Capítulo 15.

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Eu estava dormindo com o braço sobre as costas desnudas de Bernardo, meu corpo ao lado do dele. Eu não me movido se não tivesse escutado uma batida forte à porta.

Bernardo se pôs de pé quase que de imediato e foi até ela, abrindo-a. Era Bruno, o amigo dele.

— Oi, cara. Desculpa te acordar assim. — eu ouvi Bruno murmurar.

— Sem problemas. Está tudo bem? Que horas são?

— São cinco da manhã. E sim, está tudo bem. Só estou queria te avisar que estamos indo. Vou acordar a Clarice e partiremos.

— Tem certeza? Vocês podem ficar o tempo que quiser e...

— Bernardo, eu sei que você tem coisas para resolver também. E não acho que seja seguro ficar muito tempo por aqui.

Eu vi Bernardo assentir. Em seguida, ele abriu a porta e deu um forte abraço no amigo. Trocaram mais algumas palavras, mas não me lembro o que disseram. Eu caí no sono mais uma vez.

+++

Na segunda vez que acordei, eu soube que era para valer. Isso porque, assim que eu ouvi a voz feminina vindo da sala do apartamento, a mesma conversando com Bernardo, eu senti um pingo de ciúmes. Isso até eu reconhecer de quem vinha.

Eu me levantei em um pulo e abri a porta do quarto para dar de cara com parte da sala, Bernardo e Juliana de pé, conversando sobre o estado de meu pai.

— Juliana! — eu corri até ela e a abracei. A felicidade que ela emanava era visível — e eu sabia que era por conta de Bernardo estar vivo, e não em coma. — É tão bom te encontrar e não te ver desmaiar!

Nós duas rimos.

— É realmente bom saber que os dois estão bem. Quando Bernardo ligou... tomei um grande susto. Achei que estivessem longe. Os noticiários não param de falar de vocês. — ela explicou.

— Eu realmente não teria ligado e te metido nisso tudo se não precisássemos de sua ajuda — Bernardo se intrometeu.

— Eu já estava metida nisso antes mesmo de você acordar do seu falso coma, então, nem tente se explicar. É claro que eu iria ajudar. — Juliana sorriu.

— Posso saber o que é que está acontecendo? — eu quis saber. Bernardo parou em minha frente e segurou as minhas mãos antes de falar.

— Você entende a situação, não entende? Que precisamos ir atrás daquilo antes que outros encontrem? E antes que encontrem você e seu pai e os acusem por coisas inverídicas?

Eu fiz que sim.

— Juliana está aqui para cuidar do seu pai. — ele terminou. — Nós precisamos ir logo. Tipo, agora.

— Não se preocupe, minha flor. Eu irei cuidar dele. E se precisar ligar... Bernardo sabe como se comunicar. — ela continuou.

Eu sentia um frio me percorrer. Eu sabia que meu pai não corria risco de vida, mas era a primeira vez que eu deixava seu lado quando ele mais precisaria. E, pior — era a primeira vez que eu deixava a minha cidade para uma viagem cujo destino estava desenhado nas costas de Bernardo.

— Bom... se eu tenho que fazer isso, é melhor que ele esteja com alguém que saiba o que está fazendo. — eu consegui dizer. — Por favor, me avisa de qualquer coisa, tudo bem? — eu olhei firmemente nos olhos de Juliana. Ela assentiu e me deu mais um abraço. Eu me virei para Bernardo. — Você espera eu me despedir e me trocar?

Ele assentiu e eu dei as costas, indo até o quarto em que papai dormia calmamente. Eu me ajoelhei ao lado da cama, próximo do lado em que ele estava deitado, e segurei firme em sua mão. Com a outra, toquei em sua testa e percebi que não estava mais febril. Estava um pouco corado no rosto, mas parecia saudável. Eu sabia que ele ficaria bem. Ele tinha de ficar.

— Pai... — eu comecei a falar, baixinho. — Eu vou dar uma saidinha com Bernardo, mas eu prometo não demorar, tá? — eu senti algumas lágrimas brotarem em meus olhos. Eu esperava que ele ficasse bem. Que ninguém o encontrasse e o acusasse das coisas que estávamos sendo acusados. Que nada desse errado enquanto eu ia para longe dele, por sei lá quantos dias, pela primeira vez. — Só vou resolver uns negócios sobre um tesouro aí e... — eu funguei, para não deixar as lágrimas caírem. — E eu sei que vai dar tudo certo.

Pus-me de pé imediatamente e depositei um beijo na testa dele. Papai parecia sorrir, apesar de estar em sono profundo. Eu saí dali o mais rápido possível, para não mudar de ideia de uma vez por todas. Peguei uma nova muda de roupa, fui até o banheiro e me troquei. Quando estava pronta, finalmente, eu fui até Bernardo e nós partimos de Joinville.

+++

— Você terminou o desenho em mim, antes de eu cair no sono? — ele perguntou, logo após nós termos saído da cidade. Bernardo quebrou a sincronia de meus pensamentos voltados à segurança de meu pai.

— Terminei — eu respondei, olhando para ele. — Por quê?

— Você percebeu onde o tesouro fica, não percebeu?

Eu engoli em seco. Eu pensei que poderia mostrar a ele uma foto de suas costas e que ele se lembraria dos mapas que vira quando criança... mas a verdade é que, após juntados os pontos, o lugar ficava evidente para qualquer conhecedor de geografia.

— Você sabe, agora, porque precisamos da bússola, não sabe?

Eu fiz que sim. — O tesouro pode estar em qualquer lugar em Fernando de Noronha — eu conclui. — Não há nenhum “X” em sua tatuagem indicando onde está escondido. Você sabia todo esse tempo — eu balancei a cabeça. — Por que não me disse?

— Por que eu queria te mostrar. — ele sorriu. Tirou uma das mãos do volante e colocou sobre a minha, que pousava em minha coxa. — Eu confio em você, Alice. E eu queria que você sentisse isso.

— Obrigada, Bê — eu respondi, me ajeitando sobre o assento e me virando para ele.

Eu gostava de vê-lo concentrado, o cenho um pouquinho franzido e os olhos fixos na estrada. O modo como seu cabelo caia sobre a testa e sua pele parecia bronzeada quando o sol refletia em seu rosto. Por mais que a parte sã de mim quisesse negar, as borboletas voando agressivamente em meu estômago mostravam a verdade: eu estava, de fato, apaixonada por Bernardo.

— Qual o seu plano, afinal? — eu perguntei. — Passar dias em um carro até chegarmos no norte do Brasil? Contratar alguns seguranças, caso aqueles caçadores de tesouros venham atrás de nós? Eu gosto da segunda ideia.

Bernardo riu. — Nós utilizaremos um método mais seguro.

Eu ergui uma sobrancelha.

— Que método?

— Bom, a instituição de meus pais tem um convênio com uma empresa de navio cargueiros, de modo que, quando não podíamos estar na África, os navios é que levavam os mantimentos. Sendo assim, nós pegaremos um para nós e iremos até o norte. Sem ninguém para nos alcançar em alto-mar. O único problema — ele franziu o nariz. — será ter de lidar com os “marinheiros” vendo uma garota tão bonita como você por lá.

Eu rolei os olhos. — Isso não é verdade. Mas sua ideia é boa, também. Já que estamos indo para um porto, acho melhor eu avisar logo: eu nunca andei de navio, barco, que seja, antes.

Bernardo gargalhou na mesma hora.

— Você não vai passar mal, meu anjo. Fique tranquila.

Mas meu estômago já não estava gostando da ideia.

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