As presas do novo mundo

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"O mundo está se quebrando, de novo! Ninguém vê?", berrava o louco Tillian de Valkaria. Como sempre, ninguém o ouvia. 

Agarrou-se aos pés da estátua da deusa, os olhos arregalados, "impeçam! Vocês tem que impedir! Tudo irá se romper, tudo irá cair! Vocês tem que"... 


Uma presença rastejou atrás de sua mente, através de sua alma esmagada, e tapou-lhe o movimento dos lábios frenéticos. 

 "Calma, antigo irmão. Tudo terminará bem, como sempre há terminado" 

 Tillian percebeu a presença inextricável da Serpente sobre o todo de si. 

 "Você?! Não, saia. Você não mais existe, não assim, SAIA!" 

 "Assim magoa a mim, irmão antigo. O que é o tempo para o que pode ser lembrado? Mesmo estando distante há três mundos já passados, lembro-me da sutileza dos teus gritos". 

Tillian sentiu a Serpente esfacelar-lhe a consciência. Tentou gritar, mas nada saiu. Com sua voz maior que a própria força, a entidade continuou:

 "O Crepúsculo sem nome cai. Noite e Dia serão como um. E a Lua, em ovo, será maior que o Sol. Tudo como deveria sempre ser. Um novo mundo se arremete. Contemple o abrir de suas presas".


Na manhã seguinte, a cidade de Valkaria acordaria sem os gritos de Tillian. Seu corpo, dormente e seco, ostentava apenas olhos eternamente arregalados que se recusavam a se fechar mesmo em morte.

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