Aquele lugar fedia a umidade, esgoto a verdadeira definição de podridão, o porão escuro só havia uma fraca luz amarelada ao centro que era acendida ao puxar de uma pequena corda, ali no centro iluminado um homem amarrado na cadeira resmungando em voz baixa, parecia delirar.
O som da tranca de ferro espalhou-se, os passos pegajosos foram ouvidos e algumas vozes masculinas conversaram.
- Tem certeza disso? – Perguntou um deles. – Eu posso terminar isso.
- Sei que pode, mas tem outro dever agora.
A porta fora fechada novamente, os passos se aproximavam ao centro da sala, aquele homem ergueu o rosto todo machucado quase não conseguindo abrir os olhos e da escuridão a figura imponente surgiu o assustando.
-Derek...Lynch. – A voz saiu rouca e quase sussurrou.
Acenando a cabeça em silencio, ele puxou a outra cadeira ali deixada de lado sentando-se a frente daquele rapaz.
- Vocês entram na minha empresa, tentam me chantagear e acham mesmo... Que eu não iria atrás? – Perguntou o observando cuspir sangue no chão. – O grande problema de vocês é não saberem quem eu realmente sou.
- É um lixo, todo mundo sabe quem você é...Pode me bater o quanto quiser nunca irei falar nada!
Derek riu fazendo o garoto se calar, a risada ecoou pelo porão e o olhar dele se fechou assustadoramente, aproximou-se daquele rosto roxo.
- Não garoto... eu não vim aqui faze-lo falar, estou aqui para deixar um recado. – Levantou-se e daquela escuridão arrastou uma mesa de metal que fez um barulho estridente incomodando os ouvidos do rapaz. – Eu sou muito compreensivo, mas principalmente focado e de certa maneira justo, ajudei muita gente... e alguns deles me retribuem com uma facada nas costas? – Ergueu o alicate para a luz e se virou. – Vocês...não fazem a menor ideia com quem mexeram. – Derek não deixou o garoto pensar e no mesmo instante arrancou a unha do dedo indicador. – Eu serei o pior pesadelo de todos vocês!
Agarrou o maxilar dele fortemente enfiando o alicate ensanguentado dentro de sua boca e encaixou no primeiro dente que apareceu e puxou sem pestanejar.
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Sexta-feira - 09hs45 da manhã
Natasha acabou passando a noite no hospital outra vez, chegou em casa as 6 da manhã exausta, ainda conseguiu tomar banho e comer alguma coisa antes de desmaiar sobre o sofá, mas aquele sossego durou apenas três horas, e seu celular tocou alto no quarto de seu pai. Ela até cogitou não atender, mas logo deu um salto com medo que algo ruim tenha acontecido durante as horas que descansou.
- Alo?
- Nath? Me perdoa acordei você? – A menina encarou a tela do celular lendo o nome de Amália.
- Talvez. – Riu fraco. – Aconteceu alguma coisa? – Sentou-se na cama coçando os olhos.
- Queria convidar você para uma reunião, na hora do almoço, mas vou entender se tiver medo. – Ela pareceu conversar com outra pessoa que estava ao seu lado. – Já entendi Caleb me deixa conversar aqui.
- Ah claro... acho que não será terrível.
- Ótimo! Obrigada Natasha, eu vou mandar um carro ir busca-la daqui a pouco e traze-la na empresa.
A menina desligou e ficou encarando a porta do banheiro por alguns instantes.
- Que sono...
Ela riu sozinha de maneira triste e se levantou para lavar o rosto e escovar os dentes, era melhor arrumar-se depressa porque os motoristas poderiam ser pontuas assim como as mulheres do RH, não gostaria de faze-lo esperar e dizer "só falta a meia no pé esquerdo moço!". Trocou a mochila para uma bolsa um pouco mais sofisticada até mesmo se permitiu colocar aquela bota de cano longo que tanto amava e evitava ao máximo gasta-la, mas estava frio e seria sua primeira reunião, não precisava parecer uma universitária desesperada, apesar de ser! Uns 20 minutos depois o porteiro interfonou avisando que havia um motorista a sua espera, Natasha pensou em chamar o elevador, mas algo dentro dela sabia que hoje seria um daqueles dias que ele resolveria não funcionar e então foi pulando os degraus até o térreo. Cumprimentou rapidamente aquele senhor e saiu avistando um homem alto de cabelos grisalhos que terminava de tragar um cigarro.
- Bom dia! – Disse ela se aproximando com um sorriso, recebeu um olhar sério em troca, Natasha até mesmo pensou em se afastar.
-Bom dia senhorita Losev. – Ele lhe lançou um sorriso de canto e apagou o cigarro o jogando certeiramente na lixeira ao lado. – Sou Caleb Oswald, Amália me pediu para busca-la. – Lhe estendeu a mão.
- Prazer em conhece-lo senhor Caleb.
- Só Caleb minha querida, senhor aqui é só o dono daquela espelunca. – Ele riu sozinho claramente fazendo referencia a Derek. – Venha.
Ele abriu a porta traseira, Nath entrou e o observou dar a volta no veículo. Derek tinha razão, se aquele era Caleb, ele realmente tinha a expressão que poderia te cozinhar numa panela para a janta. Ficou devaneando rapidamente, Caleb deveria ter mais ou menos 50 anos, assim como Derek, e ambos eram extremamente lindos, se perguntava como conseguiam chegar em tal idade e continuar...bem... atraentes? Seu pai também era um "senhor bonito", mas não chegaria nem aos pés daqueles dois, pareciam até mesmo galãs de cinema. Caleb tinha cabelos acinzentados, algumas mexas caiam sobre a testa, o olhar caído e sério, maxilar bem definido, uma beleza diferente. à primeira vista Caleb não parece um homem muito amigável, diferente de Derek Lynch. Derek era carismático até mesmo sem dizer uma palavra.
Ela apoiou o cotovelo próximo a janela ainda devaneando com a paisagem, Caleb ergueu o olhar para o retrovisor a observando.
- Tudo bem senhorita Losev? – Ela virou o rosto brevemente e suspirou. – Parece distraída.
- Estou cansada, só isso Caleb. – Confessou. – E apenas pensando.
- Uma moça tão jovem não deveria ter tanta preocupação. – Ouviu sua risada baixa.
- Concordo. – Ela se aproximou do banco da frente com um sorriso. – Mas também estava pesando que o senhor é muito bonito. – Ele riu. – Sei que parece uma cantada, juro que não é, mas acho interessante ver homens mais velhos serem mais bem cuidados. Meu namorado é só o pó da briga.
Caleb soltou uma risada alta balançando a cabeça, aquela garota era muito espontânea. Lançou outro olhar para o retrovisor, Natasha era uma menina simples e meiga, continuava a conversar sobre como seria sua vida aos 25 anos ou mais. Ele respondeu algumas vezes, não era muito comunicativo, mas também estava longe de ser mal-educado de deixar a moça falar sozinha. Um longo caminho, ele estacionou em frente ao prédio e saiu do carro para fumar esperando Amália, a menina saiu também e ficou encarando o prédio.
- Posso perguntar o que faz Caleb? – Ele tragou o cigarro acenando.
- Sou chefe da segurança. – A ouviu seu wow. – Protejo a bunda branca do Derek. – Zombou, imaginou que lhe daria um soco se soubesse o que falava e riu. – E mais algumas coisas.
- Percebo que o senhor Lynch gosta de ter pessoas conhecidas ao seu lado. – Comentou ela se aproximando de Caleb, encostou-se ao lado do carro. – Dona Amália também é muito próxima pelo o que ele comentou.
- Derek e eu servimos o exército juntos. – Comentou e lhe lançou um olhar colocando o dedo indicador sobre o lábio.
Natasha sorriu e acenou silenciosa.
- NATASHA MINHA FLORZINHA! – Caleb revirou os olhos. – Como está meu anjo?
- Bom dia! – A menina sorriu novamente. – Bem e a senhora? – Perguntou enquanto entravam no carro.
- Senhora agora não, detesto me sentir velha.
- Você sempre foi.
Caleb comentou dando um sorriso de canto e recebendo apenas um olhar de desgosto da Amália que recusou-se a responder e apenas entrou no veículo. Enquanto se dirigiam ao restaurante a mulher passou algumas informações sobre o cliente que ele fora uns dos prejudicados com as informações vazada, mas estava disposto a discutir e entrar em um novo acordo, além disse Nath comentou sobre o estado do pai. Passava algumas horas dopado, outras, reclamando da comida que doía mais que a coluna. A cirurgia será na próxima segunda, a menina confessou estar com medo, medo dele não andar mais ou pior.
Elas continuaram conversando até chegarem, Caleb estacionou as deixando em frente ao restaurante , Natasha sorriu ao ler o nome em Ucraniano.
- Um restaurante russo. – Comentou acompanhando Amália que tocou sobre seu ombro. – Acho que nunca cheguei a entrar em um.
- Esse é era um dos motivos que queria você aqui. – A mulher cumprimentou o homem a frente pedindo sua reversa. – Nosso cliente de hoje se chama Pietro, é russo, fala inglês, mas se tem uma coisa que aprendi nesses anos trabalhando na EMPIRE é que conversar com seu futuro contrato em sua língua mãe... Facilita as coisas.
Natasha arregalou os olhos a encarando.
- Ele mesmo escolheu o restaurante, é ucraniano... poderíamos ter ido um típico russo... mas...
- Amália! – A menina puxou. – Como pode me mandar fechar um contrato? Eu nem sem falar como você...termos e.
- Se acalme! É assim que se aprende, e não se preocupe, não sou louca em deixa-la sozinha só quero mostrar a ele que temos mesmo compromisso com nosso acordo.
Natasha ficou mais branca do que já era, Caleb pareceu logo depois as seguindo, foram guiados pelo garçom até uma mesa no canto. Aquele lugar é fantástico, o cheiro da comida era incrível, a musica suave no ambiente, o local ainda estava vazio, não chegava nem ser meio dia. Deduziu que o dono do restaurante havia aberto mais cedo apenas para eles. Pietro os avistou e se levantou com um grande sorriso. Era um homem alto, cabelos curtos e ruivos, algumas rugas e uma barriga bem saliente, ajeitou o terno acinzentado e abriu os braços envolvendo Amália.
- Minha querida Amália, coloriu de meus olhos! Está mais bela a cada dia. – Parecia dizer com sinceridade, e estendeu a mão a Caleb que lhe deu um meio sorriso. – Caleb, Caleb o homem com o polegar de ouro! – Brincou e virou para ela. – E você pequena flor... quem é?
-Natasha Losev meu senhor, prazer em conhece-lo.
Até mesmo Caleb se surpreendeu encarando-a ao ouvir seu russo.
- Ora..ora. – Ele apertou sua mão. – Muito prazer, pequena flor, seu russo é formidável.
Timidamente ela sorriu acenando com a cabeça.
- Pietro essa é a minha nova secretaria, Natasha, pode ter certeza que ela é confiável e muito dedicada.
- É incrível, te parabenizo pelo russo minha cara, é limpo e muito bem pronunciado. Se Amália diz que é confiável, com certeza será. Melhor que anterior tenho certeza.
- Obrigada senhor Pietro, eu sou filha de um pai russo, ele me ensinou ainda criança. – Os acompanhou sentando-se a mesa. – Nunca decepcionaria a senhora Smith, ela já ajudou muito a mim e meu pai.
- Oh. – Ele soltou animado e lhe segurou a mão outra vez. – O que nós mais prezamos são os laços, a fidelidade, família minha cara é a coisa mais importante que temos, e vejo nos seus olhos que diz a verdade. – Pietro estava enfeitiçado pela menina. – Sua lealdade é muito bem-vinda minha cara.
Caleb ajeitou o terno e umedeceu os lábios lançando um olhar e um sorriso cumplice a Amália que apenas acenou sutil com a cabeça. Nada mais certeiro do que uma jovem russa, a mulher sabia que o jeito de sua nova funcionária os ajudaria, Nath conversou rapidamente com o homem deixando que ele ficasse feliz e animado ao saber que mesmo não visitando a Rússia, ela tinha muito apreço pelas tradições, uma conversa descontraída. Fizeram seus pedidos, trocaram alguns papos mais sérios sobre a segurança e sigilo, como seus produtos seriam expostos além da Europa e quando poderia se encontrar o homem que mais esperava, Derek Lynch.
- Ouvi dizer que o senhor Lynch se encontrara com Jordene... – O nome foi pronunciado com certo nojo. – Devo me preocupar?
- Acredito que não senhor. – Caleb apressou-se em responder, Amália e Natasha não sabiam responder aquilo. – Lynch sabe bem onde coloca os pés, Jordene está tentando uma reunião a alguns meses e parece que a paciência dele se esgotou. – Comeu outro pedaço da carne. – Derek não pode mais enrola-lo.
A menina limpava o canto dos lábios em silêncios, apenas prestando atenção era o tipo de assunto que não entendia absolutamente nada, aquele tipo de negociação nunca nem se passou nos livros teóricos da faculdade. Mas Pietro lhe chamou atenção.
- Me diga senhorita Losev. – Tomou o ultimo gole do vinho. – Assinaria um contrato com essa empresa mesmo depois de algumas de suas informações serem expostas?
- É uma pergunta injusta Pietro, ela é uma estudante e não entende desses assuntos.
- Deixa-a responder Amália. – Caleb disse de maneira seca sem encara-la.
Já jogaram roleta russa? Uma bala colocada dentro do tambor da arma que é girado algumas vezes, a cano posto sobre a cabeça e por fim o gatilho puxado. Natasha sentia-se exatamente daquela maneira, era uma pergunta extremamente injusta e fora de seu alcance.
- Seja sincera. – Pietro disse em russo.
Onde estou me metendo deus. Foi exatamente o que pensou, mas respirou fundo e o encarou, e sem Amália e Caleb entenderem nada, ela respondeu em russo. Houve um breve silencio, mas Pietro sorria e estendeu pedindo a pasta preta que ela segurava, tirou a caneta e assinou o contrato.
- Muito bem, acho que fui convencido. – Pietro devolveu a pasta. – Senhor Lynch tem a minha confiança mesmo depois do ocorrido, sei que ele e você Caleb já estão lidando com essa situação se não me engano. – Caleb apenas acenou. – Senhorita Losev é um exemplo de como as coisas já começaram a mudar, parabéns Amália, sua nova funcionária é um tesouro.
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G.U.Y. - Sob as Luzes da Cidade
Ficção Geral[18+] [Saga G.U.Y.] 1º Livro. Em uma realidade paralela, a saga relatara o universo de assassinos e poderosos que dominam o submundo. "Sob as luzes de cidade", apresenta e mostra como a vida comum de alguém pode ser destruída quando se cruza com um...