Universo Tormenta

O nome do ocaso

O nome do ocaso

"Então, Glórienn é seu nome agora?"

A deusa sorria, observando sua criação do topo do penhasco luminoso. Ao seu lado, a figura em mantos dourados continuou a falar:

"Nome estranho, parece algo sem propósito".

"Significa lar da glória. Foram meus filhos que escolheram. Me parece um nome bonito"

"Uma nomeação típica das bestas mortais; e, de qualquer forma, o que seria glória?".

"A sensação transcendental entre o alvorecer e o pôr do sol", respondeu a deusa de cabelos roxos com iridescente alegria. Então, virou o rosto, cravando olhos de igual cor na figura de mantos, "e não compare meus elfos com as medíocres e brutais feras de nossos irmãos. Eles possuem beleza verdadeira, e um dom que foi negado a todas as outras criaturas: a alegria harmônica".

"Sim, percebo, minha irmã. Conseguiu algo único com estes... 'elvos'".

"Elfos, irmão. Aqueles de luz", corrigiu Glórienn, ponderando se ele havia propositalmente pronunciado o nome errado, "e eles estão fora do jogo divino. Longe de Arton, longe das disputas, longe das feras. Não existem para o sofrimento, nem existem para os ridículos conflitos dos deuses. Estão sob minha guarda eterna, e nenhuma das forças, nem mesmo o Nada, nem mesmo o Vazio, hão de agir sobre eles".

"Ora, irmã, como pode dizer algo assim? Se algum dia a calamidade pesar em seus ombros, vai me dizer que não irá recorrer aos seus 'elvos' em auxílio? Se o universo inteiro tremer, vai dizer que eles também não tremerão?".

Sszzaas sentiu o poder infinito de Glórienn ameaçar destruir-lhe por completo.

"Não aceitarei ameaças em meu mundo, deus da intriga. Nem suas, nem de qualquer outro. Sinta-se convidado a deixar Ninvenciuén".

O deus serpente precisou de um momento para recuperar o fôlego, sua própria essência no limite das forças. Mesmo assim, o fino traço de um sorriso maleficente permaneceu intocado em seu rosto.

"Vai ser chato ter que lembrar desse seu novo nome, 'Glórienn'. Era tão mais prático quando você era a 'inominada', ou 'a deusa do ocaso'. Mas fico feliz que, pelo menos, manteve a beleza costumeira de Ninvenciuén. Os céus daqui, nunca escuros, nunca claros, são, devo dizer, os mais perfeitos dentre todos os mundos dos deuses".

Glórienn ergueu uma sobrancelha; sabia que todas as palavras de Sszzaas eram algum tipo de ameaça. Dessa vez, contudo, não sabia dizer exatamente o que seria. O irmão olhou com olhos inexistentes para Glórienn enquanto, lentamente, sumia no ar, dizendo suas últimas entonações:

"Realmente, nada há de mais belo do que o ocaso, pois ele representa simplesmente a queda: seja a queda do dia, seja a queda da noite. Imagino quão satisfatório é ser a deusa da beleza em queda, e ter no roxo sua cor amada. Ou seria o vermelho? Realmente, esse seu novo nome lhe cai bem. Afinal, Glórienn é apenas outro nome para a queda".

Nada mais podia ser respondido. Sszzaas se foi. E Glórienn, dando de ombros, sorriu, observando, no vale lá embaixo, seus belos elfos em perene alegria.