Colisão

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E lá estávamos nós, parados olhando um para o outro. Acho que nunca fui tão encarada... Mas naquele momento eu não sentia mais medo. Eu só senti que de alguma forma precisava estar ali.

Ele então solta o meu braço e me questiona:

– Porque veio aqui? Sabe das consequências, então o que acha que está fazendo?

– E você nunca teve curiosidade de saber o que tem lá? – apontei para o rio – Eu só estava passando, quando vi aquilo no chão, queria só saber o que era!

– Quem faria tamanha tolice somente por curiosidade? – ele questiona elevando uma de suas sobrancelhas.

– Então acha uma tolice querer viver, conhecer o mundo? Saber o que existe por trás de todas as histórias que te contam? Eu não quero ser só um fantoche, sem pensamentos próprios, caminhos próprios – disparei a falar, tentando fazer algum sentido.

– E você sabe bem onde isso irá te levar!

Porque ele parece debochar de tudo que digo? Não vou render esse assunto.

– Vai me dizer o que é isso ou não?!

– É algo que estou construindo – ele responde focando os olhos no objeto no chão.

– Uma invenção?! Achei que vocês fossem contra isso! – falei como se estivesse em uma disputa para provar quem era mais insano.

– Será que pode ao menos fechar a boca e me deixar falar?!

– Fala! – Respondi um pouco sem graça.

– É como uma teia proteica... É uma tela mergulhada em alguns composto que exalam e dão vitalidade a planta, e também oferece proteção contra insetos e ao calor excessivo... O brilho é só o reflexo da luz do sol, você não deve estar muito acostumada com isso – ele fala dando um sorrisinho de canto, me deixando um pouco envergonhada.

– É, pode ser... E você acabou de inventar isso? – insisti na pergunta.

– É... Na verdade já estava com esse projeto a um tempo. É para mudas de árvores raras, entrando em extinção – Ele parecia um pouco sem graça quando falava.

– Muito legal da sua parte pensar nisso! É esse o seu trabalho?

– Não... Sou ajudante de carpinteiro... Estou fazendo algo para conseguir um nome.

– Status? Porque precisa tanto de status? – penso alto, sem me dar conta que estava falando.

– Isso não é da sua conta... Nem deveria estar aqui!

– Então vai em frente, me entrega logo!

O que eu estava fazendo, instigando um desconhecido a me entregar para a morte? Parece que de repetente estava tão nervosa que não fazia muito sentido.

– É o que quer? – ele responde me tirando de meus pensamentos.

– Ok tá?!... Estou indo embora... Como prometido! – Foi o que consegui dizer para não acabar me encrencando.

E voltei para o rio... Afinal, aonde estava com a cabeça? Como mais poderia ser um cara do reino da Terra, senão um rude e grotesco?! Passei tanto tempo imaginando pessoas livres, que vivem a vida de forma mais pura e leve. No fim são todos iguais. São monopólios fechados, onde todos seguem preceitos que nem ao menos sabem o por que. Estão tão preocupados em seguir as regras, cumprir o seu trabalho e assim, crescer socialmente.

Cheguei em casa, e mais uma para fechar o dia...

– Filha, você sumiu o dia inteiro... Onde esteve? Não gosto que passe tanto tempo mergulhando, irei falar com os superiores sobre isso...

Quando terra e água se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora