Capítulo 10.

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Eu queria dizer que eu fora a primeira a acordar, que havia preparado o café e tivesse concebido um plano genial. A verdade é que eu estava tão cansada que não fazia ideia do quanto havia dormido. Eu abri meus olhos para dar de cara com Bernardo, sentado na beira de minha cama, sorrindo enquanto acariciava meus cabelos.

— Bom dia — ele murmurou.

— Pelo amor de Deus, Bernardo, isso não é hora para me ver — eu me escondi embaixo das cobertas. — Estou com a cara inchada e com meus olhos mal se abrindo.

— Ei — ele puxou o cobertor e sorriu. — Você é mais bonita do que pensa. — deixou um beijo em minha testa e eu senti um arrepio me percorrer. — Acha que está pronta para almoçar?

— Almoçar?

— É meio-dia. Eu não quis te acordar e... bem, seu pai pediu para eu ficar de olho na casa, enquanto ele ia para o trabalho. Eu fiz o almoço, se não se importa. — Bernardo começou a se levantar. Eu percebi que papai havia lhe dado outras roupas; vestia uma calça jeans menos larga e uma camiseta pólo branca. Eu quis convidá-lo para se deitar comigo, mas deixei o pensamento escapar. — Vou deixar que você se troque e te encontro na cozinha, tudo bem?

— Tudo bem — eu sorri, e ele saiu.

Creio que nunca me arrumei tão rápido em toda a minha vida. Fui até o banheiro, tomei um breve banho, e coloquei uma calça jeans e uma regata qualquer. Eu precisava estar em roupas confortáveis pelo resto do dia, afinal, não sabia o que poderia me acontecer — sem contar o fato de que e tinha aulas a frequentar.

Eu corri pelos degraus quando estava pronta, encontrando Bernardo sentado à mesa de centro da cozinha, um prato em sua frente, e outro ao seu lado. Ele sorriu ao me ver e se levantou, puxando a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse. Agradeci o gesto e esperei para que ele se juntasse a mim; entretanto, ele fez questão de ficar em pé e me servir da deliciosa macarronada que havia preparado.

— Pelo cheiro, você deve ser um ótimo cozinheiro, mesmo — falei, enquanto ele colocava meu prato em minha frente.

— Você não faz ideia. — ele riu e se serviu também. Somente então sentou-se ao meu lado.

Eu coloquei a primeira garfada em minha boca e senti o paraíso em minhas papilas, deixando um gemido escapar. Ele, de fato, sabia cozinhar. E muito bem.

— Bom saber que causo esse tipo de reação em você — ele riu, enquanto levava uma garfada até sua boca.

— Você é um bobo — eu coloquei mais um pouco na boca. — Eu acho que não como algo tão bom desde... — eu parei. Respirei fundo antes de continuar. — Desde quando minha mãe cozinhava.

— Se você gostou tanto, pode ir se preparando. Farei pratos tão bons quanto sua mãe fazia. — ele pareceu orgulhoso. — Acha que ela gostaria de minha macarronada?

Eu abri um leve sorriso. — Ela amaria. E pediria a receita.

— Isso é bom. Minha mãe também gostaria.

— Vocês eram bastante próximos, não? — eu pedi.

— Muito. Não só por conta de toda a história de Cabral, mas desde que nasci. Ela sempre me incentivava a ser uma pessoa melhor, entende? Acho que eu consegui um pouco disso. Mas ainda há muito para eu fazer.

Eu havia largado meus talhares e estava apenas o observando. Era difícil acreditar na pureza que Bernardo emanava.

— Eu acho que você é capaz de fazer o que quiser. Você é bom, Bernardo. E eu sei que seus pais eram, também.

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