Admirável Vida Nova - Ato 2 (FIM)

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Admirável Vida Nova – Ato II

"Vejo que está se divertindo com os bonecos que te dei".

A menina estava sozinha dentro de seu quartinho, pintado com todas as cores mais vivas e alegres que possam existir. Estava tão compenetrada na brincadeira que levou um susto ao ouvir aquela voz sedosa e adocicada aparecendo do nada. Ela ergueu os olhos e virou-se para ver quem era, logo abrindo um sorrisão:

"Irmão Sszzas!", exclamou, pondo-se de pé num salto e indo abraçar o homem, "sim, sim, estou adorando! Eles são muito legais! Obrigada!".

Era um rapaz bonito, com roupas douradas e pretas chamativas, de cetim e seda brilhantes. Seu rosto, de traços bem definidos, estava pintado: dois olhos, um em cada bochecha, e um último olho no lado direito da boca, logo abaixo dos lábios. Sua boca sorria conforme ele retribuía o abraço:

"Que bom, fico tão contente que você tenha gostado. Foram bonecos difíceis de achar, sabia?".

"Poxa, obrigada de verdade, irmão!".

O homem olhou em volta, tomando atenção da brincadeira encenada pela criança. Havia um conjunto de casinhas no formato de uma vila, toda pintada de branco. No centro da vila, vários bonecos de massinha estavam amassados, formando uma bola. Próximo ao portão de entrada da vila, um outro boneco de massinha, dessa vez inteiro, lembrando o corpo de um elfo, estava de pé, diante de um outro boneco. Diferente dos de massinha, esse boneco era sólido. Um soldadinho de chumbo.

"Irmã Lena, mas o que é isso? Por acaso está brincando de lutinha?".

A garota soltou o abraço do irmão e apertou as próprias mãos, encabulada.

"Talvez...mas, tipo, não é lutinha. Eles estão apenas conversando".

Sszzas apontou para o amontoado disforme, grotesco, e estraçalhado de bonecos de massinha no centro da pequena vila de brinquedo. Lena nada respondeu, apenas olhou para o chão, ainda mais envergonhada. Quando ameaçou chorar, a mão carinhosa do irmão fez carinho no topo de sua cabeça.

"Irmã, não precisa ficar triste nem com vergonha. Não tem problema querer brincar desse jeito".

"Mas eu sou a deusa da vida. Meus parentes dizem que não é próprio da vida machucar e se irritar e ficar com raiva"...

"Ora, e por acaso ficar com raiva também não é coisa da vida?".

"Não sei, acho que é sim...".

"Quando um bichinho fica com fome, ele não fica irritado? Quando triste, não fica irritado? Ora, irmã Lena, você tem direito também de ficar irritada às vezes".

Sszzas se ajoelhou, ficando na altura da menina. Seu sorriso amplo alegrou o coração dela.

"Você tem razão irmão. Acho que não tem problema ficar irritada às vezes, né?".

"Claro que não. Mas, irmã, eu posso perguntar uma coisinha?".

"Pode sim".

"De verdade, você vai me responder?".

"Vou sim, se eu puder", Lena deu uma risadinha, "se for pergunta difícil é melhor falar com a irmã Tanna-toh".

"Não é pergunta difícil não", Sszzas segurou a mãozinha de Lena, "me diz, irmã, por que você está irritada?".

Lena novamente ficou envergonhada, deixando seus olhinhos de cores indistintas fitarem o chão.

"Por acaso é uma pergunta difícil de responder? Você não sabe?".

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