"Não dá pra fugir, há momentos que nos tirarão da zona de conforto e é enfrentar ou se arrepender para sempre"
Natasha se afastou, não fisicamente, mas psicologicamente das coisas, sua mente estava turbulenta, mesmo vendo Caleb todos os dias garantindo sua segurança, ela não pode deixar de pensar na raiva que Jordene a fez sentir. Ameaçá-la, blefar daquela maneira, queria fazer algo, mas o que? Ela não tinha absolutamente nenhum controle da situação, para dizer a verdade. Ela não tinha controle nem da própria vida, dos sentimentos, pensamentos, as emoções a flor da pele. Seu relacionamento com Ian estava empacado naquele ponto e vírgula, mesmo já sabendo qual seria o ponto final que ela queria dar, mas até agora não conseguiu resolver. E sinceramente estava tentando com todas as suas forças solucionar. Ian já foi visto diversas vezes próximo a sua casa, mas quando ela pedia para conversarem, a resposta era sempre a mesma.
"Hoje não dá."
Mas que diabos fazia? Estavam de férias, ele não trabalhava e a seguia durante alguns dias, porque simplesmente não aceitava aquela maldita conversa? Nath tinha mais o que pensar e fazer, seu pai finalmente voltou para casa, fazia fisioterapia durante a semana e quando Caleb iria buscá-lo – algo que Natasha já havia dito que não era necessário. - ficava em casa com uma enfermeira que contrataram. Assim a menina se sentiria menos sobrecarregada, bem, em teoria, porque estava realmente preocupada.
Durante a noite tinha dois tipos de sonhos, aqueles que se tornavam pesadelos, misturando Ian e Jordene e outro junto a Derek. E ela admitia, ficar longe dele era algo complicado, ainda mais ao lembra de seu beijo e seu toque. Natasha estava ciente que tudo seria passageiro, afinal, Ian foi o primeiro e único namorado, ela não sabia o que era ser desejada por outro homem. Então a grande possibilidade de aquilo acabar rápido é grande demais. Derek e Ian são pessoas totalmente opostas, seria certo ela compará-los?Em algum momento, Natasha se apaixonou por Ian, algo nele a atraiu, mas sinceramente não conseguia se lembrar do que, ele havia mudando muito durante esse 1 ano que se passou. Quando havia deixando de ser aquele garoto que tanto gostava de ficar junto? Jogar seus videogames ou simplesmente o admirar tocando guitarra?
O que aconteceu?
Quando deixou de sentir sua falta?
Naquele momento Natasha ia até a casa dele, sem avisar, suas desculpas apenas a deixavam mais irritada. A casa dele é um pouco distante quase próximo aos bairros mais ricos de Toronto, demorou uns 20 minutos para chegar. Assim subiu aqueles poucos degraus e bateu na posta de madeira, e logo sua mãe, Sandra, atendeu com um grande sorriso.
- Nath! Que saudade quanto tempo não a vejo? Quase dois meses? - A mulher lhe deu um abraço forte. - O que aconteceu?
- Obviamente Ian não lhe contou. - Disse sem graça.- Meu pai sofreu um acidente no trabalho, fraturou a coluna e então eu saia de faculdade direto para casa.
- Meu deus! Não, ele não falou nada! Natasha se eu soubesse...
A menina sorriu de maneira gentil.
- Eu e ele não estamos nos dando muito bem senhora Gregori, muito antes do meu pai ficar desse jeito. - Sandra franziu o cenho. - Ian, não foi muito gentil, chegou até mesmo a me ignorar por boas semanas... E agora, eu só gostaria de saber se ele está em casa.
- Perdão querida, ele saiu com o pai logo cedo, não quer entrar para conversar?
Ela negou suspirando de maneira pesada, agradeceu e lhe deu outro abraço já se despedindo, se virou descendo a escada, mas Sandra a chamou outra vez.
- Eu não sei o que meu filho fez.. Mas não vou mentir em dizendo que não sei o caráter dele. - Sandra balançou a cabeça decepcionada. - Pensei que ele tinha mudado por você.
- As pessoas só mudam por elas mesmas senhora, e se deixar, nos usar até se cansarem. - Natasha foi totalmente sincera.
- Faça o melhor para você querida, saiba que é muito especial. - Sorriu triste. - Melhorar para seu pai.
- Obrigada.
