Capítulo 2 - Imprevistos

704 53 7
                                    


 Natasha estava com alguns amigos sentados nos bancos de cimento próximo a um lago, haviam saído da universidade para almoçar e conversar um pouco, mas infelizmente não estava animada. Além do pai ter muitas dores logo pela manhã, Ian outra vez a destratou, sua irritação piorava a cada dia. Ele abandou o grupo no meio de um exercício, ela não respondeu ou correu atrás, apenas ficou ali tentando concertar-se e fazer o seu melhor. Chegaria o momento que não aguentaria, e com certeza não faltava muito apesar de ouvir o coração apaixonado, completariam 1 ano juntos no começo de outubro e queria que fosse verdade, mas com tudo aquilo, com certeza desistiria do rapaz.
Ela não conseguia pensar muito sobre aquilo, amava Ian, mas seu pai era mais importante assim como ter sucesso em sua carreira, não queria ser conhecida como uma menininha mimada ou sofredora porque o seu namoro não deu certo, focar nisso não de seu feitio. Suspirou pesado passando os dedos nos cabelos enquanto encarava aquele lago ouvindo seus amigos rirem sobre algo que não prestou atenção. Se virou para responder um deles que a chamara, mas seu celular tocou no mesmo instante.

- Pai? – Atendeu aflita.

- Natasha? É o seu vizinho Tom, eu e minha mãe trouxemos seu pai ao hospital ele estava gritando de dor e

- Que hospital? Eu já estou indo!

Não deixou nem o rapaz terminar de falar, seu coração bateu na garganta a deixando apavorada, não deveria ter ido a faculdade, muito menos demorado para voltar, seu pai precisava de toda atenção. Pediu carona para um dos seus colegas e prontamente ele a levou ao hospital o mais rápido que pode, poucas pessoas sabiam da condição de Hugo, ela não gostava de ficar espalhando seus problemas para que ninguém tivesse pena ou algo parecido. Sabia bem que tiravam proveito de certas situações.

Quando chegou ao hospital quase não parou na recepção, estava extremamente agitada e nervosa, mostrar documentos e responder perguntas não era o que queria, e sim ver seu pai, mas não pode fazer nada além de respirar fundo e não matar a recepcionista. Hugo foi internado as pressas por conta das intensas dores da coluna, fazia outra ressonância de urgência, já haviam lhe dando um remédio para diminuir as dores, mas mesmo assim, ele reclamava. Natasha cumprimentou rapidamente os vizinhos que foram atenciosos ao traze-lo, eram boas pessoas e sempre que podiam, cuidavam de Hugo por ela e seria eternamente grata.

Estava sentada na cadeira esperando, segurava as lagrimas o máximo que conseguia acabou ignorando o celular que tocava pela segunda vez, respirou fundo o atendendo.

- Alô?

- Senhorita Losev? – Natasha afastou o celular encarando aquele número. – É a Tereza...

-Claro, perdão senhora por não atender antes...

-Sem problema, estou ligando para informa-la que queremos a senhorita trabalhando conosco, e se pudesse vir

Natasha mordeu o lábio deixando as lagrimas escorrerem.

- Ah...sinto muito, mas no momento... – Respirou fundo se controlando. – No momento não poderei ir trabalhar, meu pai acabou de ser internado e precisa de cuidados frequentes... – Aquilo pesava em seu peito, nem ao menos conseguia pensar direito. – Estou realmente feliz, mas, não será possível.

A mulher fez um breve silencio, mas ao invés de agradecer, desligar e ligar para o próximo respirou fundo como se compreendesse.

-Entendo, acredito que precise de alguns dias, então lhe darei essa semana para pensar, desejo melhoras sinceras ao seu pai.

A voz da menina quase não saiu, apenas agradeceu, abaixou a cabeça deixando o celular ao lado e chorou em silêncio. Não era apenas tristeza, mas também desespero pois a única coisa que queria era dar ao pai um tratamento, devolver todo o esforço que ele já havia feito, as noites mal dormidas, os dias passados no trabalho para conseguir dinheiro extra. Natasha sentia-se completamente inútil naquele momento, as mãos estavam atadas, seu peito doía demais, estava decepcionada consigo mesma.
Quando seu pai finalmente foi levado para o quarto já estava dormindo, os medicamentos conseguiram diminuir a intensidade de suas dores o fazendo adormecer. Os exames ainda não estavam prontos, mas ela tinha certeza que não seria nada bom. Ficou ali, sentada ao lado cama, abriu os livros, leu resumos, ocupava a cabeça caso contraria choraria sem parar ou até mesmo entraria em pânico sem saber o que fazer.

