A música citada na história é Paradise da Vanessa Carlton
10 de Outubro – 2019 – MadrugadaEle andava por aquele armazém, as luzes piscavam o vento frio entrava pelas janelas acima com os vidros quebrados, a tempestade estava pesada o som dos raios e dos trovões encobriam os tiros disparados. Não soube quantos daqueles homens havia matado, mas os corpos caídos no chão já diziam que foram muitos. Só que também está ferido, mancava e sangrava enquanto caminhava para perto das grandes caixas, parou no meio daquele lugar, o reconhecia, mas não sabia de onde. Olhou para os lados, o silêncio era estranho, ergueu a arma aguçando a audição.
– É melhor abaixar isso!
Aquela voz surgiu de repente e todo o cenário mudou. O armazém pegava fogo, Derek agora tinha a arma apontada para um homem que ele não conseguia enxergar o rosto, as mãos tremiam e suavam pelo calor, mas também de medo. O desgraçado a frente tinha uma pistola mirada na cabeça de Natasha, a menina chorava, tinha o rosto machucado e as roupas rasgadas. Apertou o cano ainda mais a fazendo fechar os olhos e soluçar.
Ele ergueu as mãos, rendia-se, mas, pode ver o sorriso naquele rosto embaçado. Empurrou a menina para frente que tropeçou e cambaleou, mirou e sem hesitar deu três tiros em suas costas. Derek dera um tiro só, pode ter acertado ou não, aquilo não tinha importância, apenas correu em direção a menina que estava caída. A pegou nos braços, Natasha cuspiu sangue que escorreu pelo rosto, a puxou para perto, desesperado podia sentir o sangue encharcar as costas e sujar suas mãos.
– Você disse... - Ela tossiu, estendeu a mão tocando em seu rosto. – Disse que me protegeria...
Derek não conseguia falar, a voz não saia, o peito ardia de ódio e decepção.– Prometeu que não perderia mais ninguém...
Eram 3hs30 da manhã, Derek acordou num sobre salto, suando, puxava o ar pela boca afoito passou a mão dos cabelos que grudavam na testa e logo as encarou. Ainda podia sentir o sangue quente. Tremia, respirou fundo e olhou o lado vazio de sua cama. Não podia mencionar o quanto aquela menina lhe fazia falta, ele tinha medo, medo de perdê-la, Natasha é jovem e a qualquer momento podia decidir não querer mais ficar com ele. Nunca a obrigaria ficar, mas o maior medo de todos era alguém ousar tocá-la, feri-la, com certeza não mediria esforço para fazer bem pior com o filho da puta.
E aquele pesadelo está o perseguindo a bons dias e o deixando inquieto.
Levantou para tomar banho, precisava relaxar, tirar aquela merda de pensamento, aquilo só piorava ao notar que a própria menina estava um pouco distante há alguns dias, evitava ficar muito tempo próxima principalmente sozinhos. Não podia ser idiota, ele mesmo havia feito um trato, ficariam mais distantes mantendo uma certa hierarquia. E claro que esperava que obedecesse-se. Quando voltou, jogou-se novamente na cama, mas já não havia sono algum, encarou o teto naquele silêncio apenas esperando as horas passarem.
12Hs45, 11 de Outubro de 2019
Derek conversava com alguns homens em sua sala, nada muito importante apenas algumas informações semanais, eles se levantaram para se cumprimentar e enquanto saiam Caleb entrou apenas acenando a cabeça e logo aproximou-se da mesa.
– Sabe onde está Amália? - Derek se sentou erguendo os ombros.
– Provavelmente na sala dela. - O viu largar uma pasta sobre a mesa e apenas ergueu o olhar.
– Não, não está e sua princesinha também não. Quase 13 e nenhuma delas deram entrada na empresa.
Caleb estava irritado, viu o amigo abrir e ler a pasta.
– Amália venceu o caso, outra vez... Isso foi hoje de manhã e pelo visto decidiu não denunciar a empresa do Jordene. - Deixou aquilo sobre a mesa o vendo sair. – Aonde vai?
– Procurar a Amália.
Não teve tempo de responder, Caleb simplesmente desapareceu pelo corredor deixando a porta aberta. Ele respirou fundo, não estavam se entendendo muito bem naquelas semanas, eram ótimos profissionais, mas pessoalmente, poderiam sair no soco a qualquer instante. Coçou a barba levantando, caminhou até a porta chamando a senhora que se virou endireitando os óculos.
– Pode verificar a agenda da Amália por favor, ela e a secretária não estão e quero saber se está tudo bem.- A mulher acenou.
– Bem, parece que a senhora Smith tinha algumas reuniões marcadas para hoje e nenhuma foi cancelada. Três, no caso.
– Com quem?
– Com Flora Delgado que deve ter começado há alguns minutos, estava marcado para 12hs30. - Ajeitou os óculos que escorregaram pelo nariz. – Ah, o outro compromisso era a sessão no tribunal que fora as oito, agora a outra reunião é com Pietro Markoy.
Derek imediatamente revirou os olhos não evitando o desgosto.
– Derek, acredito que elas estejam em reunião, porque foi alterado aqui.
– Localiza. - A mulher o reprendeu com o olhar e ele ergueu os ombros. – Só faça.
Ela respirou fundo, balançando a cabeça, os dedos foram ágeis e não demorou muito.
– Foi a menina. - Lia algo na tela. – Ela está na empresa da Flora Delgado.
Ele acenou em silêncio.
– Derek... sabe que dia é hoje não é? - A encarou. – 11 de outubro.
Fechou os olhos balançando a cabeça, estava tão perturbado com os próprios pensamentos que tinha esquecido completamente. Era sempre assim, quando chegava as primeiras semanas de outubro, os três ficavam inquietos e irritados, nunca foi um bom dia. Caleb tinha os seus motivos para estar irritado, geralmente, ele detestava aparentar seus sentimentos, mas quando se tratava daquela data, não conseguia. Amália provavelmente voltou para casa, não é nada fácil lembrar de Melissa. E Derek sabia bem.
Estava sentando em sua cadeira encarando a paisagem do dia nublado, perdido em suas memórias, sentia culpa, incapaz. Achava que tinha superado depois de tanto tempo, mas quando a data da morte de Melissa chegava, era claro que não esqueceu. Se o Derek de antes pensasse como o de hoje, talvez, só talvez Mel poderia estar viva.
A questão era...
Se Derek tivesse amado Melissa, ela poderia estar viva.
Maio – 2011 –
Melissa estava relendo alguns arquivos, anotando incoerências quando deu um pulo na cadeira ao ouvir a batida na porta, tirou os óculos e levantou-se.
– Desculpe não quis assustá-la Melissa. - Derek aproximou-se e ela sorriu constrangida.
– Sem problema senhor Lynch, eu que ando... assustada. - Ajeitou a roupa. – No que posso te ajudar?
Ele a observou por alguns instantes colocou as mãos nos bolsos da calça.
– É bem diferente da sua irmã, sempre educada. - A ouviu rir baixo e tímida.
– Ao contrário da Amália, eu sei meu lugar. - Riu de novo. – A hierarquia. Mas, tem algum problema?
O viu acenar rapidamente.
– Amália me disse o que estão passando. - Melissa perdeu o sorriso no mesmo instante, abaixou a cabeça. – Ameaças e caixas com cabeça de porcos na soleira da porta não são algo para manter escondido.
Ela manteve em silêncio, sentou na cadeira escondendo as mãos que tremiam apenas de lembrar das coisas horríveis que vem acontecendo a meses. Ligações anônimas, ameaças frequentes, caixas com pedaços de animais e coisas que ela não fazia questão de identificar.
– A polícia já foi avisada, não é nada escondido, apenas pessoal, não a nada o que você possa fazer. - Finalmente disse, mas sem encará-lo.
– Muito pelo contrário, posso sim.
– Ah é? - Ergueu o olhar. – Como quebrar o contrato, meter o dedo de ouro no caso para que a credibilidade de Domênico despencasse?
– Sem isso vocês não venceriam. – Ela riu irônica.
– Eu preferia não ter me metido nisso, ao invés de convencer Amália a desistir dessa loucura de guerra de poder, a incentivou e ainda nos afundou ainda mais.
– Está me culpando? - Derek ergueu as sobrancelhas e a viu acenar.
– Amália tem uma admiração cega por você, ambos são parecidos, não gostam de ser mandados muitos menos desafiados... Pensam até mesmo igual, são mais irmãos do que eu mesma. - Disse fechando as pastas as organizando.
– E obviamente você me detesta. - Lançou para provocá-la, mas apenas recebeu um olhar de desprezo.
– Não o detesto. Apenas acho que é um garotinho rico cheio de poder que pode ser bem pior que o Domênico, mas sem a proteção do pai. - Pegou suas coisas levantando-se indo em direção a porta.
– Você não me conhece Melissa, não sou assim.
Ela parou na porta o encarando.
– O mundo te conhece dessa maneira, Derek Lynch, o dono do império. - Estava prestes a sair, mas voltou. – Só porque pensa que é uma coisa, não quer dizer que aparenta a mesma para os outros.
Saiu o deixando ali. Melissa estava apavorada, não havia nada que aquele homem pudesse fazer para ajudá-las, já havia feito demais, e sinceramente, não queria mais nada dele, apenas trabalhar e ficar em segurança dentro da própria casa. O que achava impossível por conta das ligações e pacotes indesejados.
As horas foram passando e naquele momento estava saindo do escritório de um cliente junto a Amália que não parava de falar, mas infelizmente ela não prestava muito atenção, os pensamentos estavam turbulentos e atentos a qualquer movimento diferente naquela rua. Mas sua irmã lhe puxou o ombro.
– Mel você está me escutando? - Recebeu aquele olhar perdido e depois um aceno negativo. – Ta tudo bem?
– Só estou pensando. - Caminhavam para o carro e antes de puxar a maçaneta encarou a irmã. – Porque contou ao Derek sobre as ameaças?
– Porque ele é nosso chefe precisa ficar sabendo do que acontece.
–Ah... não! - A confrontou entrando no carro ao mesmo tempo. - Como disse, ele é o chefe, não deve ficar sabendo de nada além de trabalho!
– Melissa pare com isso, ele é nosso amigo. - A mulher riu e balançou o dedo.
– Não, não, ele é seu amigo, não meu. - Corrigiu encarando o lado de fora da janela, vendo o carro entrar em movimento.
– Ah pelo amor de deus Melissa! Ele nos ajudou e também te ajudou quando foi doida de ir na empresa do Domênico, mais ainda, foi até em casa saber se estava bem quando fui atacada.
– Quando você foi ataca... - Repetiu balançando a cabeça. – Eu quase infartei naquele dia Amália, a Natasha estava em casa, imagine se algo acontece com ela? Meu deus! Que desgraça! - Segurou as lágrimas que teimaram em escorrer. – Se alguma coisa acontece com você...
– Nada aconteceu, Caleb estava comigo!
– E SE NÃO ESTIVESSE?! COMO PODE DIZER ISSO PRA MIM? EU PODIA TER PERDIDO VOCÊ!
Sem responder Amália a viu chorar desesperada, podia sentir o seu medo, o pavor, aquilo estava sendo demais para Melissa que sempre foi muito calma e gentil. Ultimamente não consegue dormir, acaba até mesmo dando respostas ásperas que não é de seu feitio, sentia-se tão esgotada. Mel enxugou as lágrimas e tentou se controlar ao atender o celular.
– Oi meu anjo, não, não, estou bem, do que precisa? - Claramente falava com Natasha. – Hm, não temos, mas eu posso passar na livraria e comprar pra você, não é incomodo nenhum, querida, mais tarde passarei ai. Até.
– O que ela queria? - Perguntou sem tirar os olhos do trânsito.
– Um livro que a professora pediu para ler. Pode me deixar no shopping?
– Quer companhia?
– Não.
Amália não discutiria, sabia bem que sua irmã tinha o próprio orgulho, estava triste e brava, não gostava de contar seus problemas para ninguém, como poderia julgá-la? Não disseram mais nada, apenas a deixou no shopping e pediu para chamá-la caso quisesse carona de volta para casa. Mel apenas acenou em silêncio queria ficar sozinha, tentar colocar os pensamentos perturbados em ordem, precisava se controlar.
Mas mesmo tentando vencer seus medos e alucinações, ela tinha certeza que não estava ficando louca, as ameaças eram bem reais, a todo momento achava que alguém a perseguia e isso a deixando ainda mais tensa. Se aconteceu com sua irmã, quem poderia dizer que não aconteceria com ela também. Andando sempre com o celular nas mãos ela observava as lojas sem muita atenção, fora até a livraria encontrar o livro que Nath precisava e comprou também um livro de palavras-cruzadas, incrivelmente sabia que sua menininha não ligava muito para desenhos de colorir ou algo do tipo. Sentou-se ali, em uma das mesas apenas deixado as horas passarem, lendo uma revista qualquer, folheava distraída com a xícara de café na mão.
Quando deixou a xícara de volta ao pires, ergueu o olhar para um grupo de pessoas sentando a frente, pareciam olhar diretamente para ela, viraram os rostos cochichando. Melissa apenas ignorou voltando a atenção a revista, mas aquela breve paz não durou muito tempo.
– Com licença, é Melissa Smith não? - A mulher de cabelos cacheados se aproximou sentando ao seu lado, sem ao menos pedir permissão. – Pode nos dizer como é acabar com a vida de alguém como Domênico Klaus?
Mel a encarou com o canho franzido.
– Como?
– É, ser irmã de alguém como Amália, apelidada de advogada do diabo, não deve ser muito bom não é? Me diga é verdade que dormiram com o dono da EMPIRE para trabalharem lá? Porque ninguém em sã consciência, aceitaria pessoas como vocês. - Riu maldosa.
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G.U.Y. - Sob as Luzes da Cidade
General Fiction[18+] [Saga G.U.Y.] 1º Livro. Em uma realidade paralela, a saga relatara o universo de assassinos e poderosos que dominam o submundo. "Sob as luzes de cidade", apresenta e mostra como a vida comum de alguém pode ser destruída quando se cruza com um...