Acenou brevemente voltando a caminhar, infelizmente mesmo tentando segurar aquelas lágrimas, não conseguiu, o choro estava preso a muito tempo. E por deus, ela não conseguia parar de soluçar, caminhava evitando encarar as pessoas, limpava o rosto com a blusa também tentando se esconder. Porque doía tanto?
Natasha queria ficar sozinha com seus próprios pensamentos, seus sentimentos feridos e confusos, acabou indo até o High Park, caminhou no seu silêncio junto às lágrimas depois de algum tempo, chegou aquele pavilhão, o calçadão próximo a praia Sunnyside. Havia algumas pessoas ali sentadas na areia, crianças correndo de um lado para o outro, Nath apenas sentou-se no banco de madeira mais afastado. Ela queria entender, estava triste, o peito doía, mas, não conseguia saber o porque. Não soube quanto tempo ficou ali, observando o mar, encostou-se no banco olhando para o céu azul que aparecia finalmente.
- Nath? - A menina se assustou encarando Ian.
- Como sabia que eu estava aqui? - Ele ergueu os ombros olhando o mar.
- Me disse uma vez que gostava de lugares calmos quando estava triste. - Ela ficou surpresa por lembrar-se daquilo. - Posso sentar?
Apenas acenou com a cabeça, lhe dando espaço, mas não queria ficar muito perto. Ele suspirou apoiando os braços sobre as coxas.
- Eu não quero ter essa conversa, estava tentando evitar.
- Você me evita a meses, não é nenhuma surpresa. - Retrucou ela. - E quando voltava, aparecia furioso.
- Eu sei que errei Nath... - Se virou para encará-la. - Por favor, me perdoa. - Tentou tocar em seu rosto, mas ela afastou tensa. - Está com medo de mim?
- E eu não deveria? - Mais que merda! Pensou ela ao sentir os olhos enxerem de água mais uma vez. - Você me machucou mais de uma vez... Tanto com palavras quanto fisicamente, quer que eu te abrace?
- Não... me desculpa, eu não quero perder você, por favor, eu amo você. - O empurrou quando tentou se aproximar outra vez balançando a cabeça.
- Não se atreva. - Deixou as lágrimas escorrerem apontando o dedo indicador. - Não ouse dizer que ama.
- Natasha, por favor...
- Você me magoou, me machucou, me tratou como se fosse um lixo, uma boneca que brincou e finalmente se cansou, mesmo assim, não me deixa ir embora... O que quer de mim?
- Eu quero você, eu te amo, errei, sei que errei feio, não tem perdão... Mas sou capaz de fazer qualquer coisa. - Tentou outra vez segurar-lhe a mão. - Natasha, por favor.
Ela balançou a cabeça, não acreditava em nem uma palavra que dizia, olhava dentro dos olhos dele, não sentia absolutamente nada, seu coração apenas doía dentro do peito, era tudo mentira. O amor que um dia ela sentiu por ele não existia mais, tinha medo e tristeza, e Ian tinha a coragem de dizer que a amava depois de tudo o que fez.
- Você tem razão em uma coisa... - Disse ela. - Realmente me mostrou um mundo diferente do meu, quando disse que me fez "mulher", tem sim, uma parcela de verdade. Você me fez sentir amada e desejada... mas também... rejeitada e insuficiente. Sempre fazia algo errado, não falava, não sentia... - Ele a observava em silêncio. - Eu... desisti, deixei que fizesse o que queria, e então... parei de sentir sua falta. Não há mais porque continuarmos, a decisão foi sua, eu demorei pra entender, mas quando entendi e me afastei você não gostou.
- Nath...
Ela se levantou enxugando o rosto rapidamente, deu mais uma olhada no mar.
- Eu só queria esclarecer a situação Ian, não quero mais sofrer, acabou. - Disse por fim dando as costas começando a andar, mas ele se levantou segurando seu braço, mas não tão violentamente como dá última vez.
- Não vou perder você Natasha, não vou deixar que acabe com tudo que tivemos. Me dê mais uma chace.
Ela riu de forma irônica soltando-se outra vez e se afastando.
- Você me perdeu a muito tempo, não importa quantas chances tenha, eu te dei várias e você só, soube estragar todas. Chega...
Voltou a caminhar o deixando falar sozinho, pode ouvi-lo dizer que não iria desistir. Mas de nada adiantaria, Natasha estava cansada, aquilo apenas pesava mais em sua consciência, doía demais, ela tentou, e nada foi o suficiente, parecia... que nunca seria suficiente. Estava com dor de cabeça, atordoada, andando pela calçada controlando a vontade de desaparecer e chorar o resto do dia, sentia-se tão mal, como tivesse culpa daquela situação. Ela parou ao lado de algumas pessoas esperando o semáforo fechar para que pudessem atravessar a rua, mas por alguns instantes jurou ter ouvindo alguém a chamá-la, só não sabia de onde vinha a voz, quando os outros começaram a atravessar a menina viu ao longe, caminhando rapidamente em sua direção. Amália com sua feição preocupada.
- Natasha! Oi, meu amor, eu estava tão preocupada, não atendeu o celular e... - Não terminou e falar recebendo aquele abraço forte da menina que soluçou apoiada em seu ombro. - Tudo bem... se acalme.
Acariciou sua cabeça e os cabelos, depois enxugou suas lágrimas erguendo seu rosto.
- Não me dê um susto desse.
- Perdão, eu não ouvi o celular... mas como me achou?
- Com uma ferramenta chamada, ele. - Apontou para o homem atrás delas, apoiado no carro parado mais a frente, vestia um sobretudo acinzentado e fumava um cigarro descontraído. - Perguntei a Caleb, parece que ele sabia exatamente onde estava, e me trouxe até aqui.
- Obrigada, por estar sempre aqui.
Amália não soube o que responder naquele instante, a menina havia abraçado-a novamente, podia sentir sua tristeza e aflição, apenas a deixou expressar aqueles sentimentos que a muito tempo estavam guardados. Depois de alguns minutos elas foram em direção a Caleb que sorriu rapidamente e acompanhou ambas entrarem no carro, o caminho foi silencioso até a empresa, pelo retrovisor, ele admirou o carinho pelo qual a mulher tinha com aquela garota. A puxou para perto, deixou que deitasse a cabeça sob seu colo, sem dizer uma palavra, mas seus olhos brilhavam e transbordavam o imenso amor que tinha. Não sentia inveja, nada do tipo, mas cenas como aquela o deixavam "tocado" de certa forma. Ainda mais tratando-se Amália que costumava ser profissional em todas as circunstancias.
Chegando na empresa, mantiveram aquele silêncio mais Natasha que sentia-se envergonhada, era uma situação que não queria trazer para o ambiente de trabalho, então tratou de manter-se com a mente ocupada, além de cuidar da agenda de Amália e as novas reuniões que teria no próximo mês, o que já seria semana que vem, teria que lidar com o som alto que vinha do térreo. Ela tinha esquecido totalmente que a festa seria naquela sexta-feira, não tinha clima nenhum para festas.
Quase totalmente apoiada sobre a mesa com o volume dos fones de ouvido tentando sobre sair o som da música do andar de baixo, Natasha estava anotando os nomes daquela lista mais uma vez em uma folha de papel, foram memorizados de tantas vezes que os leu. Aquelas letras embaralhadas, não diziam absolutamente nada como as primeiras, não conseguia entender o que eram... mas queria descobrir. Seja o que for, ajudara a distraí-la e além disso, Jordene estava atrás dessa lista por algum motivo, a chantagem dele para consegui-la era um ato desesperado. Suspirou pesado batendo a ponta da caneta na folha, e uma breve olhada, um dos nomes lhe chamou atenção.
McCaul Alameda
Ela leu esse nome em algum lugar, só sabia dizer aonde, puxou o teclado do computador para perto, pesquisando na internet e o resulto a fez encostar-se na cadeira.
Incêndio no armazém abandonado, sem feridos. - McCaul Street.
Natasha pegou a folha novamente. McCaul era o nome real, Alameda uma combinação das letras do alfabeto com números dando as coordenadas, as outras estavam embaralhadas por esse motivo.
- É um anagrama. - Ela disse para si mesma surpresa.
Com outro pedaço de papel, recomeçou, não sabe quanto tempo demorou ou até mesmo se passou, estava tão concentrada que nem prestava atenção no ambiente, o celular vibrou recebendo mensagens, mas foi ignorada. Mas ela conseguiu um resultado positivo.
H – I – T – E – D =
E – D – I – T – H
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G.U.Y. - Sob as Luzes da Cidade
General Fiction[18+] [Saga G.U.Y.] 1º Livro. Em uma realidade paralela, a saga relatara o universo de assassinos e poderosos que dominam o submundo. "Sob as luzes de cidade", apresenta e mostra como a vida comum de alguém pode ser destruída quando se cruza com um...