Punho e Paz - Ato 1

61 1 0
                                    

PUNHO E PAZ

Ato 1- O Palácio da paz e do amor

"Não há nada mais belo do que a paz e o amor. E aqueles lugares em que ambos reinam são, definitivamente, os lugares mais belos. E, por essa razão, nenhum lugar é mais belo, nenhum lugar é mais lindo, do que o lugar do lugar de Pas, a Metrópole da Luz, no mundo divino Serena, onde reside a altiva e serena Marah, deusa da paz e do amor, rainha de tudo que é bom!"

– Todo dia é dia de canto, todo dia é dia de festa. Nas ruas saltitam crianças, com rostos de sorrisos que nunca esmorecem, nunca. E comerciantes trocam moedas, em bolsos que nunca esvaziam, nunca. Moeda pra cá, moeda pra lá. Sempre uma moeda pra alguém deve sobrar, sempre. E olha, lá, um grupo de artistas – mostrando a graça da alegria que vem com a paz. Sim, e vão dançando, e cantando, e ganhando moedas, sempre mais. Ora, um citarista não conseguiu ainda as moedas do café da manhã? Não é preciso tristeza, jamais tristeza! Dance mais um pouco, dance com vontade, dance mais, sempre mais, e logo, olha só! A moeda que faltava chegou, e seu estômago vazio poderá encontrar alívio para o dia. Mas só para este dia, pois amanhã tem mais, sempre mais, na cidade de Pas.

– Vem ali um humano de roupas bonitas, vem aqui um elfo de lábios finos. Ali um anão, ali um halfling, ali um pequenino pequeno do povo das fadas. Todos sorrindo e cantarolando, dizendo 'bom-dia' e 'olá' uns pros outros, enquanto olham por cima dos ombros, por cima dos ombros e das ruas desertas, das ruas desertas e dos becos, dos becos claros (nunca escuros), claros de olhos, sempre sorrindo, sempre cantando, sempre dançando e vigiando, vigiando a paz da Pas de paz, em paz, sempre, sempre em Pas. Que dia sereno em Serena, que sereno dia para amar e cantar e dançar e vigiar, na cidade de Pas, em nome de Marah!

– Mais pra lá, ao longe (mas perto), tem um monastério, sempre um, sempre há. Monges alegres meditando, contentes, muito contentes, os ditados e premissas do credo de Marah. Jamais erguer mãos em fúria; jamais ferir ou fazer sangrar; jamais arremessar a bile perversa em palavras de angústia e desatino; jamais erguer a voz cingida de aviltamento; jamais erguer a voz tocada de afetação; jamais erguer a voz em descontentamento; jamais erguer a voz em alto som; jamais erguer a voz em alto; jamais erguer a voz, nunca, e sempre. Assim aprendem os monges, assim os monges que nunca lutam, nunca. Em seus monastérios de rocha branca, e luminosa, e serena, no mundo de Serena, mundo da deusa Marah, da paz e do amor. Honoráveis monges, monges de honra e ardor. Ali, em suas paredes, em silêncio, sempre, olhando pro chão, pra mão, que treme, e treme, e escreve salmos e hinos e receitas de bolo, com caligrafia incerta, caligrafia torta, torta da alegria, da euforia, sempre eterna, sempre e sempre, de Marah. Jamais erguendo voz, sempre olhando baixo, sempre e jamais.

– Problema? Não, problema algum não há! Quando alguém faz estripulias, quando um adulto acha ser criança, e travesso, avesso, procura confusão inocente, não tememos, nunca, pois olha, lá, ali no canto, vem serena a pacificação, célere, rápida, em galope alegre, com laços e fitas coloridas, fazer um nó nessa balbúrdia! Não existe, isso não, conflito ou fúria ou raiva ou enganação, onde amor e paz são reino, amantes de um mesmo lugar, sempre juntos, sempre e jamais.

– Se duvida, olhe ao longe! Com torres de hélice, curvas, bulbos e domos sinuosos, e enormes arcos e colunas de corações iluminados, e árvores frondosas e frutas e flores, sim, meus caros, é este o palácio do eterno dos amores! Todo dia é noite de aventura, entre lençóis, camas, colchões, todos lá sentirão os múltiplos sabores, em múltiplos ardores, do mais e mais, sempre mais, nunca jamais, os ardores e sabores dos amores. Cada dia um bem-amado acasalado chega lá, entre núpcias que não findam, entre beijos mais ardentes, suas sementes vão crescendo, germinando, até duas almas quedarem em uma! O que haveria de mais correto que duas almas, e só duas, sempre duas, nunca mais e nunca menos, nunca, sempre e jamais, ficarem juntas, juntas mesmo, pois solidão é sempre errada, solidão é casa triste, alegria é união, de duas almas separadas, sempre duas, nunca mais, sempre, sempre e jamais! Ah, como é belo o amor, como é bela a paz, ambos reinando em Serena, o mundo da deusa Marah, tão perfeita quanto plena, tão perfeita quanto...

Universo TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora