capítulo 8.

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Enquanto meu pai segurava firme o crachá de Juliana com uma mão, com a outra ele andava pelo corredor e sinalizava para que eu e Bernardo o seguíssemos. Nós não pegamos o elevador; havia escadas de emergência em caso de incêndio. Ele abriu a porta com um empurrão de ombros e nós começamos a descer os degraus, que eram iluminados por uma placa de “Emergência”, em luz vermelha. Chegamos no primeiro andar rapidamente. Meu pai abriu uma pequena fresta da porta e observou o que havia ali. Ele voltou imediatamente.

— Como eram as pessoas que você viu na casa de Bernardo? — ele perguntou para mim.

— Eu não vi... estava escondida embaixo da cama. A mulher usava uma bota de salto alto e os homens, coturno.

Meu pai assentiu. — São eles.

— Foram rápidos. — eu consegui dizer.

— Vocês foram mais, ainda bem. — Bernardo suspirou.

Papai abriu a porta mais uma vez e, espiando, sinalizou para que saíssemos rapidamente. Foi o que fizemos, sem olhar para trás, apenas seguindo-o para o final de um corredor. Ele usou do crachá em um pequeno painel eletrônico à parede, o qual autorizou nossa saída para o estacionamento do hospital. Quando saímos, eu pude ver o alívio em nossos rostos — principalmente no de Bernardo. Nós fomos guiados até o carro de meu pai, sempre andando a passos rápidos, e, assim que entramos, a nossa saída dali foi rápida. Já estávamos pelas ruas da cidade quando o silêncio dentro do veículo cessou.

— Bernardo, eu sinto muito por sua perda. — meu pai disse, olhando o garoto pelo retrovisor.

— Obrigado. De verdade. Você e sua filha têm sido muito gentis comigo.

— Nós queremos te ajudar. E... ajudar com toda essa história maluca de tesouro.

Bernardo riu.

— Eu sei que é confuso. Eu vou explicar melhor.

— É melhor, mesmo. Ficará em nossa casa até a situação se acalmar, tudo bem? E eu farei uma janta boa para nós. Imagino que deva estar com fome. — papai continuou.

Morrendo. — ele ironizou, nos fazendo rir. — Não aguentava mais receber aquele soro hospitalar. Preciso de comida.

Por um momento, pude jurar que ouvi sua barriga roncar. Ele devia estar, mesmo, faminto.

Nós chegamos em casa e papai se certificou de que todos os portões estavam trancados. Mesmo depois de entrarmos, ele trancou as portas de entrada e saída, por precaução. Ele foi direto para a cozinha e deixou que eu mostrasse a casa para Bernardo. Foi então que a situação me acertou como uma facada.

Era a primeira vez que eu levava um garoto para casa. E meu pai estava de boa com aquilo. E eu estava nervosa, sem entender direito o motivo. Tudo bem, Bernardo era terrivelmente lindo. E ele era uma pessoa boa. E ele corria perigo. E eu iria enlouquecer a qualquer momento.

Bernardo me seguiu pelas escadas. Eu parei em frente ao meu quarto, deixando que ele entrasse primeiro.

— Bom, esse é o meu quarto. — falei. Ele sorriu e começou a olhar em volta.

— Por incrível que pareça, é a primeira vez que entro no quarto de uma mulher. E o seu não deixa a desejar. Quantos livros! — ele correu os olhos pelas estantes lotadas que eu tinha.

— Então, não está acostumado a ser convidado a entrar em quartos como esse? — eu provoquei, sentando em minha cama.

— Ah, normalmente, era eu quem as convidava para o meu. — ele soltou, fazendo uma careta logo em seguida. — Mas não precisamos falar disso.

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