Tiligien 02 - Elfa contra Minotauro: debate inaugural sobre a servitude élfica

223 3 3
                                    

15/07, 2019


"Está pronta, professora?".

A voz gutural trouxe Tiligiennelen de volta à realidade. Em seu gabinete, dentro do campus de Valkaria, a elfa já passava pelo menos uma hora ensaiando falas enquanto, meticulosamente, observava sua postura num espelho de corpo. Imaginava a postura correta para uma determinada resposta, quanto de entonação falaria ao fazer um contra-argumento. Detestava esse tipo de coisa; debates em tribuna tinham pouco de científicos, se tornando um espetáculo para aliciar as vaidades alheias, um teatro de falsidades.

"Professora Nelen", a voz asseverou, agora acompanhada de uma batida na pesada porta de carvalho, "o tempo é curto, a senhoria está ouvindo?".

Deixou escapar pesadamente o ar entre os dentes.

"Sim, reitor Masondo", a elfa virou-se, deixando suas costas ao espelho e fitando o pequeno e largo antropoide, "peço perdão pela minha indelicadeza".

Masondo deu uma risada, vestido em seus tradicionais robes escuros com as cores das flâmulas da capital valkariana, exibindo sem enfeites sua posição dentro da Universidade Livre de Arton.

"Não precisa se desculpar, imagino que esteja bastante ansiosa. Confesso que não gostaria de estar em seu lugar. Mas isso não é razão para formalidades, você me conhece desde quando eu usava fraldas, por Khalmyr! Pode deixar o sobrenome de lado e me chamar de Gatsha".

A elfa sorriu, fazendo uma suave reverência e acompanhando o reitor.

"Pois lhe digo o mesmo; pode me chamar de Tiligien".

"Bah, isso já é difícil para nós anões. Engraçado, não é? Adoramos deixar liberdades para nossos amigos, enquanto nós mesmos nos prendemos em costumes rígidos".

Tiligien não deixou escapar aquele comentário; sua mente estava bastante afiada naquele momento.

"Eu devo estar sendo um fardo para a universidade, não? E, especialmente, devo estar sendo uma amiga que abusa demais da liberdade".

Gatsha Masondo parou no corredor. A elfa, igualmente, refreou os passos, mas sem olhar para o reitor.

"Tiligien, você sabe que, antes de tudo, sou um anão sincero, ainda mais contigo. O seu pequeno folhetim tem causado grandes problemas, e levantou ultraje por parte de muitas das instituições que financiam nossa nobre casa. Meus dias – e noites também – se tornaram particularmente agitados desde que resolveu publicar sua 'Denúncia sobre o extermínio élfico'".

– Contudo, e eis a questão: não poderia estar mais orgulhos pela honra de ter, em meu campus, alguém com a coragem de levantar a voz diante do caos que está se apossando de nossa instituição.
Tiligien não conseguiu segurar o sorriso, deixando seus olhos claros fitarem os escuros do anão.

"Me deixa contente com tamanho elogio, senhor reitor".

"Sabe, elfa", disse Gatsha, recomeçando a andar, "a universidade está estranha desde que o Reinado foi fragmentado. Não basta já as disputas internas por prestígio, a situação ficou ainda mais ridícula agora que cada campus tem um reitor diferente. Especialmente quando eles são um bando de insuportáveis e energúmenos! O maldito minotauro Theologius de Tapista, e aquele incompetente humano Weissraut de Yuden, não podia existir uma dupla maior de idiotas. Graças a Khalmyr que pelo menos o campus de Wynla continua aliado nosso".

"Uma pena que o campus da cidade de Wynla está muito mais interessado em projetos pessoais, e é inegável que estão mais ligados com a Academia Arcana do que com a Universidade Livre. Me diga, Gatsha, e quanto a Doherimm? O reino dos anões demonstrou interesse em"...

Universo TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora