Todas as atenções agora estão voltadas para a próxima mamãe. Clara é paparicada por todos, recebe presentes e felicitações.
Ela tenta fugir ao máximo dos olhares alheios, precisa privar-se de pessoas à sua volta, quanto mais pessoas pudessem ter contato com ela e sua criança, mais arriscado seria. Assim, ela esconde-se cada vez mais. Até Bryan ela consegue afastar, usando a gravidez como desculpa. Mas, também precisará ter um plano para a chegada da criança. Ela resolve ter seu filho em casa, apesar de não ser comum entre as famílias mais ricas. Janice é uma excelente parteira, já realizou muitos partos e nos últimos tempos, é a única pessoa em que Clara pode confiar. Janice é uma boa pessoa, uma mulher acolhedora e carinhosa, é bem simples, mora com o marido e não teve filhos. Desde que foi contratada para cuidar de Clara, dedica-se muito a ela, tem sido como uma segunda mãe para Clara. Às vezes parece ter sido enviada dos céus para cuidar dela.
Aos poucos a barriga de Clara começa a crescer. Ela já sente aquele pequeno serzinho movimentar-se dentro dela. É a coisa mais incrível que lhe aconteceu, ela já ama tanto aquele bebê. A sua única motivação de vida era aquela criança e por ela seria capaz de enfrentar o mundo.
Thomas por outro lado, nem sonha com o que está acontecendo. Após ser dado como vencido e acreditando que nunca mais verá Clara, ele decide que precisa recomeçar, esquecer de tudo.
Thomas dedica-se exclusivamente ao trabalho e a seus projetos, não se permite parar e nem muito menos pensar. Trabalha feito um louco, e agora com mais projetos entrando em execução. Seus objetivos iniciais estavam sendo cumpridos, aos poucos crescia em sua sociedade.
Agora pareciam estar mais afastados do que nunca, cada um trancado em seu mundo.
Clara, perdida em seus pensamentos, tentava ocupar-se lendo sobre bebês. Às vezes as cores dos olhos não são bem definidas quando nascem, mas olhos escuros não clareiam do nada, o que acontece é justamente o contrário, mas ainda sim tenta apropriar-se de algumas informações, para caso precise usá-las. Ela tinha tanto medo do que poderia estar por vir, tinha que montar uma estratégia, ganhar tempo, sabia que não poderia permanecer naquele lugar.
As pessoas questionavam o tempo todo, mas ninguém via Clara. Ela mal saia do quarto, às vezes ficava na janela cantando para seu bebê, enquanto alisava a barriga e imaginava como seria.
Bryan sentia na pele seu afastamento, ela fazia questão de não dividir com ele os momentos importantes de sua gravidez, o primeiro chute, o movimentar em sua barriga, os desejos estranhos. Apesar de não saber expressar bem seus sentimentos, Bryan tinha o desejo de ser pai e aquilo parecia um enorme castigo para ele.
Os meses foram passando e passando. A barriga de Clara já estava enorme, ela mal conseguia segurar a ansiedade para ver o rostinho de seu bebê.
Clara conversava com a própria barriga, contava de suas aventuras, quando começou a sentir uma forte pontada. As dores aumentam e agora ela sente um líquido escorrer entre suas pernas.
Clara grita por Janice desesperada, a dor é tão forte que mal consegue ficar de pé. Janice entra correndo em seu quarto, ao vê-la ainda apoiada na parede, ela grita pelas outras empregadas:
– Ajuda! A bolsa estourou!... O bebê vai nasceeeer!...
Nessa hora, Bryan aparece nervoso junto com mais duas empregadas baratinadas.
Janice aponta para cada um e diz:
– Você, traga uma bacia com água morna… Você, traga toalhas limpas… E você, espere lá fora!
Em seguida, Janice fecha-se no quarto preparando Clara para o parto.
– Deve poupar suas energias… Faça a força somente quando sentir as contrações… Você respira fundo e faz o máximo de força que conseguir! – ela explica para Clara, que já encontra-se segurando forte o lastro da cama.
As horas passam e tudo o que se escuta são gritos desesperados pelo palácio. Aquele parto parecia estar se prolongando além do normal. Janice temia pela mãe e pela criança, Clara já estava exausta.
– Essa criança não vai nascer, ela precisa de um médico – Janice comenta para outra empregada, quando escuta a voz ofegante de Clara quase sem forças:
– Não!... Sem médicos… Eu consigo!...
Ela parece juntar o máximo que restou de suas energias e com uma força ainda maior, ela grita…
E um ecoar de um choro de bebê agora é ouvido.
Janice pega a criança e diz:
– É uma bela menininha!...
Todos sorriem felizes comemorando. Janice corta o cordão, envolve a criança em uma manta e entrega nos braços de Clara, que é só sorrisos de tanto contentamento por em enfim tê-la em seus braços.
– Stella!... Esse será o seu nome – ela fala para todos, enquanto ainda admira a pequena recém chegada.
Bryan entra no quarto, o semblante de Clara muda completamente lembrando do que sempre temeu.
Ela tenta afastá-lo enquanto ele observa tentando aproximar-se da criança, mas logo a deixa amamentar em paz. No entanto, não poderia afastá-lo para sempre, por mais que tentasse. Ele queria ver a criança, pegar no colo, apresentar para todos e isso só gerava discussões entre eles.
A notícia do nascimento corre rapidamente, todos querem conhecer a pequena Stella. Os familiares, amigos, os avós, todos estão ansiosos. Mas Clara não se desgruda da criança e nem permite que aproximem-se tanto dela, era como uma leoa protegendo sua cria. Logo todos começam a desconfiar do comportamento de Clara, mas ainda acreditavam ser uma espécie de depressão pós parto. Talvez o que ela precisa é de tempo, afinal é uma experiência nova para ela… É o que muitos afirmam… Mas Bryan não é tolo, ele percebe o que está a acontecer.
Os olhos da pequena Stella não são escuros, mas também não são azuis. As cores castanho, verde e azul parecem se misturar em um emaranhado de cores, às vezes parece de uma cor, as vezes de outra, como um camaleão. São olhos hazel, a menina dos olhos hazel!
Aquilo era tão raro, normalmente os bastardos puxavam apenas um dos reinos, ou da terra ou da água, nunca dos dois. Aquilo parecia ser ainda mais assustador para Clara.
Os meses passavam e suas desculpas para isso pareciam cada vez mais infundadas. As brigas e insinuações de Bryan tornavam-se ainda piores. Clara sabia que não poderia mais continuar assim, não poderia permanecer naquele lugar.
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Quando terra e água se encontram
Historical FictionEm um futuro alternativo, após longos anos de guerras e destruição, surgiram dois grandes reinos. O Reino da Água e o Reino da Terra, era tudo o que restou da humanidade. Reinos completamente rivais, com ideologias opostas e ao mesmo tempo com sede...