Glórienn Quebrada 10 - Depois do fim

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Tauron, o deus da força, chegou na alameda de flores. Em volta, as inúmeras flores de lótus que criavam um arco de beleza, agora estavam murchas. E mortas. As centenas de cores das pétalas coalesciam num cinza podre. Tauron segurou seu lendário machado, firme, pronto. Seus músculos vibraram de angústia. Decididamente, avançou, atravessando o portal de entrada, e caminhando para os restos do mundo de Glórienn.

As árvores tentavam se manter de pé. Os rios choravam em águas vermelhas. O céu se ocultava em nuvens espessas, com o cinza se vomitando sobre a paisagem como um mausoléu. A grama, pálida e seca, se partia, como ossos, sob os pés do deus minotauro. Se não fosse o ele a encarnação da força, sua vontade fraquejaria naquele momento. Se não fosse ele a coragem pura, teria medo, ou receio. Mas, com resolução pétrea, ele avançou. Rumo à escuridão no centro do mundo. Rumo ao quarto de Glórienn.

Ali, havia uma esfera escura, como um buraco negro pulsando em tristeza. Fora ali que usara sua força infinita e arrancara um pedaço do universo, prendendo a deusa maldita num bolsão minúsculo, fechado e sem saída. Diante da corrupção de Glórienn, Tauron buscou conselho e sabedoria junto aos outros deuses. Agora, retornava com uma resposta.

Virando o rosto para baixo, disse:

"Serviçal élfica. Seus trabalhos serão realocados para nova função"

A voz do deus da força foi direcionada para uma pequena elfa, de joelhos, no chão. Finly, a cuidadora de Glórienn. Ninguém desprezava mais a deusa do que Finly. E, também, ninguém sentia tanta pena pela deusa quanto ela. A elfa tremia, agarrando furiosamente o símbolo de Glórienn, o arco de prata, que carregava ao pescoço num colar.

"Recue, serviçal. Encontrará aqui apenas o fim. Sua deusa não existe mais".

Finly balançou a cabeça. Seus dentes rangeram – de fúria, de descontentamento, de abjeção, de tantos sentimentos que queimavam o fundo da garganta.

"Não. Eu não irei recuar", a elfa ergueu os olhos e, destemida, olhou fundo dentro da força infinita de Tauron, "se este é o fim, que eu termine com ele. Não irei...", sua voz tremeu, mas logo ganhou força, "não irei deixar a deusa. Glória a Glórienn!".

Tauron piscou uma vez. Então, voltando-se para o buraco negro, disse:

"Recompensarei sua coragem com o direito de ver o fim que anseia, serviçal".

Sem mais nada a adicionar, o deus da força ergueu seu poderoso punho, enquanto no outro manteve em riste o machado. Então, seus bíceps tremulando, agarrou o espaço vazio dentro do buraco negro e, lentamente, puxou o fragmento que havia arrancado. A escuridão foi sumindo, dando lugar a uma porta lindamente trabalhada, que foi se aproximando, se encaixando, até, finalmente, o quarto de Glórienn se manifestar por completo.

Tauron foi empurrando a porta. Finly segurou a respiração, agarrando fervorosamente o símbolo de Glórienn. A porta foi se abrindo, abrindo, até escancarar-se por completo, e revelar...um quarto vazio.

Finly soltou o ar num sibilo, antes preso pelo suspense. Ela havia visto como Glórienn tinha sido tomada pelo desespero, lá no harém. Ela viu a forma de sua deusa ser corrompida. Imaginou que, assim que fosse aberto o quarto, um monstro nascido de pesadelo e vingança atacaria, numa fúria destrutiva. O quarto vazio era um alívio...e um horror.

O deus da força simplesmente avançou. Finly, atrás dele, aguçou os sentidos e percebeu, então, um enorme buraco, cavado com unhas e dentes, no meio do quarto. Seu coração paralisou.

"Deusa caída", a voz trovejante de Tauron balançou tudo o que sobrara daquele mundo, "apareça. Tauron, líder do Panteão e deus da força aqui se encontra. E trago comigo sentença divina".

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