Passava das quatro da tarde e Natasha estava na lanchonete, anotava as coisas no caderno enquanto toma um chá, porque estava com o nervos a flor da pele, o médico havia conversando com ela a alguns minutos e como já havia deduzido, não era nada bom, e sim pior.

- Natasha? – A voz familiar lhe chamou a atenção, era Amália. – Oi meu anjo.

- Amália, o que faz aqui? – Se levantou recebendo um abraço apertado.

- Eu estive em reunião o dia todo, mas fui ao RH para saber da sua situação como disse... preciso de uma secretaria e uma das mulheres me disse que você recusou a vaga por conta do seu pai e obviamente eu vim. – Ajeitou os óculos sentando-se na cadeira. – Liguei para seu prédio e perguntei sobre vocês, os médicos já disseram o que houve?

- Parece que a cirurgia que fizeram nele quando sofreu a queda não deu certo, foi algo superficial... – Disse furiosa. – Se ele não fizer outra e fisioterapia além de ter essas dores horríveis pode não andar mais. Eu preciso trabalhar para pagar tudo, mas ao mesmo tempo ele precisa de toda atenção possível, não faz nada sem ajuda.

Amália acenava ainda em silencio apenas escutando, via a expressão cansada e triste, Natasha era tão forte quanto o pai.

- Eu li algumas coisas e vou processar a empresa. – Disse Nath batendo a caneta ao lado da espiral do caderno. – Eles fizeram essa merda de cirurgia para que meu pai não os processasse, exatamente porque sabia que seria justa causa, os equipamentos estavam com defeito e mesmo assim deram para os trabalhadores.

- Nath, eu dou meu apoio a você. – Amália segurou sua mão. – E vou te fazer uma proposta e sei que seu orgulho te fara falar não. – A menina a encarou. – Eu posso pagar a próxima cirurgia de seu pai e alguém para cuidar dele. – Ergueu a mão impedindo que a menina falasse. – Faço isso porque conheço e confio em vocês, e também sei que você faria de tudo para me pagar, então, aceite trabalhar para mim e estará "pagando" por isso.

Natasha não teve palavras, abaixou a cabeça chorando, a mulher puxou a cadeira se aproximando e a abraçando novamente, acariciava seus cabelos. Ela era apenas uma menina tão dedicada e forte, mas ainda assim, apenas uma menina.

Ela passou aquela noite no hospital, seu pai acorda às vezes apenas para resmungar coisas desconexas, ou pedir água, pela manhã, mesmo muito cansada tomou um banho e correu para a faculdade. Teriam revisão para as provas que se aproximavam, trabalhos a entregar, apresentações, setembro estava no fim e outubro já começava a gritar por socorro por tanta coisa que já estava programada.

Depois das aulas ficaria mais um pouco para estudar e seguiria para a EMPIRE, Amália lhe passou do que precisaria para seu registro e com a tamanha urgência que a mulher tinha começaria hoje mesmo. Caso contrário, surtaria, palavras dela.

Estava sentada em sua carteira copiando a última anotação do colega quando Ian gritou seu nome entrando na sala, ela franziu o cenho assustada.

- Seu pai está no hospital e você não me diz nada? – A menina ergueu as mãos.

- Ei, eu não tive nem tempo de respirar ontem Ian, se acalme.

- Mas teve tempo de sair com os amiguinhos e foi por eles que fiquei sabendo.

- Fale baixo! – Ela mandou se levantando. – Assim como você saiu ontem sem falar nada, nos deixando na mão, sai para almoçar e logo depois tive a notícia dele internado, fiquei o dia e a noite, então abaixa esse tom de voz que você não tem moral nenhuma para discutir comigo!

- Podia ter me ligado... não precisava ficar sozinha. – Ele finalmente abaixou a voz, envergonhado. – Desculpa.

Natasha suspirou e aproximou-se acariciando seu rosto.

- Tudo bem, vá pra casa, eu sei que não anda bem... – Disse de maneira calma.

- Me desculpe...

Ela acenou em silêncio lhe dando um beijo no rosto, Ian lhe deu um sorriso e continuou a se desculpar até se afastar, quando voltou a se sentar não quis trocar olhares com o colega Carl, mas o rapaz chamou sua atenção.

- Nath... Pare de aceitar tudo o que o Ian faz. – Disse com sinceridade. – Abre os olhos menina, você é linda, inteligente e tão esforçada, ele não te trata nem a metade do que merece.

G.U.Y. - Sob as Luzes da CidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora