Valkaria/Glórienn - Aventura e Sorrisos [1]

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  "Sabe, eu realmente duvidava que você viria", confessou Valkaria, a deusa da ambição. Vestia uma armadura de couro de dragão vermelho. Magicamente flexível, leve e absurdamente forte. Seus cabelos de um ruivo acastanhado ardiam no sol da manhã, e sua espada, já escorrendo sangue das primeiras batalhas, estava segura entre seus dedos longos.

"É mesmo? Mas você sabe que eu nunca falto com minha palavra, irmã".

À frente dela, uma figura aparecia lentamente, como quando a luz de um holofote se joga contra um manequim, fazendo sua sombra aparecer no palco do teatro. Nesse caso, ao invés de uma sombra, a figura era feita de ramos e pétalas, centenas de flores que iam se abraçando, se juntando, até formar um corpo esbelto. Trajava um vestido com um verde mais profundo do que a mais profunda das matas, entremeado de joias com ouro branco e amarelo. As joias estavam tão bem jungidas ao tecido que pareciam se misturar à carne do corpo, fluindo como gotas de chuva tamanha a leveza. Seu brilho casava com o bronze da pele e com o próprio cintilar dos olhos: um violeta vivo, líquido, cativante. Aqueles olhos exigiam absoluta atenção, direcionando os olhares para um rosto de ângulos perfeitos e cabelos roxos, curtos, coroado de orelhas longas, finas e élficas.

Valkaria esperou sua irmã terminar de corporizar, nem sequer procurando esconder a alegria boba que sentia.

"Pois é, eu sei que você é teimosa e disse que viria. É só que já fazia tanto tempo que não me visitava que pensei que, sei lá, ia arranjar alguma desculpa".

Sim, estava tentando incomodar a irmã – ela detestava quando duvidavam dela. Mas existia qualquer coisa de engraçado ao vê-la irritada. Seus olhos repuxavam, seu rosto fino parecia se afinar ainda mais, e as orelhas balançavam descontentes.
Mas Glórienn, a deusa dos elfos, não se incomodou. Pelo contrário! Ela abriu um sorriso bobo igual ao de Valkaria e caminhou até ela, como se nem tivesse ouvido.

"Por que eu criaria uma desculpa para não ver minha querida irmã?" falou em tom coquete, e logo em seguida continuou, "ora, vejo que você já começou os trabalhos sem mim".

"Oh", Valkaria observou a própria espada suja de sangue, "isso foram alguns gigantes de ferro, nada demais".

"Sempre apressada, não é, Valkaria? Não podia ter esperado a hora de eu chegar?".

"Ha, aí que se engana! Sempre é hora de aventura, Glórienn!".

A deusa dos elfos deu um sorriso, o escondendo atrás das mãos. Ao mesmo tempo, seus olhos piscaram divertidos para Valkaria, como num...convite? A deusa da ambição percebeu aquilo, mas fingiu-se de perdida. A deusa dos elfos voltou a indagar:

"E essas criaturas, esses gigantes de ferro, por acaso têm sangue?".

"Aqui, em meu mundo, claro que têm!", Valkaria abriu os braços, apontando para a paisagem em volta, repleta de montanhas ardilosas, florestas densas e rios bravios, "e não só eles têm sangue, como o sangue é quente como lava, e gruda em você até derreter teus ossos!".

"Ora, parece divertido", comentou Glórienn, esticando a mão e fazendo aparecer do nada um arco de prata com corda de ouro, "o que estamos esperando? Vamos para essa 'hora de aventura'". E, casualmente, a deusa dos elfos foi cantarolando através da mata fechada e perigosa. Valkaria, logo ficando para trás, correu a passos largos tentando alcançar a irmã.

Fazia muito tempo que Glórienn não visitava Odisseia, o mundo de Valkaria. Na verdade, fazia muito tempo que a deusa dos elfos estava distante, e fechada, e meio que incontatável. Desde que ela havia criado aqueles elfos dela, tem preferido ficar a sós com eles do que com seus próprios irmãos...ou mesmo com Valkaria.

"Então, irmã, me fala, como tem sido as coisas lá no seu planeta, Ninvenciuén?", perguntou a deusa da ambição, com muito esforço conseguindo emparelhar com Glórienn.

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