Enquanto meu pai segurava firme o crachá de Juliana com uma mão, com a outra ele andava pelo corredor e sinalizava para que eu e Bernardo o seguíssemos. Nós não pegamos o elevador; havia escadas de emergência em caso de incêndio. Ele abriu a porta com um empurrão de ombros e nós começamos a descer os degraus, que eram iluminados por uma placa de “Emergência”, em luz vermelha. Chegamos no primeiro andar rapidamente. Meu pai abriu uma pequena fresta da porta e observou o que havia ali. Ele voltou imediatamente.
— Como eram as pessoas que você viu na casa de Bernardo? — ele perguntou para mim.
— Eu não vi... estava escondida embaixo da cama. A mulher usava uma bota de salto alto e os homens, coturno.
Meu pai assentiu. — São eles.
— Foram rápidos. — eu consegui dizer.
— Vocês foram mais, ainda bem. — Bernardo suspirou.
Papai abriu a porta mais uma vez e, espiando, sinalizou para que saíssemos rapidamente. Foi o que fizemos, sem olhar para trás, apenas seguindo-o para o final de um corredor. Ele usou do crachá em um pequeno painel eletrônico à parede, o qual autorizou nossa saída para o estacionamento do hospital. Quando saímos, eu pude ver o alívio em nossos rostos — principalmente no de Bernardo. Nós fomos guiados até o carro de meu pai, sempre andando a passos rápidos, e, assim que entramos, a nossa saída dali foi rápida. Já estávamos pelas ruas da cidade quando o silêncio dentro do veículo cessou.
— Bernardo, eu sinto muito por sua perda. — meu pai disse, olhando o garoto pelo retrovisor.
— Obrigado. De verdade. Você e sua filha têm sido muito gentis comigo.
— Nós queremos te ajudar. E... ajudar com toda essa história maluca de tesouro.
Bernardo riu.
— Eu sei que é confuso. Eu vou explicar melhor.
— É melhor, mesmo. Ficará em nossa casa até a situação se acalmar, tudo bem? E eu farei uma janta boa para nós. Imagino que deva estar com fome. — papai continuou.
— Morrendo. — ele ironizou, nos fazendo rir. — Não aguentava mais receber aquele soro hospitalar. Preciso de comida.
Por um momento, pude jurar que ouvi sua barriga roncar. Ele devia estar, mesmo, faminto.
Nós chegamos em casa e papai se certificou de que todos os portões estavam trancados. Mesmo depois de entrarmos, ele trancou as portas de entrada e saída, por precaução. Ele foi direto para a cozinha e deixou que eu mostrasse a casa para Bernardo. Foi então que a situação me acertou como uma facada.
Era a primeira vez que eu levava um garoto para casa. E meu pai estava de boa com aquilo. E eu estava nervosa, sem entender direito o motivo. Tudo bem, Bernardo era terrivelmente lindo. E ele era uma pessoa boa. E ele corria perigo. E eu iria enlouquecer a qualquer momento.
Bernardo me seguiu pelas escadas. Eu parei em frente ao meu quarto, deixando que ele entrasse primeiro.
— Bom, esse é o meu quarto. — falei. Ele sorriu e começou a olhar em volta.
— Por incrível que pareça, é a primeira vez que entro no quarto de uma mulher. E o seu não deixa a desejar. Quantos livros! — ele correu os olhos pelas estantes lotadas que eu tinha.
— Então, não está acostumado a ser convidado a entrar em quartos como esse? — eu provoquei, sentando em minha cama.
— Ah, normalmente, era eu quem as convidava para o meu. — ele soltou, fazendo uma careta logo em seguida. — Mas não precisamos falar disso.
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O projeto.
RomanceAlice Pardal não está preocupada com as notas que terá durante o semestre de sua faculdade de Psicologia; ela sabe que é inteligente e que, se estudar um pouco, já dá conta do recado. O problema é os projetos comunitários que ela precisa fazer, para...