Os dias vão passando e Clara vai se recuperando aos poucos.
Thomas divide o seu tempo entre treinar e cuidar de Clara. Agora sem o trabalho na carpintaria e seus projetos que acabaram sendo deixados de lado, isso o possibilitou focar em seus novos objetos.
No tempo em que passava com Clara, ele atentamente a escutava contar sobre as histórias e regras de seu povo, pois sabia que aquilo lhe seria útil a partir de agora. Tudo que ouvia só confirmava o que seu coração o impulsionava a fazer, lutar pelo que acreditava. Ele sentia que devia isso a Clara e a seus pais.
Após uma tarde treinando incansavelmente, Thomas só percebe que era hora de parar, quando o dia já havia virado noite, precisava voltar para casa e ver como Clara estava. Ele retorna caminhando, como em um dia normal. Tudo agora parecia tão cômodo e tranquilo, apesar de saber lhe faltava algo.
A noite parecia tão silenciosa, assemelhando-se com aquele silêncio que antecede um grande maremoto.
Ele entra naquela humilde casinha de madeira, já sentindo o cheirinho do ensopado de Vó Teresa, que dá um leve sorriso ao vê-lo chegar, e então continua entretida mexendo algo em uma panela de barro. Thomas aproxima-se calado e dá um beijo em sua testa, logo depois encaminha-se para o banho.
Era tão bom, tão reconfortante estar em casa, e melhor ainda, era saber que ela estava lá. Bastava entrar naquele quartinho, para ver aquele belo par de olhos azuis que tanto o encantava.
Thomas sai do banho e vai direto para os fundos. Ao abrir a porta do quarto, percebe Clara de pé, olhando distraída pela janela entreaberta.
– Achei que te encontraria deitada – ele questiona surpreso.
– Eu estou bem Thomas, não preciso mais ficar o tempo todo na cama – ela responde sorrindo para ele, como quem tivesse lhe provando algo.
– Ok! Não direi mais nada! – ele fala elevando os ombros. Depois se aproxima dela, abraçando-a por trás, ao mesmo tempo em que tenta acompanhar o seu olhar – E o que tanto observa aí?
– Estava olhando o céu, como está tão lindo e estrelado. Eu não tenho acesso a essa visão quando estou lá embaixo, a grande coluna de água não permite – Clara responde ainda com o olhar fixo naqueles pontinhos brilhantes no céu.
– Eu também gosto de observar. Todos os problemas parecem pequenos diante dessa imensidão – ele diz como uma voz tão serena, enquanto Clara tenta expor sua aflição:
– Não consigo parar de pensar em como ela pode estar. Nunca passou tanto tempo sem mim. Não podemos mais esperar, Thomas!
– Você tem razão, mas talvez seja melhor que eu vá e você fique. Não está pronta para isso – Thomas fala enquanto a observa de canto de olho.
– Isso está fora de questão, Thomas! – Ela vira-se para ele irritada – não vou deixá-lo ir sozinho. Você precisará de mim para ter acesso, e essa luta também é minha!
– Você não entende que eu não posso arriscar te perder de novo. Você quase morreu, Clara! Não sabe o que foi para mim vê-la daquele jeito em meus braços! – ele fala olhando fixamente em seus olhos.
– Mas eu não morri, Thomas! – Clara retruca.
– Por um milagre! Você não pode ficar testando a morte o tempo todo, Clara! – ele responde desviando o olhar em desaprovação.
– Mas foi assim que me conheceu, lembra?
– Você acredita mesmo que consegue? – ele questiona cedendo a sua insistência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando terra e água se encontram
Historical FictionEm um futuro alternativo, após longos anos de guerras e destruição, surgiram dois grandes reinos. O Reino da Água e o Reino da Terra, era tudo o que restou da humanidade. Reinos completamente rivais, com ideologias opostas e ao mesmo tempo com sede...