A pequena Stella estava prestes a completar um ano. Em aniversários como esse, todo o reino parava, era feita uma grande celebração. Não havia mais como escondê-la do mundo, Stella seria apresentada para todo o reino. Em breve todos poderiam ver o que Clara tanto escondia.
Bryan esse tempo todo restringiu-se a apenas insinuações. Deixava sempre a sensação de medo em Clara, como se estivesse planejando algo ou esta era a forma de mantê-la em suas mãos.
Clara adormeceu recostada em uma poltrona próxima ao berço de Stella. Bryan aproximava-se da pequena sempre em momentos como esse. Ela acorda no susto, vendo Bryan em pé encarando a menina.
– O que está fazendo?... Deixe minha filha dormir em paz...
– Porque faz tanta questão de enfatizar isso?... "Sua filha", por acaso não sou eu o pai dela também? – ele questiona como quem estivesse analisando-a.
Clara estremece, mas ainda gaguejando, tenta respondê-lo:
– EeEla... está dormindo... Deixe-a dormir por favor.
– É sempre assim não é?... Mas não pense que será para sempre!... Você não pode achar que está no controle de tudo, você não sabe do que sou capaz – Ele sai, deixando-a ainda em choque.
Aquelas palavras ecoavam em sua mente, não sabia o que ele queria dizer, se era apenas mais uma insinuação ou se poderia esperar por algo. Ela sabia que ele sabia a verdade, mas por que agia assim? Estava cansada de viver sob ameaça, como uma mosca presa na teia esperando a aranha lhe devorar. Não poderia mais esperar, não sabia o que estava por vir. Aquela situação já perdurou-se por tempo demais. Precisava fugir, levar a Stella para longe dali. Ela não era mais uma bebê recém nascida, com cautela poderia ser transportada para longe.
O único lugar seguro que Clara pensou era a gruta, pois ninguém mais sabia de sua existência. Mas transportar Stella por aquelas cavernas era arriscado demais, e o equipamento não passava direito, um acidente poderia ser fatal para as duas. A única maneira seria pelo outro caminho, saindo do rio.
Clara espera o momento certo, pouco antes do dia amanhecer, ela pega um equipamento de mergulho antigo, com um traje pressurizado e um cilindro de oxigênio. Enrola a pequena Stella em seu corpo, após dar-lhe uma pílula de imersão como precaução, e assim tenta sair disposta a não mais voltar.
Um dos seguranças vigiava as portas, mas Clara não recua, acerta-o com um objeto e segue seu caminho sem olhar para trás. Aquele guarda por sua vez, ao retornar a si, corre para alertar Bryan. Ele sabe que ela não pretende esconder-se em seu reino, então reúne dois de seus homens e sai a todo vapor. Carregando uma criança, ela não poderia ser tão rápida.
O sol já havia nascido quando Clara chega à beira do rio, Stella chora muito. Para tentar acalmar a filha, Clara para e retira o traje.
Bryan a alcança partindo em fúria em sua direção.
– O que achou que poderia fazer?... Simplesmente fugir com Stella me fazendo de idiota?... Acha que sou tolo, que não sei o que fez?... Basta olhar para essa criança para enxergar os seus erros... Você traiu o seu reino de todas as formas possíveis e agora tentou apunhalar-me mais uma vez... Mas agora não poderá mais fugir de sua sentença!
– E o que irá fazer Bryan?... Por favor, não faça nada a minha filha! – Clara tenta implorar por compaixão.
– Chega Clara!... Andem peguei a criança e a levem de volta!... Você não verá sua preciosa crescer! – Ele aponta para seus homens, que toma a criança dos braços de Clara, enquanto ela grita em desespero, mas Bryan não a escuta.
– Levem a criança de volta, e deixem a mãe comigo!... Lhe darei sua sentença, seu sangue será derramado sobre essa terra imunda!
Acatando as ordens de Brian, os homens se vão, levando consigo a pequena Stella.
Bryan mantém-se seguro de sua decisão, com Clara presa em seus braços sacudindo-se em desespero.
Um barulho de serras é ouvido por eles, parece distante, era só mais um trabalhador iniciando sua jornada de trabalho. Mas aquela distração foi o suficiente para Clara colocar um dos ensinamentos de Thomas em prática. "Abaixar a guarda possibilita ser atacado pelo oponente". Então ela acerta Bryan, que cai permitindo-a escapar de seus braços. Sem opção, Clara corre para a floresta, mas Bryan logo se recupera e vai atrás dela.
Clara mantém-se disparada correndo por entre as árvores completamente sem rumo, enquanto Bryan a segue aproximando-se cada vez mais. O barulho das serras parece cada vez mais audível.
Clara chega em um campo aberto, já saindo de entre as árvores. Ao fundo distante ela enxerga um velho galpão com entulhos de diferentes cortes de madeira na frente, parecia estar sendo estocado, de dentro dele sai um homem. Ela não acredita no que seus olhos estavam a ver, era Thomas, ela poderia reconhecê-lo ainda de longe.
Em choque parada no mesmo lugar, ela grita:
– Thomas!...
Ele para com seus olhos perplexos, também sem acreditar que ela estava mesmo ali.
Nessa hora um estrondo se escuta, Clara recebe um pacto que a tira o ar. Seu corpo não responde e ela desaba sobre a grama úmida. Agora é possível ver Bryan que estava parado logo atrás dela, ainda com a arma apontada como uma estátua assimilando o que acabou de fazer.
– Clara! – Thomas grita e corre desesperado em sua direção, debruçando-se sobre ela.
– T.Thomas está vivo!
– Sim Clara... Estou aqui, fica comigo ok?
– Você precisa proteger ela – Clara tenta falar olhando firme nos olhos de Thomas e segurando o seu rosto, mas antes que pudesse terminar, ela perde a consciência. Sua mão cai sobre o seu corpo, os olhos se fecham e sua voz não é mais ouvida.
– Não Clara!... Olha para mim, continua falando por favor!... Clara... Clara! – Thomas grita desesperado sacudindo-a em seus braços.
Bryan só assiste a cena, ainda paralisado. Matar qualquer outro homem para ele parecia fácil, mas não era tão fácil convencer-se de que conseguiria tirar a vida de Clara. Por fim ele entendeu que nunca a teria de verdade. Ele observa o desespero de Thomas e diz:
– Você é o culpado de tudo isso, acabou com nossas vidas!... Agora terá que conviver com isso, não a queria?... Agora a tens! – Ele virá-se e sai ainda desorientado, retorna pela floresta sumindo por entre as árvores.
Thomas só o escuta e permanece agarrado a Clara.
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Quando terra e água se encontram
Historical FictionEm um futuro alternativo, após longos anos de guerras e destruição, surgiram dois grandes reinos. O Reino da Água e o Reino da Terra, era tudo o que restou da humanidade. Reinos completamente rivais, com ideologias opostas e ao mesmo tempo com sede...