Amuleto

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Os dois mantiveram-se deitados naquele chão, lado a lado olhando um para o outro. Clara pega a  mão de Thomas brincando com os dedos, ela compara o tamanho de sua mão com a dele.

Thomas só a encara com um olhar fixo e intenso.

– Quero te dar uma coisa – Ele diz apalpando a roupa, como se tivesse procurando por algo. Nessa hora os dois se sentam e ela questiona:

– O que é?

– Espera… AAqui!... É isso – Ele entrega a ela meio sem graça.

Era um colar artesanal com uma bela pedra nas cores verde e azul, envolvida por um arame em forma de árvore.

– É lindo!...

– Vó Teresa disse que era de minha mãe, ela pôs junto a mim quando me entregou a ela. Disse que me protegeria… A vó acredita mesmo nessas coisas…

– Como um amuleto?

– É… Parece bobo né?... Deve ser por isso que nunca me separei dele…

– Thomas eu não posso aceitar, pertenceu a sua mãe – Ela lhe entrega novamente o colar.

– Por favor, eu quero que aceite! – Ele diz agora colocando nas mãos dela e fechando suas mãos sobre as dela.

Clara logo responde com um sorriso discreto:

– Pode colocá-lo então? – Ela virá-se, enquanto ele afasta seus cabelos colocando o colar em seu pescoço. Não resiste em acariciar a pele macia e beijar a sua nuca.

Aquilo parecia tão bom, tê-lo por perto, sentir o seu toque, era como um porto seguro para Clara, enquanto que ele parecia mais vulnerável perto dela.

Os dois retornam do transe que provocavam um no outro. Clara olha para baixo e toca no colar tentando analisar como ficou.

– Então?... Como estou? – ela pergunta, virando-se para ele.

– Parece que foi feito para você.

– Nunca mais tirarei ele! – Clara fala se exibindo animada.

Thomas sorri e aproxima-se para beijá-la, ela afasta o rosto com uma risadinha, como quem quisesse brincar com ele. Em seguida, volta a deitar-se no chão.

Ele ri de volta e deita em seu lado.

– Eu poderia passar o resto da vida aqui! – Ela afirma, dando um selinho nele. Mas Thomas não se conforma e a puxa para si e dá um beijo ainda mais fervoroso.

Clara se agarra em seu peitoral largo, enquanto ele a envolve em seus braços. Os dois permanecem ali até pegarem no sono.

O dia amanhece, Clara acorda voltando para a realidade.

– Eu dormi aqui?

Thomas acorda no susto, ao ouvir o que dissera…

Os dois se encaram nervosos.

– Meu Deus, o que farei?... Nunca dormi fora de casa, principalmente depois de ter fugido daquele jeito… Meus pais já devem estar loucos, colocando buscas atrás de mim!

– Ter fugido? – Thomas questiona ainda confuso.

– É uma longa história – Clara se ajeita rapidamente e saí, sem ao menos se despedir direito.

Thomas passa a mão no rosto, tentando acreditar que tudo aquilo foi mesmo verdade. Então retorna também para casa.

Ao chegar, Clara é recebida por seus pais que estavam conversando com um grupo em sua casa.

Quando a vê, sua mãe corre ao seu encontro.

– Minha filha… Até que enfim você apareceu, já estava desesperada achando que tinha acontecido algo com você…

– Espere Marta, agora quem vai falar aqui sou eu! – Charlie toma a frente, partido furioso até a filha.

– Charlie, por favor! – diz sua mãe aflita.

– Não!... Agora ela vai me ouvir! Ontem nunca fui tão humilhado, Bryan ficou aqui plantado enquanto sua mãe correu a casa inteira a sua procura. Você saiu sem explicação, fazendo a gente passar o maior vexame, e ainda passou a noite fora! Me explica o que acha que está fazendo? Aonde você foi? Onde passou a noite, Clara? – ele esbraveja transtornado.

– Eu… Eu estava vagando por aí, não tive coragem de voltar para casa… – Clara responde gaguejando, sem saber o que dizer.

– Vagando por aí?... Eu rodei cada canto desse reino! Porque você faz isso? Quer nos humilhar, é isso? Manchar o nosso nome?

– É só nisso que pensar, manter o status de seu nome!... Eu já estou cansada disso!... Viver apenas de aparências para a sociedade… Eu não sou apenas um nome! Foi por isso que fugi, não aguento mais viver assim. Eu nunca vou me casar com aquele homem, nunca! – Clara dispara, já com as lágrimas escorrendo em seu rosto.

– Você está completamente fora de si! É uma desequilibrada! – seu pai responde, encarando-a dos pés a cabeça, com um ar de desaprovação.

– Se sou, foram vocês que me tornaram uma!

– Então eu vou tratar de consertar isso!

Todos ficam espantados na hora…

– Charlie, não!... Ainda não decidimos nada! – Marta se manifesta, agarrando o braço do marido.

– Eu já decidi Marta!... Anda Clara, sobe para o seu quarto! – ele responde fazendo sinal com a cabeça para que ela saia.

_ E o que o senhor vai fazer? – Clara pergunta assustada.

– Você saberá, agora vá! – ele fala apontando para a escada.

Clara fecha-se no quarto, completamente trêmula. Essa briga com certeza foi muito pior do que a outra, nunca ouviu seu pai falar daquele jeito… Que atitude é essa que ele tomará?

Algumas horas depois, Clara ouvi a voz do seu pai ecoar fortemente.

– Clara… Clara… Desça já aqui!

Ela desce nervosa, temendo pelo que lhe espera.

– Me chamou?

Seu pai estava na sala acompanhado de sua mãe e mais duas pessoas estranhas.

– Esse é o Dr. Bernard, um excelente psiquiatra – ele fala apontando para um senhor alto e sério que estava a seu lado.

– Psiquiatra? – Clara questiona-o sem entender

– Dr., essa é a minha filha de que lhe falei. Ela vem tendo um comportamento estranho que nos preocupa. Acreditamos que está sofrendo de crises de ansiedade… – ele continua a falar como se não à ouvisse.

– Sim, eu entendo!... Isso é comum nessa idade…

E eles pareciam conversar analisando-a como se ela não estivesse ali.

– Mas o que está havendo aqui afinal?... Pai eu não estou louca!... Porque trouxe esse senhor para cá? – Clara insiste aumentando a sua voz. Até que finalmente seu pai lhe dirige a palavra:

– Eu já encaminhei um documento para o seu trabalho, comunicando seu afastamento. O Dr. Bernard irá atestar o seu estado, ele acompanhará o seu caso a partir de agora… E essa é a senhora Olga, ela cuidará de você, será a sua sombra!... De casa você não sai, e nem ficará sem supervisão.

– Não pode estar falando sério!... O senhor não pode fazer isso!

– Já está feito!

Quando terra e água se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora