Evitando o Inevitável

O encontro dos May

Gwilym estava definitivamente nervoso, a ponto de quase se arrepender de ter aceitado aquele convite. Mas como recusaria? Ele estava prestes a interpretar Brian May, que foi tão gentil com ele desde que o conheceu e depois a Sra. May foi ainda mais generosa, o convidando para um jantar, o ajudando com seu novo trabalho, se oferecendo para conversar sobre quem era o guitarrista, muito além do seu papel na banda, mas também como membro da sua família.

É claro que seria mais fácil Gwilym ficar em casa, assistindo inúmeros vídeos do Queen e de Brian, treinando em frente do espelho, imitando todos os trejeitos que ele já tinha reparado até agora, mas pensando melhor, usando seus métodos de interpretação, chegou à conclusão de que seria muito mais proveitoso conversar com a própria pessoa que interpretaria, que estava disposto a contar histórias e responder todas as perguntas que o ator gostaria de fazer. Isso era uma coisa rara quando se interpretava uma pessoa real, e era uma oportunidade que ele não poderia perder. Foi assim que se acalmou, começando a se arrumar para o jantar.

Terminando de decidir o que iria vestir, ele suspirou fundo, decidindo aproveitar o jantar e ser o mais cordial possível. Ficou em dúvida se se vestiria de forma muito formal, ou casual demais, Chrissie e Brian tinham sido bastante descontraídos no convite, por isso ele conseguiu manter um visual que balanceava as duas coisas, arrumado, mas não exagerado. A camisa por cima da calça, um paletó escuro avulso, as calças jeans e os sapatos sociais.

Depois de pedir um táxi, esperou na portaria de seu prédio e, assim, ele tomou o caminho até a casa dos May em Barnes. Em outra parte de Londres, Louisa ainda se sentia desconfortável com a pressão que sua mãe tinha colocado na sua presença. Era claro que ela não queria se envolver com mais nada que estivesse relacionado ao Queen, mas não participava de um jantar assim com sua família já fazia um tempo, e ainda por cima, se lembrou do seu pai, do quanto ele ficaria feliz se ela fosse. Se havia alguém que Louisa amava e se esforçava para fazer feliz era o seu pai, que apesar de tudo, sempre deu seu máximo para cuidar dela e de seus irmãos.

-Tá legal, só por vocês vou fazer isso... - ela murmurou para o porta retrato na penteadeira, uma foto dela aos 14 anos, com os pais  ao seu lado.

Sem nem desconfiar que compartilhava das mesmas dúvidas do convidado de honra do jantar de seus pais, Louisa decidiu se vestir como se vestiria para mais um dia de trabalho, não completamente formal, não completamente desleixada. Uma camisa xadrez, com a calça jeans escura, sapatilhas e seu cardigã favorito por cima. Olhando no espelho, agitou o cabelo para se distrair da sensação estranha que estava sentindo, decidindo prendê-lo no alto da cabeça. Assim, decidiu que estava pronta, indo pegar o metrô até Barnes.

A vista da velha casa onde tinha passado sua infância e adolescência era um alívio para Louisa, o que ajudou a espantar a preocupação. Sem cerimônia, abriu a porta da frente que não estava trancada, e antes de chamar por alguém, sorriu ao olhar dentro da casa, com poucas mudanças, desde que tinha se mudado dali.

-Mamãe? - perguntou a moça, ansiosa por rever Chrissie.

-Ah você veio! - a sra. May recebeu a filha com alegria - que bom que veio, e está adiantada, até!

-Ah mamãe, depois de tão solene pedido de sua parte, comoveu-me de tal forma que não poderia recusar! - Louisa disse num tom formal de brincadeira, dando um abraço demorado em sua mãe, parte por exagero debochado, parte por saudade genuína.

-Para com isso, menina, isso não é justo comigo - Chrissie chamou a atenção dela, mas riu.

-É porque a senhora é exagerada e dramática - explicou Louisa.

-Você tem sorte de eu ter sentido falta do seu senso de humor - a sra. May acabou entrando na brincadeira - vem, Rory e Isaac já chegaram.

-Ah que ótimo! - disse Louisa aliviada, já que não teria que enfrentar o bendito jantar sozinha.