Thomas e Clara passaram a viver à margem da sociedade. Não pertenciam a lugar algum, eram como as sombras da floresta. Ninguém os via, ou somente eram vistos por quem eles queriam.
Juntos, eles ensinavam tudo a pequena Stella. Desde as formas básicas de sobrevivência, até a complexidade do que poderiam compreender da ciência.
Estavam felizes e sentiam-se refugiados ao lado um do outro. Criaram uma forma de comunicação através de apitos de madeira, construídos por Thomas.
Janice, Vó Teresa e Pedro receberam um. Assim, sempre que precisavam ou queria encontrar um deles, era só assoprar o apito. Aquilo se tornou bem eficaz, eles não adentravam as cidades e os apitos eram potentes o suficiente para serem ouvidos da floresta.
A vida parecia seguir o curso normal. Pedro, reconhecendo que Thomas estava certo, recontratou Valerie. E na ausência do amigo no dia-a-dia, esta passava a ser uma nova companhia. Os dois tinham uma relação conflituosa, eram dois orgulhosos. Não era fácil reconhecer que já faziam parte da vida um do outro. Ainda passaram alguns anos em negação, até que a grande muralha entre os dois, virasse ruína e se desfizesse de vez. E então, finalmente se casaram e tiveram um belo casalzinho de gêmeos, tão danados e brincalhões quanto Pedro.
Na floresta, Stella crescia. Quanto mais o tempo passava, mais se parecia com o pai. Os cabelos castanhos, o mesmo tom de pele, o gênio forte e guerreiro de Thomas. Ela gostava de lutar, e era muito apegada ao pai. Desde pequena, Thomas a ensinava tudo o que sabia. E toda a força que herdava de Thomas, aliava-se ao jeito impulsivo e aventureiro de Clara. Cada mínima característica dos dois a completava. E essa mistura parecia ainda mais vívida em seus olhos, que possuiam aquela raro contraste de cores, que a diferenciava de todos.
Stella não tinha contato com o resto do mundo, as únicas pessoas que conhecia, além de seus pais, eram Vó Teresa, Pedro e Janice. Mas com o passar do tempo, e pelas circunstâncias da vida, a visita deles foi ficando cada vez mais escassa. Longos quinze anos se passaram, Vó Teresa já tinha oitenta anos, enquanto que Janice tinha setenta e cinco. As duas já não tinham mais condições para ficarem indo para a floresta, principalmente Janice, a julgar pelo percurso da água para a terra. Apesar de seu isolamento, Stella ouvia atentamente sobre cada reino, as tradições e conflitos, leis e forma de vida de ambos os povos, assim como toda a trajetória de seus pais. Era curiosa, queria entender tudo e tinha o sonho de um dia não precisar se esconder.
Tudo parecia que seguiria assim até o final de seus dias, mas como em ventos que apareciam do nada, outro grande furacão se formava.
Um dos apitos é assoprado. Thomas e Clara estranham ao escutá-lo, e logo seguem o seu sou.
Estava sendo utilizado por um rapaz jovem, do Reino da Água, aparentemente com seus vinte anos.
– Quem é você? E como conseguiu isso? – Thomas questiona tomando o apito de suas mãos.
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Quando terra e água se encontram
Historical FictionEm um futuro alternativo, após longos anos de guerras e destruição, surgiram dois grandes reinos. O Reino da Água e o Reino da Terra, era tudo o que restou da humanidade. Reinos completamente rivais, com ideologias opostas e ao mesmo tempo com sede...