As Grades Que Nos Separam

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Bryan deixa Clara na porta de sua casa, saindo depressa avisando que adiantará o casamento.

Ao entrar na casa, Clara é recebida pelo seu pai:

– Clara não acredito que fugiu de novo… Me fez acreditar que estava bem, eu te dei um voto de confiança e na primeira oportunidade, o que você faz?!... Olga me contou que você sumiu assim que terminou as batalhas… O que eu faço com você?!

– Eu estava com o Bryan! – ela grita a primeira desculpa que veio em sua mente naquele momento.

– Com o Bryan?... Seu noivo? – Sua mãe se intromete espantada com a sua resposta.

– Sim! Ou vocês não perceberam que ele também havia sumido após as batalhas?... Eu aceitei me casar com ele, já podem desmanchar esse circo aqui! – ela responde e dá as costas, subindo para o seu quarto, enquanto todos a olham espantados.

– Enfim se acertaram?... Foi isso que eu entendi Charlie? – Marta questiona encarando o marido.

– E quanto a mim senhor? O que posso fazer agora?

– Está dispensada Olga, parece que não precisaremos mais de seus serviços.

Clara escuta no final da escada e pensa, "Como fui tola esse tempo todo… porque nunca fingi um namoro com Bryan antes?... Tudo teria sido mais fácil!"

Ela toma um banho e se ajeita para juntar-se a sua família à mesa, mantendo as regras de etiqueta como havia planejado. Todos comem em silêncio, escutando-se apenas os talheres batendo nos pratos de porcelana.

Clara encara seu pai preocupada, e se ele chegar a questionar Bryan?... O que ele poderia revelar sobre essa história?

– Você poderia tê-lo convidado para jantar Clara – seu pai a questiona sem encará-la nos olhos.

– Ele estava apressado com a mudança para o palácio…

Seu pai sorri e responde:

– Tem razão!... A essa altura, todos já devem estar acomodados lá!

Após sua resposta o silêncio entre eles paira novamente.

Ele parece convencido com minhas mentiras, não preciso me preocupar com isso… Ela pensa dando um sorriso discreto para ele.

Após a tortura mental que foi aquele jantar, Clara retorna para o quarto, trancando-se novamente. Ela deita na cama pensativa. As imagens do reencontro com Thomas surgem em sua mente, vê-lo novamente foi inacreditável. Ouvir sua voz, as palavras que saíram de sua boca, fez Clara arrepiar-se dá cabeça aos pés, só de pensar, seu coração palpitava em um contentamento inigualável.

– Eu preciso vê-lo! – ela sussurrou baixinho, para si mesma.

Sem Olga na casa, ficava mais fácil escapar. Mas como encontraria Thomas?... Se já estão no Palácio, ele só pode estar em um lugar… Nas celas abaixo, onde os prisioneiros ficam confinados aguardando julgamento… Ela pensa, agora sentada encarando a porta do quarto.

Clara espera todas as luzes da casa se apagarem, então sai de fininho, sem que ninguém a veja.

Ela tenta entrar no palácio, mas é quase impossível entrar sem ser notada, há seguranças por todos os lados. Havia esquecido desse detalhe, os seguranças! Provavelmente eles estariam protegendo as portas, isso era óbvio!

Mas ela lembrou dos ductos de ar,  poderia viajar por eles para qualquer parte. Eram estreitos, mas o seu corpo magro conseguiria passar, então foi o que ela fez.

Passou apertada por alguns ductos, sentindo-se sufocada pelo espaço tão estreito, mas sua determinação a impulsionava a seguir a diante. Ela alcançou a primeira ala de prisioneiros, estava meio escuro, estavam dormindo. Clara tenta enxergar Thomas no meio daqueles homens, mas não o encontra. Então segue para a próxima ala, temendo não encontrá-lo. Ela chega em uma ala repleta de celas vazias. Parece não ter ninguém aqui, ela pensa, até que escuta um movimentar de um corpo sobre um colchão.

Clara vai em direção ao som com o coração aflito, e lá estava ele! Thomas estava deitado em um fino e estreito colchão, encarando o teto.

– Thomas! – ela sussurra baixinho para ele.

Ouvindo aquela voz baixa, Thomas vira-se para ela. Assustando-se ao vê-la parada no outro lado das grades, ele levanta rapidamente ainda incrédulo, indo ao seu encontro.

– Clara… Como chegou até aqui?

– Vim pela passagem de ar… Eu precisava te ver, precisava falar com você.

– Está se arriscando demais!... Não quero que te aconteça nenhum mal – ele fala desviando o seu olhar, que antes estava preso nela.

– Me perdoa Thomas!... É tudo minha culpa, eu te causei isso. Nunca deveria ter me aproximado de você… Eu só te fiz mal… Eu… – ela fala enquanto as lágrimas escorrem pelo seu rosto, e antes que pudesse terminar, Thomas reage interrompendo-a.

– Não, Clara!... Não diga isso, por favor!... O que quer que aconteça comigo agora, eu não me importo mais. Tudo o que vivi ao seu lado, já valeu a pena – Ele segura o rosto dela entre as grades da cela, com os olhos penetrantes encarando os dela.

Aquilo era hipnotizante, tudo o que ela queria era que aquelas grades não estivessem ali separando os dois.

– Eu te amo Thomas, mas não posso mais fazer isso com você…

– Não Clara… Me escuta!... Você não pode casar com aquele homem… eu imploro, não faça isso!

– Não tem outro jeito Thomas!... Eu preciso lhe devolver isso – ela fala segurando o colar.

– Não!... Não aceito que me devolva, ele é seu!... Sempre será! – Ele a puxa, espremendo-a contra as grades e a beija. Um beijo intenso que os fazem esquecer que estão ali.

Barulhos de passos são ouvidos, Clara corre de volta para os ductos de ar, deixando-o ali.

Quando terra e água se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora