Acalento

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Thomas estava a despedir-se de Clara já para sair do quarto, quando Vó Teresa entra com uma bacia grande.

– Como ela está?... Vim limpar o ferimento e dar um banho no leito.

– Ela despertou! – Thomas responde com um sorriso no rosto, como quem esperava por uma reação instantânea de euforia. No entanto, Vó Teresa permanece séria.

Um pouco sem graça, Clara observa aquela humilde senhora e então tenta comunicar-se com ela:

– A senhora deve ser a Vó Teresa... Thomas já havia me falado sobre a senhora... Eu não sei como poderia lhe agradecer...

– Agradeça se recuperando rápido – Vó Teresa ainda responde com um tom frio e ao mesmo tempo com preocupação, seu semblante estava mais sério do que costumava ser. Era notório o receio sobre a presença daquela moça naquele lugar, o que tornava a situação um pouco constrangedora.

– Pode sair Thomas, e feche a porta por favor!

– Sim, eu já estava de saída – Ele sai e fecha a porta, em seguida senta-se em um banquinho de madeira no quintal e fica observando a paisagem a sua volta com um olhar ainda voltado para dentro de si próprio, como se tivesse segurando um turbilhão de sentimentos prontos para explodir.

Ainda com a brisa mansa daquela manhã, que parecia tão calma e tranquila, depois de uma longa e pesada tempestade, tudo parecia diferente agora. Thomas encara aquela portinha de madeira que permanecia fechada, em seguida volta o seu olhar para uma de suas mãos e começa a analisar o anel em seu dedo. Era um anel grosso e pesado, com um belo brasão cravado nele, parecia tão importante que não poderia deixar de mantê-lo em seu dedo.

Aquele anel parecia conversar com ele, Thomas entendia o que precisava ser feito.

Vó Teresa abri a porta minutos depois. Ela o vê ali sentado à alguns metros da porta, e sem pensar duas vezes, deixa a bacia de lado e caminha até ele, sentando-se ao seu lado.

Thomas permanece encarando o anel, sem nada a dizer. Até que Vó Teresa desmancha sua quietude, tentando decifrar o rapaz.

– Ele era um homem admirável sabia?! Tenho certeza que ficaria feliz em saber o rapaz incrível que se tornou.

– Acha isso mesmo de alguém vindo de lá? – Thomas questiona, girando o anel no dedo.

– Somos nós mesmos quem fazemos quem somos Thomas, você sabe disso. Tudo bem que eu preferia que não fosse assim, e que não fosse ele, mas eu preciso ser justa – ela tenta explicar a sua posição.

– É o mesmo que pensa sobre Clara?

– Eu entendo porque gostou dela, é uma jovem muito bonita e não parece ser uma pessoa ruim. No entanto, você sabe que existem leis que estão muito acima de nós.

Thomas para de encarar o anel e volta a olhar para a porta.

– Descobri que tenho uma filha. Ela já tem quase 1 ano e eu nem ao menos pude segurá-la em meus braços ainda.

Vó Teresa engole a seco, ela para completamente sem reação.

– Como isso pôde acontecer Thomas?... Meu Deus, parece que estou voltando no tempo!

– Talvez seja esse o nosso destino, mas eu não posso aceitar que esse seja o dela. Não posso permitir que cresça como eu, sem conhecer o seu verdadeiro pai – Thomas fala, após um longo suspiro.

Vó Teresa o encara sem saber o que dizer, ao mesmo tempo que teme ao tentar prever o que poderia estar por vir.

Thomas compreende o seu silêncio, ela era sábia, sempre escolhia as melhores palavras e nos momentos certos, mas naquele momento não haviam palavras. Ela só estava assustada por ter o seu pior pesadelo retornando para assombra-lá.

Quando terra e água se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora