Segredos De Sangue

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Pedro aproxima-se correndo apreensivo a procura de Thomas.

– Thomas, eu ouvi um barulho de... Ele para com os olhos arregalados ao ver Thomas sentado no chão agarrado a moça.

Thomas estava todo sujo, as lágrimas se misturavam a poeira do trabalho e ao sangue de Clara, que já manchava a sua roupa.

– O que aconteceu Thomas?

– Me ajuda cara! – Thomas parecia quase não conseguir falar.

Pedro encara a moça espantado, em seguida coloca dois de seus dedos sobre o pescoço dela, tentando identificar a pulsação da carótida.

– Ela ainda está viva!... Seu pulso parece fraco, precisamos levá-la daqui... Vamos falar com Vó Teresa, ela saberá o que fazer...

Ouvir aquilo foi como uma luz para Thomas, estava tão atordoado que não sabia o que fazer. Ele levanta-se com Clara em seus braços e sai disparado logo atrás de Pedro.

Os dois passam pelos quintais, tentando não serem notados. Logo avistam Vó Teresa que estava a colher algumas ervas. Ela costuma cuidar dos doentes do vilarejo, ou pelo menos das famílias menos favorecidas.

– O que é isso meninos?... O que aconteceu com essa moça? – ela questiona assustada.

Com Clara de olhos fechados não era tão notório de onde viera.

– Ela levou um tiro – Pedro responde encarando Thomas.

– Venham comigo!... Acomodem-na aqui – ela fala entrando em um quartinho pequeno e bagunçado nos fundos da casa.

Thomas entra depressa e posiciona Clara em uma cama estreita.

– Agora saiam... Esperem lá fora – Vó Teresa empurra os dois depressa para fora e fecha-se no quarto.

Agora Thomas caminha agitado de um lado para o outro, enquanto Pedro o encara sério. As horas passavam como se durassem uma eternidade que estavam ali, até que Pedro resolve quebrar o silêncio.

– Precisa ir se lavar, trocar essas roupas... Te vendo assim, o que irão pensar?!... Cara, tem que me dizer o que aconteceu!... Eu não quero acreditar no que parece ser!... Quem é aquela moça?... Porque ela estava em seus braços naquele estado?

Thomas para, passa a mão no rosto tentando formular uma resposta para aquela enxurrada de questionamentos, até que diz:

– Ela é do Reino da Água... Mas não foi eu quem fez aquilo... Eu jamais a machucaria!...

– Foi um deles não foi?... O mesmo que fez aquilo com você na floresta?... Caramba Thomas!... Eu não acredito que você está se metendo nisso... Logo você cara?... Sempre foi você quem me tirou das enrascadas, não o contrário!... Isso não é uma simples noitada!... Se pegam essa moça aqui, o que acha que irão fazer com você, cara?... Ou pior, com todos nós? – Pedro o repreende com as mãos na cabeça, ainda em choque.

– Você não entende, nunca se apaixonou de verdade... Para você sempre foi assim!... Eu amo aquela mulher!... Achei que poderia esquecê-la, mas eu não posso! – Thomas tenta se justificar.

– Se isso é se apaixonar, então eu prefiro viver sem isso!... Olha bem para você?!... Eu quero te ajudar, você sempre foi como um irmão para mim e você sabe disso!... Mas como posso compactuar com isso?... Você está se destruindo! – Pedro afirma preocupado com o amigo.

– Não!... Eu me destruí no dia que achei que poderia deixar tudo para trás – Thomas responde como se estivesse colocando para fora o que por muito tempo lhe consumiu.

Quando terra e água se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora