Aliás, por que ele estaria culpado? Não fazia o menor sentido, ele não havia feito nada! Ele havia até mesmo, ugh, o salvado, jogando o Expelliarmus naquele garoto rápido o suficiente para que a maldição não o atingisse em cheio.

Sim, todos abençoem o Potter, por ter impedido que mais um pobre coitado partisse dessa para a melhor.

— E que assuntos são esses que você quer tratar com ele? — Pansy perguntou, e Draco conseguia imaginá-la erguendo uma de suas sobrancelhas perfeitas para Potter. — Saiba que tudo que você disser para ele vai chegar a nós, então, honestamente, é inútil nos mandar embora.

Sim, Pansy! Mostre para esse ridículo quem é que manda!

Draco não queria ter que ficar sozinho com Potter de maneira nenhuma, principalmente depois que, da última vez que eles ficaram sozinhos, Potter acabou o questionando sobre a sua sexualidade. Ele definitivamente não queria retornar a esse assunto.

— Ele acordou. — Disse Blaise. Oh, então ele também estava ali. Draco se sentia cada vez mais seguro.

— Como você sabe? — Perguntou Goyle.

— Bem, a não ser que ele franza o cenho até quando está babando... — Blaise disse, e Draco caiu feito um patinho.

— Eu não babo! — Ele disse, abrindo os olhos, cruzando os braços. — Que audácia!

Goyle apontou para seu próprio queixo, como se quisesse indicar alguma coisa para Malfoy, que acabou fazendo o mesmo. Realmente, seu rosto estava molhado, e ele sentiu suas bochechas esquentarem. — Calem a boca, todos vocês! — Ele exclamou, cruzando os braços.

Seus amigos riram. Potter permaneceu ali, encarando Draco como se ele fosse um fantasma. Não, eles estavam acostumados com fantasmas - o encarava como se ele fosse um Dementador. Seu rosto estava pálido, suas olheiras proeminentes e os lábios sangravam, provavelmente porque foram mordidos viciosamente.

Harry Potter não encarava Draco Malfoy nos olhos, porém. Seus orbes esmeralda estavam grudados no tórax de Malfoy. Mais especificamente, nas linhas profundas que marcavam a sua pele de mármore, vestígios de um encontro nada prazeroso entre os dois.

— Eu... Eu fiz isso? — Potter perguntou, sua voz falhando. Agora que Draco observava bem, o moreno parecia realmente abalado, e seus olhos estavam vermelhos como se ele fosse chorar a qualquer momento.

Pansy, Blaise e Goyle pararam de rir e encararam os dois garotos. Malfoy desviou os olhos do moreno, e Blaise suspirou, respondendo a pergunta de Harry Potter:

— Sim. Foi você.

A sala mergulhou em um silêncio tenso, e antes que qualquer um pudesse dizer qualquer coisa para aliviar o clima, Harry deu meia volta e andou apressadamente para fora da enfermaria, os punhos cerrados e dentes mascando seu lábio inferior.

Ótimo! Agora que ele se sentia culpado, deixaria Malfoy em paz por pelo menos alguns dias.

— Você parece estranhamente feliz. — Disse Blaise.

— É porque agora eu finalmente terei paz! — Draco disse, triunfante.

— Não deveria estar tão feliz assim, Draco. — Disse Pansy. — Por mais que eu não goste de Potter, ele te salvou de um destino trágico. Você deveria ao menos agradecê-lo.

— Bem, quando ele se arrepender de ter tentado me dar o mesmo destino trágico no sexto ano, talvez eu o agradeça. — Disse ele. — Você tem que admitir Pansy, ele só saiu culpado dessa maneira porque sabe que a culpa de eu ter essas cicatrizes foi dele.

Pansy nada disse. Apenas sentou-se na beirada da cama e mudou de assunto, falando sobre o que tinha acontecido com Yaxley, o garoto que tentara explodí-lo. De acordo com ela, os pais dele foram chamados e o menino fora expulso por tentar matar um colega de classe.

— Ele só tem doze anos... — Draco murmurou. — E ele não sabia o que o feitiço fazia.

— Você acredita mesmo numa baboseira dessas? Yaxley é um puro-sangue, não tem como ele não saber o que maldições fazem. — Disse Pansy, revirando os olhos. — Ele tentou te matar, Draco, e se eu fosse diretora da escola, eu teria feito muito pior do que só expulsar o garoto. Eu o jogaria em Azkaban por tentativa de homicídio!

— Você não pode jogar uma criança em Azkaban, Pansy. — Disse Draco.

— Ah, é? Pode ter certeza de que eu tentaria! — Disse ela, cruzando os braços.

Os dois continuaram conversando. Era incrível como Pansy conseguia fazê-lo se distrair de praticamente todos os seus problemas. Ele era muito grato por ter alguém como ela em sua vida. Também era muito grato por ter Blaise e Goyle. Nenhum deles eram os mesmos depois da guerra, mas tudo bem, porque Malfoy também não era. Eles estiveram juntos durante a pior época de suas vidas, e não seria agora que se separariam.

Aquilo, de certa forma, aquecia o coração de gelo do Príncipe da Sonserina. 

Cicatrizes e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora